Guilherme Dearo
O cinema se transforma num grande estádio. Não há espectadores, mas sim torcedores fanáticos e fiéis. A atmosfera é familiar e intimista, afinal, todos estão ali por uma única razão: são corintianos e vieram extravasar, dessa vez no escurinho do cinema, sua paixão pelo Corinthians.
“Fiel”, documentário com estreia marcada para o próximo dia 10 nos cinemas brasileiros, foi dirigido por Andrea Pasquini (“Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, “A História Real” e “Sempre no meu Coração”) e leva roteiro de Serginho Groismann e Marcelo Rubens Paiva. Produzido pela G7 Cinema, experiente em documentários sobre futebol, o filme é um presente para a torcida na opinião de Andrés Sanchez, presidente do clube: “A grande diferença do Corinthians é a torcida. É ela que estará no filme”.
O documentário mistura depoimentos, imagens de jogos e cenas do universo corintiano. Neste, a câmera aparece baixa, tremida, acompanhando os passos, adentrando o Pacaembu por entre os milhares de torcedores, como se fosse mais um deles; se infiltra na torcida, pulando na arquibancada junto com a Fiel, recebendo empurrões, trombadas, sentindo toda a energia ali presente.
Além disso, é uma câmera intimista, que se fecha em cada expressão, de alegria e tristeza: no riso, no beijo, na boca escancarada que faz juras de amor ao time, no olhar compenetrado da criança, nas lágrimas que escorrem sem vergonha.
O filme consegue captar o que é A Fiel e o que é ser fiel e Fiel em cada depoimento, que juntos constroem como o Corinthians está presente na vida de cada torcedor: no casal que a paixão ao clube uniu, no amor entre pai e filho, nos amigos que se unem a cada fim-de-semana. Tudo isso com muita paixão, razão e emoção, superstições, rituais, crenças, símbolos – da tatuagem nas costas ao beijo no escudo alvinegro.
Razão de ser Fiel
A razão de ser do filme e seu conseqüente mérito é tornar concreto aquilo que já era falado há tempos pela maioria dos corintianos, inclusive pelo presidente do clube: a queda para a segunda divisão – e depois o retorno à elite – não pode ser esquecida, apagada da história. Deve, sim, ser lembrada por muitas gerações, para que o clube construa a sua história de tristezas e alegrias – mais alegrias do que tristezas – como toda pessoa normal, do povo, sua fiel torcida.
Fiel não tem pretensões artísticas, não quer ser um documentário premiado. Quer, sim, somente ser ele mesmo: gritos, choros, paixões, felicidades, lágrimas, sorrisos.
O documentário não revela bastidores da queda, em nenhum momento chega a discutir os motivos do rebaixamento ou a polêmica parceria envolvendo a MSI. Estes aparecem brevemente em depoimentos de alguns torcedores. Também há poucas imagens inéditas, a maioria de jogos transmitidos pela televisão.
De novas imagens, somente os depoimentos de torcedores. Mas o espectador com certeza já ouviu discurso similar de seus amigos corintianos. Além disso, Fiel não veio para dizer a todos que a torcida corintiana é fiel ou para convencer a todos de que ela era fiel. Isso todo mundo sempre soube.
“Qual a validade de um documentário que não traz quase nada de novo e só constata o óbvio? Veio pra ser o quê, redundante?”, perguntariam…
“O amor nunca é redundante”, eu responderia.
Fiel (Brasil, 2009)
Roteiro: Serginho Groismann e Marcelo Rubens Paiva
Direção: Andréa Pasquini
Cor, 92 min