Uma animação dirigida por Karey Kirkpatrick, Pé Pequeno (Smallfoot, 2018) surpreende o público trazendo além de criaturas fofas e músicas contagiantes, uma crítica ao dogmatismo e ao preconceito. E tudo isso é feito de uma forma diferente da usual, por buscar ao longo da narrativa apresentar sempre os dois lados de um conflito, criando uma certa empatia e compreensão por parte do espectador com os personagens.
O longa conta a história de ietis — pé-grandes —, os quais viviam em uma comunidade localizada no topo de uma montanha. Um aspecto importante é que suas vidas eram muito baseadas em rígidas leis e crenças escritas em pedras protegidas por um guardião.
Os problemas começam quando Mimo — um dos ietis — passa a questionar as normas ali impostas, afinal, ele afirmava ter visto um humano, apesar de as pedras negarem sua existência. Sim, aqui o mito muda de perspectiva. O protagonista é acusado de estar mentindo e é expulso da vila. Assim, ele decide se arriscar e embarcar em uma aventura para provar que estava sendo sincero durante todo o tempo.
Como citado, o aspecto que mais chama a atenção é a forma como o filme consegue unir o universo infantil com o adulto. Em meio a desenhos lindos e cheios de cor, são ensinadas coisas como: seja íntegro e curioso; o conhecimento é importante. Algo característico de produções mais voltadas às crianças. Ainda, existem em alguns momentos piadas sobre hábitos da sociedade atual, como jogar Candy Crush, e o questionamento acerca do dogmatismo ronda toda a narrativa.
Além disso, o enredo coeso colabora para o deleite do público. Ao final, tudo se encaixa e vários aspectos curiosos da vila dos pé-grandes têm suas razões explicadas de forma muito lógica e até impressionante.
Vale ressaltar o quão sábio foi o uso das cores. Exemplo disso é que, quando está tudo normal na vila, o ambiente é colorido, passando a impressão de alegria; entretanto, no momento em que Mimo é expulso da aldeia, os tons se escurecem dando a sensação de tristeza e solidão.
Outro fator que chama a atenção são as músicas presentes na produção. As vozes são afinadas e harmoniosas, além do fato de as letras serem bem pensadas, se encaixando perfeitamente em cada parte da história. Há, inclusive, um rap no meio do repertório musical. Certamente, elas agradarão as crianças, apesar de não terem a característica de músicas-chiclete.
Logo, as músicas, a estética e o roteiro colaboram para que o longa seja encantador para os amantes de animações infantis, e minimamente divertido para quem só está acompanhando uma criança. Isso não ocorreu por acaso, afinal, unir duas faixas etárias tão distintas é uma tarefa difícil, a qual precisa ser pensada com cautela. Aqui, a missão, então, é cumprida com sucesso, e ao término do filme todos sairão com o coração cheio de esperança por um mundo onde o preconceito e o medo não impedem a convivência harmoniosa entre as diferenças — uma ideia um tanto reconfortante na atualidade.
Confira o trailer dessa aventura pelo Himalaia:
por Mayumi Yamasaki
mayumiyamasaki@usp.br