Jornalismo Júnior

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Por que o sexo ainda choca? 

O prazer gerado pela prática sexual faz parte da vida humana, entretanto, é um dos assuntos conhecidos como tabu da nossa sociedade, quais os perigos disso? 

“Assim disseminado na cultura e nas relações humanas, o sexo é parte essencial da existência e as pessoas estão sempre aprendendo algo a seu respeito. Falar ou reprimir o sexo podem ser formas de aprender algo sobre ele e sobre o modo como participa da vida humana”

Pedro Fernando da Silva, doutor em psicologia social.

Sexo é um substantivo masculino e sua origem vem do latim com a palavra sexus. Segundo o dicionário Oxford Languages, significa: “nos animais, incluindo os seres humanos, conjunto das características que diferenciam, numa espécie, os machos e as fêmeas e que lhes permitem reproduzir-se”. Ou seja, o termo sexo pode caracterizar os orgãos genitais e também, o processo reprodutivo. A prática sexual pode melhorar diversos aspectos da vida de seus praticantes, como por exemplo, ajudar o cérebro a envelhecer melhor e revigorar o humor. Durante o ato sexual, é liberado o hormônio do prazer, a endorfina, que melhora o ânimo dos envolvidos. Além disso, a prática sexual funciona como uma proteção cardiovascular, visto que é um exercício moderado, e amplia o sistema imunológico. 

Entretanto, embora o sexo tenha muitos benefícios e seja algo natural da vida humana, uma vez que praticamente todas as pessoas irão realizá-lo, ainda é tabu na nossa sociedade. Portanto, é preciso entender os perigosos que essa falta de esclarecimento sobre as relações sexuais causou e ainda pode causar no mundo. 

Prazer e poder

Para analisar as origens desse tabu é necessário considerar os diversos aspectos envolvidos no ato sexual, principalmente o prazer e o poder. O sexo, devido aos hormônios que ele libera, gera um êxtase e por isso, não é só visto como um mero processo reprodutivo. Mayra Blaz, veterinária, enfermeira e membro da comunidade BDSM do Brasil, afirma que os seres humanos não são os únicos animais que sentem prazer no ato. No entanto, o homem utiliza da prática sexual como uma maneira de garantir poder. 

“Ao longo da história, diversas sociedades usaram desse poder do sexo para controlar pessoas. A partir do momento que nós, humanos, descobrimos que é necessário um macho para a fêmea ficar grávida, ter os filhotes, a sexualidade feminina foi controlada”, conta Mayra. Um exemplo dessa maneira de controle, utilizada por diversas religiões, foi a necessidade da mulher precisar se manter virgem até o casamento. Muitas delas não tinham qualquer instrução de como seria sua noite de núpcias e ficaram à mercê do futuro marido, abrindo espaços para abusos que poderiam surgir pela falta de conhecimento. De acordo com a jornalista que aborda a sexualidade, Joelle Marie Declercq, uma outra questão que alimenta essa ideia de que a mulher deve se manter virgem é a visão cristã que “enxerga as mulheres como uma extensão da Virgem Maria e é criada toda uma atmosfera de culpa em torno da sexualidade feminina”. Essa dualidade ficou mais evidente durante a Era Vitoriana (1937 -1901) com o conceito de Moral Vitoriana, que defendia a repressão do sexo por prazer. Isso fez com que a sexualidade fosse escondida, pois era considerada pecado, luxúria, para as igrejas, uma das propagadoras centrais dos pensamentos da população desse período. 

“O sexo é mantido como tabu sobretudo quando representa uma indagação sobre os limites da liberdade sexual estabelecida, quando sua expressão confere voz a uma diversidade de modos de prazer e de ser que não se adaptam à forma e aos usos do sexo socialmente estabelecidos de acordo com o que é conveniente à manutenção de uma dada ordem social” 

