Com muita intimidade, no dia do polêmico feriado da “Revolução” de 32, o Sesc Pompeia trouxe para a capital paulista o ótimo show de Mestre Anderson Miguel interpretando “Sonorosa”, seu álbum de estreia. Acompanhado de Siba, seu produtor, que além de tocar guitarra, deu uma palinha nos vocais. Aliás, todo mundo no palco cantou, até Jorge dü Peixe, vocalista do Nação Zumbi, que participou em No Hoje e Na Hora e gostou tanto da ciranda que voltou algumas vezes para o microfone. Na toada do maracatu rural, todos, eu inclusive, pularam na antiga fabriqueta da Zona Oeste.
Mestre da ciranda, levou-nos para conhecer Nazaré da Mata, pequena cidade do Pernambuco, da qual o músico é originário. Mostrou-nos que as culturas e tradições do campo ainda tem seu lugar merecido, mesmo com os ataques ferozes a esses espaços que vêm acontecendo. Um contraste bonito com a vida corrida e mecanizada de São Paulo, onde os jogos de luzes sobre o palco faziam o papel de natureza.
Ao ouvir Anderson cantar sobre a Natureza Maltratada, lembrei dos pássaros e palmeiras do meu cerrado, que é um bocado longe da Zona da Mata pernambucana, porém simbolicamente equivalente. As letras bem poéticas e às vezes melancólicas tinham o contraponto do trio de metais, convocado pelo apito de Anderson, que levantava também a audiência.
Público que foi à loucura ao som de O Cirandeiro, do qual originalmente participa a diva Juçara Marçal. De qualquer maneira, o mestre sozinho carregou a canção com facilidade e carisma. A história sobre a boemia no campo tornando-se paixão, cativa em sua simplicidade, e consegue a identificação daqueles que dançam ao som da rápida percussão. Música que aliviou até meu lado desastrado enquanto me equilibrava entre um pulo e outro.
Com a chegada de Jorge dü Peixe, o ritmo já frenético, acelerou-se ainda mais. No Hoje e Na Hora, ao discorrer sobre a superficialidade da memória, ressalta a importância de viver o agora. A voz grave do vocalista do Nação Zumbi dá peso a composição e se completa com a voz de tenor do cirandeiro. Intensidade demarcada pela espessa linha de baixo que ressoava pelas paredes de tijolos do Sesc.
A guitarra de Siba costurava, precisa, entre as harmonias no momento em que Anderson anunciava, já com saudades, o fim do show. Em meio a euforia generalizada o jovem mestre seduzia o público. Sedução que começou já em Sonorosa, quando versava sobre sua paixão pela música de roda. Contudo, ao acabar sua despedida em É hora, logo revelou que esse final era falso.
Ao fim de seu repertório, o espetáculo continuou com músicas de Siba. Anderson cantava junto, mas se dava ao luxo de descer para a plateia e dançar com o público, sempre que entregava os vocais ao veterano do maracatu. O mestre franzino provou o título que carrega, apesar de sua meninez, a mim e a todos presentes, ao tomar São Paulo para si.
Por Pedro Teixeira
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