Marcia Scapaticio
A produção de representação social ou de não-ficção é associada a reflexões e ao despertar de questões sobre o tema abordado. Nada é exposto aos nossos olhos e mentes impunemente; inerente ao processo visual está a “voz” do cineasta, responsável pelo carinho especial com que tratamos o documentário.Como consequência é próprio ao gênero o posicionamento, a defesa de uma causa ou fato através da apresentação de um argumento. Forma-se um conjunto unido por uma retórica que direciona e conduz o desenvolvimento da narrativa.
A voz é o modo como tal argumentação se estabelece e interage com as imagens, sempre orientadas pela visão especial do responsável pela obra e com a intenção de atrair as opiniões mais diversas. Segundo alguns teóricos, a tradição documental não foi construída de forma premeditada; ninguém inventou o gênero como conhecemos hoje, sua história se formou através da vontade de escritores e cineastas ansiosos pela possibilidade de trabalhar com diferentes formas de construção cinematográfica.
Os documentaristas dividem entre eles e o público a chance de representar o mundo histórico em vez de criar representações alternativas ao nosso cotidiano. Há uma partilha de incertezas e problemas que divergem entre si, mas se tornam comuns e causam a identificação entre a obra e a audiência. A realidade é cúmplice da tela, fato que propicia o estabelecimento de relações eticamente válidas, criadoras de um público específico que, por vezes, diferencia-se do público cativo do cinema de ficção ou de desejos.
O documentário mantém-se ativo graças à sua voz e aos ouvidos dos espectadores que internalizam a discussão do tema e a sua mensagem, direta ou indiretamente proposta.