Pedro Fernando da Silva, doutor em psicologia social

Todavia, isso não fez com que as práticas sexuais, para fins não reprodutivos e fora do casamento, acabassem. Na verdade, a repressão gerou mais casas de prostituição e uma maior objetificação do corpo feminino. Segundo Mayra, ao reprimir a sexualidade, cria-se um ambiente em que, por um lado, o sexo vira um tabu e, por outro, é hiper explorado. Dessa forma, a ideia de que a prática sexual era algo pecaminoso criou um ambiente mais propício para que o sexo fosse comercializado e para que homens pudessem estabelecer, novamente, um poder sob os corpos femininos. Inclusive, durante a Antiguidade Clássica (VIII a.C – V d.C), os homens eram muito mais respeitados quando mantinham relações com outros homens do que com mulheres, vistas como inferiores. Dessa forma, esse tabu com o ato sexual repercutiu durante anos, dominantemente entre as meninas, e gerou uma diferença de tratamento entre homens e mulheres. Para Mayra, isso é um efeito muito mais social do que biológico. 

Homens e mulheres

O sexo é tratado de maneira diferente entre os homens e as mulheres. “Homens têm direito de exercer sua sexualidade de maneira livre, mulheres não”, afirma a profissional com dupla titulação em saúde. Como já foi analisado na Antiguidade Clássica, o sexo para mulheres tinha apenas o fim reprodutivo, enquanto para homens visava o prazer. De acordo com Pedro Fernando da Silva, psicólogo e doutor em psicologia social, o sexo somente é tratado de maneira diferente para homens e para mulheres porque a dominação que se exerceu sobre a mulheres ainda não foi superada. Em 2017, uma pesquisa sobre sexualidade, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, provou que mais da metade das mulheres brasileiras nunca atingiram um orgasmo durante uma relação sexual. Entretanto, o clitóris, órgão responsável pelo prazer feminino, tem mais 8 mil terminações nervosas, sendo muito mais facilmente estimulado do que o órgão masculino com cerca de 4 mil. Em consonância com a declaração de Mayra de que o sexo como tabu é gerado por algo muito mais social do que biológico.

Por que o sexo ainda choca?
Para 95,3% dos brasileiros, o sexo é importante ou muito importante para a harmonia do casal [Imagem: Reprodução/Pexels]

Por pressão familiar e das igrejas, muitas meninas sequer conhecem o próprio corpo ou têm controle sobre ele antes de entrarem em uma relação sexual, uma vez que até a masturbação era condenada por muitas religiões. De acordo com os dados levantados pelo relatório anual do Fundo de Populações das Nações Unidas, em 2021, 45% das mulheres não possuíam autonomia sobre o próprio corpo. Ou seja, não poderiam fazer uso de anticoncepcionais ou decidir se queriam ou não manter relações com seu parceiro. 

A prostituição, conhecida por ser uma profissão majoritariamente feminina, permite que exista uma diferenciação na maneira como o sexo é tratado para homens e para mulheres. Ela é considerada o trabalho mais antigo do mundo e, embora ela tenha ajudado muitas mulheres a conquistarem certa independência financeira, ela também foi uma das principais responsáveis pela objetificação dos corpos femininos. Durante muitos anos, os homens começaram sua vida sexual comprando essas mulheres para seus prazeres

De acordo com uma pesquisa de dois anos realizada pela Universidade de Vigo, 90% dos entrevistados consideram as relações pagas uma necessidade. Ainda segundo o estudo, o que eles valorizam na relação é o fato de que não é preciso criar um afeto com a mulher para transar. Logo, é possível afirmar que a maioria dos entrevistados busca apenas saciar seus desejos. Esse pensamento pode alimentar a ideia de que a mulher serve somente como uma válvula de escape dos hormônios masculinos. 

A pesquisa também relatou que 80% dos entrevistados tinham uma esposa ou namorada, mas sentiam a necessidade de procurar a prostituição por buscarem uma parceira que fizesse suas vontades quando eles quisessem. De acordo com a socióloga responsável pelo estudo, Silvia Perez Freire, eles compartilhavam da ideia machista de dominância masculina. Além disso, a pesquisa indica que a prostituição é para eles um ato tão comum quanto um jantar de negócios. Toda essa relação com a prática mais antiga do mundo prova que a sexualidade feminina foi e continua sendo abafada pelo predomínio de pensamentos que tratam a mulher como submissa.

