Por Aline Noronha (alinenoronha@usp.br)
Neste ano, não haverá Natal – ao menos não como é conhecido popularmente. Desta vez, serão as crianças malvadas que receberão presentes para serem punidas eternamente. Isso é o que Jack O’Malley (Chris Evans) e Callum Drift (Dwayne Johnson, The Rock) tentam evitar após o sequestro do Papai Noel no filme Operação Natal (Red One, 2024). Na exímia comédia que já está nos cinemas, o Natal pode ser arruinado repentinamente por uma vilã metamorfa que busca ressignificar essa data.
O protagonista Jack O’Malley é um mercenário que hackeia pessoas e informações na web em troca de dinheiro. Tudo estava normal em mais um de seus trabalhos para clientes secretos, até que a chefona do mundo mitológico, Zoe (Lucy Liu), o sequestra e o coloca a par do desaparecimento do Papai Noel. Contrariado por não acreditar plenamente nessa fantasia natalina, Jack entra nessa missão com o intimidador Callum, agente da E.L.F. (Extremamente Grande e Fortão) – o sistema de segurança e logística do Polo Norte.
Sob a direção de Jake Kasdan, Operação Natal é uma comédia com ação que busca de um jeito inusitado relembrar o espírito natalino aos personagens desacreditados, mas também ao público. Por meio de bom humor e resoluções de conflitos surpreendentes, o telespectador desde o início mergulha em um universo mágico, onde fantasia e realidade são separados apenas por uma linha tênue.
O Natal nunca foi tão descolado
O filme utiliza clichês comuns na construção do herói e do anti-herói. O primeiro é Cal, um personagem sério, comprometido com a missão e com habilidades físicas invejáveis, que estava desacreditado no espírito fraternal do mundo e queria sair do emprego por isso. Já Jack é um personagem de humor duvidoso e irônico que não consegue ver seu próprio potencial e, desde a infância não acreditava em Papai Noel (ou Das Neves, que é o seu codinome dublado).
Se existem clichês é por um motivo: eles funcionam, e em Operação Natal não foi diferente. Na história, há uma inversão das opiniões comuns, o que é estranho é não acreditar na mística em torno deste feriado, com suas renas voadoras e sua magia tão presente no imaginário infantil. O Das Neves realmente visita cada casa do mundo em 24 horas, entregando os presentes desejados pelas crianças e, no caminho, brinquedos como carrinhos da Hot Wheels e robôs podem se tornar verdadeiras armas de combate.
Além de reforçar as tradições natalinas, o filme oferece um toque de criatividade ao mostrar que o Papai Noel é um idoso que treina frequentemente para entregar presentes em grande estilo – ele desce do trenó em rapel e pula de chaminé em chaminé. Também evidencia a fábrica sistematizada no Polo Norte, onde cada presente é feito de forma personalizada e os trabalhadores, elfos e não duendes, são divididos entre funções específicas, como o especialista em fazer laços.
Mais uma vez, Chris Evans e Dwayne Johnson entregaram uma atuação de alto nível, autêntica e natural que pôde dar vida aos seus personagens, juntamente com veracidade para tudo que estava acontecendo, desse modo, trazendo o público para dentro do mundo representado de modo rápido. A mistura entre elementos reais e animações cinematográficas (por exemplo, em faunos e no urso polar Garcia), traz o ar fantástico do filme e, com isso, a sensação de imprevisibilidade que fisga a atenção do telespectador.
Para entrar no clima natalino em novembro
Com o passar do tempo de tela, o longa busca reforçar a ideia do emocionante primeiro diálogo de Cal e Das Neves: todos os dias, as escolhas pequenas e grandes são possibilidades de ser uma boa pessoa. Pelo anseio de recuperar a fé nas relações humanas, o arco dos personagens se desenvolve a cada desafio e aprendizado que são submetidos.
Jack percebe a importância de suas ações e da magia em acreditar na bondade como um estilo de vida. Ao notar que o mundo ainda pode ser um lugar melhor (e o Natal contribui efetivamente para isso), Cal, que havia perdido a sensibilidade de ver a criança interior nos adultos, recupera o seu dom e por consequência seu desejo de continuar protegendo o Das Neves.
Por ser uma produção norte-americana, a alfinetada na China não poderia faltar. Quando o Papai Noel visita as casas, ele come todos os biscoitos, mas o desse país especificamente ele pega e em seguida coloca novamente no prato através de um movimento sutil que pode passar despercebido. Já quando o vermelhinho passa pelo Brasil, o estereótipo nacional é fortalecido com o Cristo Redentor e o presente da criança sendo uma bola de futebol.
Apesar de recuperar a ótica infantil, a classificação indicativa para maiores de 12 anos deve ser respeitada. Os efeitos especiais para representar vilões e as cenas de ação exploram o terror e são inadequados para crianças.
O filme cumpre sua proposta como entretenimento e produto de maneira eficiente, durante um pouco mais de duas horas o público é surpreendido ao ver que os seus pensamentos de sua infância estão em um telão. Só que dessa vez, com pitadas de ironia e a promessa de que a vida adulta pode ser melhor por meio da empatia, bondade e fraternidade.
Operação Natal já está nos cinemas. Confira o trailer:
Imagem de capa: Divulgação/Warner Bros