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‘Perfeita (na teoria)’: Conheça a comédia romântica clichê (e moderna) de Sophie Gonzales

Lançamento da Companhia das Letras apresenta adolescentes com problemáticas reais, clube de debate queer, passeio na Disney e orgulho bi

“Só eu conheço meu segredo.

Ou só eu conhecia, pelo menos. Até este preciso instante.”

Perfeita (na teoria), Sophie Gonzales

Darcy Phillips tem um segredo: ela é a entidade misteriosa que dá soluções românticas para os alunos que deixam bilhetes pela fresta do armário 89. A protagonista de Perfeita (na teoria) (Seguinte, 2023) recolhe as cartas depois da aula, e envia e-mails com conselhos amorosos para os anônimos que pagam dez dólares pela sua ajuda. Ela também sofre de um amor não correspondido por Brooke Nguyen, sua melhor amiga, e faz análises minuciosas de cada interação que as duas têm, obcecada em busca de um sinal de que a amiga retribui sua paixão. 

Darcy guardava muito bem o segredo do armário, até ser flagrada por Alexander Brougham, um atleta de natação da escola, enquanto recolhia as cartas do dia. Alexander precisava da ajuda da pessoa por trás do armário para reconquistar sua ex-namorada. Darcy precisava manter o seu segredo. Então, eles fizeram um acordo. 

Darcy e o armário

O armário 89 nasceu quando Darcy estava no início do nono ano. Inicialmente, ela não cobrava nada — e, depois do primeiro conselho, a fofoca sobre o armário misterioso que trazia soluções para problemas de relacionamento se espalhou. Bastava colocar uma carta e um endereço de e-mail para receber uma resposta que certamente resolveria todos os problemas românticos do destinatário. Quando passou a cobrar, Darcy instituiu uma política de devolução do dinheiro caso o conselho não surtisse o efeito desejado.

“Honestamente, eu não sabia se queria sentir a emoção de ajudar os outros ou simplesmente de testar as teorias com as pessoas para ver se tinham base na realidade.

 Talvez fosse um pouco das duas coisas.”

Depois que a fofoca sobre os conselhos se espalhou, Darcy passou a receber muitas cartas, e a acertar quase todas as vezes. Com base em teorias das coaches de relacionamento que assistia no YouTube, a protagonista redigia respostas elaboradas, geralmente com uma explicação do arcabouço teórico que estava sendo levado em conta e algumas sugestões para os apaixonados em apuros.

No começo de alguns capítulos, estão dispostas cartas recebidas pelo armário e seus respectivos e-mails de resposta, o que permite que o leitor tenha um entendimento mais profundo sobre as teorias que Darcy menciona ao longo do livro, como os tipos de apego

Darcy e as relações

A protagonista não usa suas teorias somente para dar conselhos, mas também para melhorar suas relações pessoais, como a relação que tem com a irmã, Ainsley, e com a própria Brooke. Darcy é rápida para identificar os sentimentos delas, e formula teorias e planos de ação para encontrar sempre a melhor resposta. 

“Aí chegamos na rua. Brooke parou. Eu parei.

E ela imediatamente caiu no choro, segurando meu braço com as duas mãos, como se precisasse de ajuda para ficar de pé. Então eu a segurei, e a ajudei a se manter de pé.”

Com Alexander não é diferente. Darcy utiliza as análises que fez sobre ele para lidar com momentos delicados e encontrar meios de não alimentar as inseguranças do atleta. 

Floresceu, entre eles, uma amizade recheada de honestidade e momentos dignos de filme. Brougham e Darcy compartilham segredos que não compartilhavam com mais ninguém, e a dinâmica dos dois é muito bem trabalhada ao longo dos capítulos. A relação evolui de forma natural e leve, eles vão de desconhecidos para inimigos e, enfim, amigos — que talvez tenham interesse em ir além da amizade.

“Embora eu não fosse com a cara de Brougham, até que era legal me abrir para alguém. Dois anos e meio era muito tempo para guardar um segredo.”

Assistir as relações de Darcy se construindo, tanto com seus amigos, quanto com seus possíveis interesses românticos, é uma experiência de deixar o coração ora quentinho, ora acelerado.  

Darcy e Darcy

https://www.instagram.com/p/CqN1Og2rC1H/

Mesmo em momentos complicados e cheios de tensões, a leitura continua fluida e segredos revelados trazem à tona uma faceta importante da vida de Darcy: a relação dela consigo mesma, sua própria sexualidade e também sua família.

Em um dos encontros do clube Queer & Questionador — grupo de alunos do qual Darcy e Brooke fazem parte — , Darcy revela sentir medo de se relacionar com um homem hétero e deixar de ser considerada parte da comunidade queer, iniciando um debate sobre o apagamento bissexual e a bifobia internalizada.

No Q&Q, os alunos são convidados a conversar sobre diversas questões de suas próprias vivências como indivíduos queer. A cada reunião, eles fazem uma chuva de ideias para definir as pautas do dia e uma roda de atualizações, onde falam sobre como estão as coisas em casa, na escola, com os outros colegas, e sobre assuntos relacionados às suas sexualidades. 

Ao longo do livro, Darcy passa por processos intensos para recuperar a confiança das pessoas que ama e se abrir para um amor inesperado. 

“Minha esperança é que esta história chegue a alguém que precisa dela. Que se veja nestes personagens e no que eles enfrentam. Que talvez saia da leitura com uma pontada nova de compreensão a respeito de si, e de por que sente o que sente.”

Agradecimentos de Perfeita (na teoria), Sophie Gonzales

Perfeita (na teoria), da australiana Sophie Gonzales, é um clichê adolescente cheio de reviravoltas e representatividade, com personagens complexos e jornadas de autoconhecimento e autoaceitação que merecem ser lidas. 

Foto de capa: Arquivo Pessoal / Yasmin Brussulo

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