“A questão é que se, por um lado, o sexo pode ser aceito inclusive como conteúdo conveniente à venda de mercadorias e à mobilização do interesse por produtos culturais pouco voltados para a discussão sobre a autonomia; de outro, elementos relacionados ao sexo são considerados altamente subversivos, pois implicam modos de reconhecimento e de afirmação do prazer e da liberdade de experimentá-lo que contradizem os padrões morais estabelecidos, descumprindo a função que o sexo submetido aos fins aceitos possui.” 

Pedro Fernando da Silva, doutor em psicologia social

Essa maneira de pensar as relações sexuais entre os dois gêneros se perpetuou. Para muitas mulheres, ainda hoje, o sexo não é prazeroso e só é feito com a intenção de gerar filhos, uma vez que os homens buscam essa dominância masculina e ignoram as vontades femininas. Já para alguns homens, é obrigação da mulher transar quando ele desejar, assim como na prostituição, demonstrando os efeitos das raízes históricas da sexualidade. Em uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará, com adolescentes entre 15 e 18 anos, os meninos já acreditavam que os homens têm instintos sexuais mais fortes e, por isso, podem agir mais depravadamente. Esse pensamento alimenta o contágio de doenças, a cultura de estupro e a violência contra a mulher, como será exposto mais a frente. 

Além disso, essa ideia de que o homem sente mais desejos carnais do que as mulheres pode influenciar em abusos contra os homens também, uma vez que o masculino é sempre colocado na obrigação de desejar ter relações. Esse julgamento está ligado ao machismo e não considera que o homem também pode estar expostos aos estupros por parte das mulheres, mesmo que em número muito menor do que os sofridos pelo sexo feminino. 

Os perigos do tabu

Segundo a OMS, mais de um 1 milhão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são contraídas todos os dias. Por ano, 80 milhões de gestações não são intencionais. Dessa forma, a falta de conhecimento sobre as práticas sexuais saudáveis, ocasionam no sentimento de vergonha ao  falar sobre sexo e a exposição cada vez maior à gravidez não planejada e às doenças.

Além disso, o machismo pode facilitar a perpetuação desses dois casos, uma vez que abre espaço para que a responsabilidade de prevenção em um ato sexual fique, exclusivamente, para a mulher, que assumiria um maior comprometimento caso houvesse uma gravidez indesejada. Entretanto, por uma questão sociológica – perpetuada pelo machismo que vê o masculino como superior –, muitos homens se recusam a se prevenir durante o sexo mesmo com os pedidos de sua parceira. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz, somente 31% dos homens brasileiros se previnem. Ainda de acordo com a pesquisa, a justificativa que a maioria desses rapazes dão para o não uso do preservativo é que “estraga a diversão”. Alguns afirmam que a camisinha não permite que a experiência seja tão prazerosa, todavia, já existem preservativos que tornam a sensação do ato igualitária a sem camisinha, tal qual a Jontex Pele a Pele. Portanto, a falta de conhecimento desses novos mecanismos, por não se falar sobre sexo, pode facilitar a perpetuação de ISTs e das gravidezes não planejadas. 

É importante salientar que por vezes as gravidezes vão acontecer de maneira indesejada, mesmo com o uso de mais um preservativo. No entanto, esses casos são exceções. De acordo com um estudo realizado pelo periódico científico Contraception, a maioria dos métodos contraceptivos tem a eficácia, sozinhos, em mais de 90% dos casos.  É preciso que as pessoas saibam sobre o processo reprodutivo e as relações sexuais saudáveis para que entendam também como seu corpo funciona e possam se planejar de acordo com ele. 

Camisinha masculina - bandeira asexual - Por que o sexo ainda choca?
Menos de 23% dos brasileiros usam camisinha em todas as relações sexuais [Imagem: Reprodução/Pixabay]

“Os tabus que pairam sobre o sexo produzem pontos cegos que favorecem a sua associação com a dominação” 

Pedro Fernando da Silva, doutor em psicologia social.

