Ricky Hiraoka
Kate Winslet é dotada de um talento ímpar que a faz,sem sombra de dúvida, a maior atriz de sua geração. Ela consegue encarnar as mais variadas personagens sem nunca se repetir e, sempre, é muito verossímil. Essas habilidades podem ser conferidas em O Leitor (The Reader), que estreia nessa sexta-feira. Através de olhares, entonações nos diálogos e gestos minimalistas, a atriz constrói uma mulher que expressa uma dureza nos olhos e possui uma sensualidade fria. Winslet é capaz de antecipar o que Hanna esconde ou o que ela enfrentará com um olhar desviado ou uma mão que, repentinamente, vai a nuca como se quisesse disfarçar alguma coisa.
A indicação ao Oscar de Melhor Atriz por esse papel é merecida, mas ela também deveria concorrer por Foi Apenas Um Sonho. Apesar de apresentar uma performance formidável em O Leitor, Winslet é prejudicada pela natureza de sua personagem. Dificilmente, a ala judia da Academia reconhecerá seu trabalho uma vez que ela interpreta uma guarda nazista que não se sente culpada pelas mortes cometidas pelo Reich de Hitler. Graças a um fortíssimo lobby, os membros judeus da Academia já conseguiram tirar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de Paradise Now, uma produção palestina, e com Winslet poderá acontecer o mesmo, o que beneficiará ou Anne Hathaway (O Casamento de Rachel) ou Meryl Streep (Dúvida).
Ambientado na Alemanha pós-guerra, O Leitor narra o envolvimento sexual de Hanna Schimitz, uma ex-guarda nazista de 36 anos, com o adolescente Michael. Todo encontro desse improvável casal segue um estranho ritual: primeiro, tomam banho, depois, Michael lê algum romance para Hannna e, em seguida, fazem sexo. O tórrido romance dura apenas um verão e acaba devido ao sumiço repentino de Hanna. Anos mais tarde, quando já está cursando Direito, Michael reencontra Hanna. Mas o destino os coloca de lados opostos. Hanna está sendo julgada por ter trabalhado num campo de concentração durante a 2° Guerra Mundial e Michael é convocado por um de seus professores para acompanhar o julgamento. Trabalhar para os nazistas, porém, não é o único segredo guardado por Hanna. Ela esconde outro detalhe de sua vida que determinará seu destino.
Rever a ex-amante faz Michael sentir novamente sentimentos que há tempos estavam enterrados e provoca dúvidas a respeito de quem merece ser punido pelos crimes dos nazistas. Só os participantes ativos do massacre dos judeus devem sofrer um castigo ou aqueles que foram omissos em relação a matança também merece uma punição? Essa questão ainda é fonte de polêmica e, dificilmente, uma resposta satisfatória será encontrada.
É bom deixar claro que O Leitor não pretende polemizar, nem discutir tal assunto. O filme apenas retrata brilhantemente como o sentimento de culpa causado pelo Holocausto ainda é refletido no cotidiano e nas atitudes dos alemães.