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Medicina Integrativa: contradição entre práticas antigas e dados científicos

As práticas de medicina integrativa são reconhecidas pelo SUS, mas não necessariamente são provadas cientificamente, o que causa confusão no paciente sobre o que é confiável
Medicina Integrativa: contradição entre práticas antigas e dados científicos
Por Isabella Gargano (bellagargano@usp.br)

De acordo com a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), 170 Estados membros da OMS (Organização Mundial de Saúde) reconhecem o uso da Medicina Tradicional e Complementar, apesar de uma grande parte dessas terapias não terem sua eficácia comprovada cientificamente. O campo não tão conhecido da saúde integrativa tem como princípio complementar o tratamento convencional e, assim, lidar não só com a doença, mas também com o paciente.

 Existem diversas vertentes medicinais. A medicina tradicional, por exemplo, é reconhecida pela OMS como saberes dos povos originários e nativos. Já a medicina conhecida como “alopática” é a convencional, que utiliza medicamentos para tratar doenças de forma a gerar o efeito contrário aos sintomas, a exemplo dos anti-inflamatórios e antiácidos.

A área de Medicina Tradicional Complementar e Integrativa (MTCI) utiliza práticas como acupuntura e homeopatia, que não só tratam os sintomas, como buscam promover o bem estar do doente, e é utilizada até mesmo em casos de prevenção. É um equívoco caracterizá-la como medicina alternativa, como é popularmente conhecida, visto que funciona como um complemento ao tratamento convencional e não uma opção alternativa.

Saúde integrativa no campo científico

Justamente para que a medicina integrativa se oponha ao antigo conceito de medicina alternativa, é necessária a abordagem científica dessas práticas. Em parceria com o BIREME/OPAS (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), o Consórcio  Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) vem desenvolvendo pesquisas para auxiliar o Ministério da Saúde a implementar a saúde integrativa como uma forma de tratamento cientificamente comprovado.

Em entrevista à Jornalismo Júnior, Ricardo Ghelman, médico graduado na UFRJ e presidente da CABSIN, conta que criou e fundou o consórcio com objetivo de formar uma rede de produção de estudos e pesquisas para a promoção da saúde integrativa de acordo com os parâmetros da ciência.

Existem lacunas no conhecimento quanto à medicina integrativa. Ela é muitas vezes criticada por especialistas da área da saúde como uma pseudociência. Atualmente, existe um grande incentivo monetário para pesquisas que buscam evidências científicas sobre os diferentes métodos. Nesse contexto, o CABSIN reúne mapas de evidências com intuito de apoiar profissionais de saúde, tomadores de decisão e pesquisadores na construção de ações de saúde baseadas em evidências.

Tabela CABSIN de Cliníca Homeopatia
Mapa da efetividade Clínica da Homeopatia, que demonstra em que áreas ela tem melhor efeito. [Imagem: Reprodução/ site da CABSIN]

Ricardo, ao ser perguntado qual é o limite do papel da medicina integrativa, procedeu em explicar que essa linha de pensamento coloca as PICs (Práticas Integrativas e Complementares) como uma medicina alternativa, quando, na verdade, o raciocínio é de somar as vertentes para obter o melhor resultado possível.

Saúde integrativa em prática como política nacional

A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) foi instalada no SUS (Sistema Único de Saúde) em maio de 2006 e atualizada em 2018, totalizando 29 práticas integrativas. A política tem o objetivo de promover a recuperação da saúde com ênfase no cuidado humanizado e de forma complementar ao modelo convencional.

Dentre Medicina Tradicional Chinesa, aromaterapia e Biodança, as práticas são muito variadas. Justamente nomes pouco conhecidos e inusitados causam dúvidas sobre o que efetivamente é uma prática com eficácia provada por dados concretos e o que não passa de uma crença popular.

Existem variações no grupo das PICs. Uma delas é a acupuntura, ramo da medicina tradicional chinesa que é comprovada cientificamente e reconhecida desde 1994 como especialidade médica. A USP (Universidade de São Paulo) até mesmo oferece residência da especialidade desde 2007. É importante destacar que, em 2012, o TRF (Tribunal Federal Regional) decidiu que a prática da acupuntura é exclusiva para médicos.

A acupuntura leva em consideração o diagnóstico da medicina convencional, utilizando remédios alopáticos em conjunto com o diagnóstico oriental para escolher os pontos. Estes coincidem com terminações nervosas do corpo que, ao serem estimuladas pelas agulhas, liberam substâncias químicas que auxiliam no alívio de inflamações e outros males.

Corpo humano acupuntura
Pontos das agulhas da acupuntura desenhados em uma representação humanóide. [Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons]

Homeopatia é a outra PIC que foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como especialidade médica, em 1980. A farmácia homeopática utiliza do princípio da cura pelo semelhante, em que uma substância do reino vegetal, animal ou mineral presente no remédio produz um sintoma similar à doença, quase como a forma que a vacina e o placebo funcionam.

É importante evidenciar alguns conceitos importantes sobre a homeopatia que são comumente distorcidos. Por exemplo, o uso de ervas e chás não se trata de homeopatia, e sim de fitoterapia. Pode-se ressaltar também que a clínica é o ponto central da prática: a partir da análise do clínico geral, são detectadas as peculiaridades do quadro do paciente em ordem de ser medicado.

As demais práticas disponíveis na rede de saúde pública até o momento não possuem pesquisas relevantes que comprovem sua eficácia. Assim, não são reconhecidas pelos órgãos de medicina. Sua constatação de que funcionam não vai além do valor de crença e experiências subjetivas de pacientes.

Rafaela Neman, médica geriatra formada pela FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP), conta que não é necessariamente contra a utilização dessas práticas, mas que, como especialista da saúde, é contra a recomendação destas com a garantia de que seriam efetivas para o tratamento da doença do paciente.

Apesar de ser uma médica que não adere a tal saúde integrativa, Rafaela explica sobre como se posicionar diante de um paciente que deseja utilizar uma dessas práticas. Para ela, contanto que esteja associada ao tratamento o qual recomenda, que seja baseado em estudo científico, não há problemas.

“Muitas vezes a pessoa me pergunta o que eu acho disso [alguma PIC não provada pela Ciência]. E aí eu digo: ‘eu acho que isso não serve para nada, não existe estudo científico relevante atualmente que comprove que essa terapia que você quer fazer tenha resultados nesse problema que você está tratando’”.

Cuidados paliativos 

Algo em comum que os entrevistados citaram foi o uso de técnicas da medicina integrativa em pacientes com câncer que estavam sob cuidados paliativos.

Rafaela conta que o único contato que teve com a medicina integrativa durante sua formação como profissional foi durante sua residência em geriatria, em que alguns médicos praticavam acupuntura para melhorar a terapia de pacientes em cuidados paliativos.

Em 2017, o Instituto da Criança (ICr) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) deu início a um projeto com implantação da Oncologia Integrativa no ITACI (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil), apresentado por Ricardo Ghelman.

Em palestra realizada no Hospital Oswaldo Cruz, ministrada pelo oncologista Dr. Thomas Breitkreuz, foi explicado que, especialmente no tratamento do câncer, a medicina complementar busca ajudar a melhorar a qualidade de vida do paciente, como, por exemplo, na educação nutricional e atividade física durante a quimioterapia.

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