Um dos perigos, mais frequentes, causados pela falta de diálogo são os abusos. “Manter as coisas no escuro, não falar sobre elas, só privilegia o abusador”, conta Mayra. Segundo dados do 14º Anuário de Segurança Pública no Brasil, a cada 8 minutos uma mulher é estuprada no país, sendo a maioria das vítimas meninas menores de 13 anos. Para a membro da comunidade BDSM, “estupro não é sobre prazer sexual, é sobre poder”. Dessa forma, os estupradores escolhem as pessoas de maior vulnerabilidade para cometerem seus crimes, como as crianças. Ou seja, a população mais vulnerável é aquela que não apresenta conhecimento sobre o ato sexual. 

Nesse aspecto, a cultura do estupro está interligada com o tabu sobre o sexo. Assim, como exposto pela Universidade Federal do Ceará, a propagação da ideia que os homens têm instintos sexuais mais fortes e, dessa forma, podem agir depravadamente, justifica muitas atitudes contra, principalmente, as mulheres. “[Isso gera] a redução do outro a objeto coisificado do desejo do agressor que não o percebe como sujeito autônomo, mas o toma como coisa subordinável aos seus desejos”, explica o psicólogo. Pedro conclui dizendo que, nesse caso, o problema não é o desejo, mas sim a sua associação com dominação. Exemplos desse pensamento são os casos em que abusos sexuais são justificados de acordo com a vestimenta que a mulher está usando, como se ela estivesse “provocando o homem”. Entretanto, esse pensamento não se concretiza quando se analisa a diversidade de roupas que muitas vítimas usavam durante seus abusos, como demonstrou a exposição “Roupa não é convite”

Além disso, Joelle Marie afirma que ao se tornar proibido e constrangedor discutir sobre sexo, muitas mulheres ficam com vergonha de denunciar os abusos. Sob essa perspectiva, a falta de diálogo sobre as relações sexuais faz com que muitos abusadores não sejam denunciados e, por isso, se beneficiem desse tabu. Outro fator que também pode acontecer, é a vergonha de se falar sobre o assunto, por ele ser muito íntimo, já que expõe as partes do corpo que foram sempre sexualizadas, como os órgãos sexuais. Assim, a vítima não comunica e não percebe que sofreu abuso. Segundo Pedro, essa forma de violência também afeta crianças e adolescentes, o que estende a violência sexual à pessoas do sexo masculino, visto que devido à sua inocência como crianças, não tem consciência de que foram abusadas. 

A importância de uma educação sexual 

Ainda há um preconceito, no Brasil, por ver a educação sexual como uma maneira de destruir a infância das crianças que a recebem nas escolas. Ou até a defesa de que esse assunto deve ser tratado pelos familiares das crianças. Todavia, de acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 69,2% dos abusos contra crianças acontecem na casa delas. Ou seja, o abusador tem grandes chances de morar com a vítima e, logo, não irá ensiná-la sobre educação sexual, uma vez que se beneficia dessa falta de entendimento. Além disso, o conhecimento sobre as relações sexuais não destroem a infância da criança se feito para que previna os abusos, visto que muitas crianças que tiveram aulas sobre educação sexual denunciaram seus abusadores. Como foi o caso de uma menina de 8 anos na Paraíba. 

“São essas instituições [de ensino] qualificadas que podem, com base nos conhecimentos específicos, determinar os temas, a linguagem e os modos de introduzir conhecimentos que permitam àqueles que estão em formação conhecerem seu corpo e as relações que há entre ele, os modos de prazer / desprazer e o mundo, evitando-se, com isso, que o sexo seja reduzido à compreensão daqueles que hipocritamente o condenam porque não suportam sua diversidade” 

Pedro Fernando da Silva, doutor em psicologia social

“A educação sexual, não é sobre aprender a fazer sexo. É saber como o seu corpo funciona. Você tem direito a ele e você tem direito a escolher quem vai interagir com ele”, conta Mayra. Acrescentando o  que foi dito pela enfermeira, Joelle Marie afirma que não é uma questão de “safadeza” ou corrompimento dos mais jovens, e sim, uma política de saúde pública. A fala da jornalista pode ser exemplificada pela quantidade de meninas que engravidam devido aos estupros que sofrem. O caso mais recente foi de uma criança que engravidou pela segunda vez após sofrer abusos de parentes. Na primeira gravidez, ela não pôde realizar um aborto pois, segundo o médico consultado, correria risco de morte. Ou seja, sua saúde foi colocada em risco por uma gravidez resultada de um estupro. 

Portanto, a educação sexual é importante para que crianças e adolescentes possam estar cientes de que estão sofrendo abusos e possam denunciá-los, uma vez que a falta de diálogo abre espaço para os abusadores. “A educação sexual é de suma importância, não só para a gente entender como nosso corpo funciona, mas também para ensinar sobre consentimento, respeito, proteção do nosso corpo e formas de manter relações sexuais saudáveis no curso da vida”, relata Joelle Marie.

Pornografia  

Além das transmissões de ISTs, a gravidez indesejada e os abusos, outro perigo de não se falar sobre sexo é o consumo exacerbado da pornografia e a objetificação dos corpos. 

Pensando na atualidade, a pornografia serve como um “substituto” da prostituição para esse início vida sexual masculina. Para Pedro, o fato da pornografia não ter espaço nem para a espontaneidade e nem para o afeto, a torna um modo não interessante de obtenção de prazer e de aprendizagem, como muitas vezes é percebido, e não apenas por jovens em processo de iniciação sexual. No presente, é muito fácil ter acesso a informação, o que melhorou o conhecimento sobre o sexo e sobre o corpo, principalmente o feminino. Entretanto, com essa quantidade de materiais é possível que se descubra o mundo sexual por conteúdos impróprios, como a pornografia. 

O “pornô” é prejudicial tanto para homens, que criam inseguranças com a sua virilidade e que distorcem a visão sobre o feminino, quanto para mulheres, que têm os corpos sexualizados e comparados com atrizes pornô. A pesquisa feita pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética, em 2020, comprova esse dado ao informar que mais de 142 mil pessoas realizaram cirurgia nos seus órgãos genitais. Ou seja, estas pessoas foram influenciadas por uma estética de como seu sexo deveria parecer. Além disso, outro fator que faz a pornografia ser prejudicial para as mulheres é a profissão de atriz nesses filmes. Muitas meninas precisam do dinheiro oferecido pelas gravações e se submetem a situações de exploração sexual, que ficam na internet para sempre. 

Por que o sexo ainda choca?
12% de todo conteúdo na internet é pornográfico [Imagem: Reprodução/Pixabay]

De acordo com o documentário O Silêncio dos Homens (2019), mais de 51 milhões de homens brasileiros dizem estar viciados em pornografia. Para o psicólogo, o vício a pornografia precisa ser observado como uma compulsão à algo de muito fácil acesso e que pode ser considerado por muitos como pouco danoso para a pessoa que o desenvolve. Entretanto, ele pontua que qualquer compulsão, principalmente quando alimentada por uma indústria, pode se tornar nociva a quem desenvolve. “No caso da pornografia, essas contradições se expressam em dados assustadores como o de que o Brasil é um dos países em que mais se consome pornografia sobre travestis e, contraditoriamente, é também um dos países em que mais há homicídios de travestis no mundo”, conta o doutor em psicologia social. Pedro relata que o consumo de pornografia não estimula a violência contra travestis, mas sim que o consumo desse material não favorece a experiência efetiva com essas pessoas, que permanecem reduzidas a objetos reificados. “O mesmo vale em relação a outros aspectos das relações interpessoais”, conclui o psicólogo. 

Assim, embora fala-se muito dos aspectos negativos de não se falar sobre sexo em relação as mulheres, muitos homens sofrem com essa falta de comunicação. Além das claras comparações com atores pornográficos, os viciados em pornografia não conseguem deixar de objetificar corpos. O ator norte-americano, Terry Crews, relatou um pouco da sua experiência com o vício em pornografia dizendo que este quase destruiu a sua vida. “Pornografia é como enlouquecer dentro de uma farmácia. Você está como uma criança solta, pegando todo o tipo de coisa ali e pode ser seriamente danificado”, relata Terry. 

Precisamos falar sobre sexo

Após expor os perigos desse tabu, é importante mostrar as vantagens de se manter uma relação sexual saudável. Mayra afirma que existem diversas formas de você exercer sua sexualidade. Assim, a única maneira para que o seu companheiro ou companheira saiba dos seus desejos, é através do diálogo. 

“A liberdade compartilhada e o respeito ao outro como sujeito de desejo permitem reconhecer o sexo como um potente modo de encontro entre pessoas livres, capazes de compartilhar prazeres e afetos” 

Pedro Fernando da Silva, doutor em psicologia social

Uma relação sexual saudável é importante, devido a todas as vantagens expostas no começo do texto. Como por exemplo, a melhora da saúde cardíaca, a ajuda para aliviar a dor, o fortalecimento do sistema imunológico e a melhora do humor. Além disso,  Mayra confirma que o orgasmo diminui o estresse e por isso, muitos ginecologistas defendem a masturbação. Entretanto, Pedro conta que o prazer, o amor e a felicidade estão associados ao sexo, assim, caso as práticas sexuais não sejam feitas em consenso e visando a satisfação de todos os envolvidos, os benefícios do ato sexual não serão recebidos por todos. 

Para o doutor em psicologia social, precisamos falar sobre sexo para “Produzirmos novos modos de satisfação que possam acompanhar o potencial de liberdade humana e porque, assim, podemos refletir sobre o prazer que se pode compartilhar de modo autônomo e ético”. Assim, ao se falar desse processo natural da vida, pode-se abrir novas possibilidades que permitam o ser humano se descobrir mais e de maneira autêntica. 

Já para Joel Barbosa, também integrante da comunidade BDSM, é importante falar sobre sexo para salvar pessoas dos perigos que elas podem estar sofrendo sem saber, ou mesmo o que elas podem se autocometer. No primeiro caso, um exemplo são os abusos que podem ser evitados com o diálogo, uma vez que assim existirá o consenso entre as partes, agora já conscientes do processo sexual. Já na segunda possibilidade, é uma questão de sexualidade, para que as pessoas descubram seus desejos e possam saber como lidar com eles – tal qual a assexualidade.

“O gostar de sexo não é a regra”

Joel Barbosa, integrante da comunidade BDSM

A assexualidade é um espectro da sexualidade humana que engloba as pessoas que não sentem interesse pelo sexo. Entretanto, assim como os outros espectros da sigla LGBTQIA+, existem diferentes tipos de assexuais e cada um deles age de uma maneira em relação ao sexo, maneiras essas que são diferentes dos sexuais. É importante salientar a necessidade de se falar sobre sexo para que pessoas como os assexuais possam se descobrir. Embora já tenha sido dito no texto que sexo faz parte da vida humana, o que não é uma mentira, nem todos tem o desejo de realizá-lo, todavia, todos precisam entendê-lo para consenti-lo. 

bandeira asexual - Por que o sexo ainda choca?
A assexualidade afeta até 3% dos homens e 8% das mulheres [Imagem: Reprodução/WikiMedia]

Portanto, é preciso falar sobre a prática sexual por uma questão de saúde física e mental, além de uma demanda por reconhecimento dos desejos e sexualidades de cada um. O sexo precisa ser consensual, à vontade e prazeroso. Por isso, o sexo não deve mais chocar e sim, dialogar. 

“Não tem como você consentir algo que você não conhece e para conhecer, você precisa conversar sobre […] O saber o que se está fazendo é libertador”

Mayra Blaz, enfermeira e integrante da comunidade BDSM

1 comentário em “Por que o sexo ainda choca? ”

  1. Como atividade, a sexual implica em dois protagonismos: duas pessoas se contracenando e cada um com a sua performance! Na minha situação atual, dois cisgeneros e coroas: eu solteiro e ele casado! Ontem, ele quis me fazer cunilingua demorado, num momento em que eu já estava pronto para ser penetrado, nem sempre os dois prazeres se convergem e até me disse não é comentado esse “sincronismo” hetero, também entre homens e maroto disse dele já poder “atuar” sem preliminar! Ou seja cada “casal” é de certa forma impar!!! Noutras ocasiões a cunilingua nem sempre me deixou acolhedor e fomos ao 69!

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