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Quadrinhos dão toque de ficção à vida real

Entenda por que os quadrinhos conquistaram tantos apaixonados ao longo da história Por Luísa Granato (luugac@gmail.com) Com preços acessíveis e uma lógica de leitura de fácil entendimento, as histórias em quadrinhos (HQs) conquistam todo o tipo de pessoa pelo mundo. No Japão, os mangás foram uma válvula de escape da derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, …

Quadrinhos dão toque de ficção à vida real Leia mais »

Entenda por que os quadrinhos conquistaram tantos apaixonados ao longo da história

Por Luísa Granato (luugac@gmail.com)

Com preços acessíveis e uma lógica de leitura de fácil entendimento, as histórias em quadrinhos (HQs) conquistam todo o tipo de pessoa pelo mundo. No Japão, os mangás foram uma válvula de escape da derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, em histórias nas quais os personagens descarregavam fisicamente a hostilidade por meio de esportes. A partir dos anos 20, os artistas do país tornaram sua arte independente do estilo ocidental.

Nos Estados Unidos, a Crise de 29 trouxe uma forma barata de entretenimento, as pulp magazines ou pulp fictions. Conhecidas assim pelo nome do papel barato com que são feitas, seus custos eram baixos, tornando-os muito populares entre a população americana que sofria com a crise econômica e precisava de diversão. E, apesar de a ficção científica ter origem nos romances como os de Júlio Verne, o super-herói é uma criação norte-americana, originário do espírito individualista e reflexo do Tio Sam, símbolo de poder e patriotismo.

Do mero entretenimento à verdadeira paixão, os adoradores dos quadrinhos dedicam boa parte de suas vidas às histórias. (Foto: Arquivo Pessoal/Luis Gustavo Peres)
Do mero entretenimento à verdadeira paixão, os adoradores dos quadrinhos dedicam boa parte de suas vidas às histórias. (Foto: Arquivo Pessoal/Luis Gustavo Peres)

É inegável que os quadrinhos fazem hoje parte da cultura. Seja por um gibi da Turma da Mônica quando criança ou pelos milhares de filmes e desenhos sobre super-heróis, o universo dos quadrinhos estará sempre presente . Para alguns, será apenas mais uma fonte de entretenimento, para outros, um hobby. No entanto, para muitos é um estilo de vida. “Quem curte esse universo vai, ao longo dos anos, ter passado uns 30% deles em alguma cidade fictícia, no passado, no futuro, em um mundo distante ou em um universo paralelo. As HQs não são apenas um hobby, mas um instrumento positivo de aproximação de pessoas”, diz Luis Gustavo Peres, professor licenciado em Artes Plásticas e colecionador de HQs.

Os vários eventos realizados pelo mundo anualmente provam como essa literatura também ajuda na união das pessoas. Eles englobam histórias em quadrinho, mangás e também filmes, séries de televisão, videogames, animações e livros de fantasia e ficção científica. A maior e mais conhecida talvez seja a Comic-con, que ocorre todo ano em San Diego, nos Estados Unidos.

A diversão de se transformar no seu personagem favorito

Em São Paulo, 18° Fest Comix reúne apaixonados por quadrinhos em busca de diversão. (Foto: Luísa Granato)
Em São Paulo, 18° Fest Comix reúne apaixonados por quadrinhos em busca de diversão. (Foto: Luísa Granato)

Durante o ano, São Paulo recebe várias convenções que juntam multidões. Algumas delas são a Anime Friends, a Ressaca Friends, a Comic Fair e a FestComix em que visitantes adquirem revistas em quadrinhos, procuram gibis raros, competem no videogame, duelam com baralhos de personagens fantásticos e fazem cosplay. Cosplay é uma abreviação do inglês – Costume Roleplay – cujo objetivo é se tornar uma réplica perfeita de um personagem. Demonstrando adoração a uma figura ou somente pela diversão de se fantasiar, os cosplayers contribuem para a cultura. No Japão e na China, os acessórios e estilos dos personagens já estão misturados a sua moda de roupas, como no estilo Lolita ou Harujuku.

Na 18ª Fest Comix, além das várias lojas vendendo mangás e HQ, os visitantes tiveram a oportunidade de acompanhar diversas atividades. Em cima do palco, juntaram-se personagens do clássico Batman para um Quiz. Foram feitas várias perguntas relativas à série do homem-morcego para fãs vestidos de Espantalho, Coringa, Charada, ou até mesmo, Batman. Próximo ao local, havia uma fileira de televisões em que se podia competir no Mario Kart ou Guitar Hero. A toda hora, era possível ver pessoas vestidas a caráter, o Príncipe Nuada do Hellboy passando por um lado ou a Dee-dee do Laboratório de Dexter ajeitando seu cenário. Eles se preparavam para o Yamato Cosplay Cup, uma competição em que o cosplayer sobe ao palco e encena como se fosse o personagem do qual está fantasiado.

Fernanda e Gabriel aproveitam a Fest Comix para encontrar outros cosplayers. (Fotos: Luísa Granato)
Fernanda e Gabriel aproveitam a Fest Comix para encontrar outros cosplayers. (Fotos: Luísa Granato)

Gabriel Andrade Santos, de 16 anos de idade, já faz cosplay há quatro. Estava vestido de Shaoran, personagem do mangá Cardcaptor Sakura. “As histórias e personagens são legais. Eu me visto como um personagem e sei que aqui, ninguém vai me julgar. Aqui as pessoas são amigáveis, têm a mente aberta, sem preconceitos”, explica. Fernanda Martins, também de 16 anos, já foi a alguns eventos e falou de seus motivos para fazer cosplay: “Eu gosto de fantasias, fingir ser outra pessoas por um tempo e ainda homenagear um personagem. É muito divertido e aqui encontramos pessoas com o mesmo gosto que a gente”.

Reinaldo e Alexandre caracterizados como seus heróis na 18º Fest Comix. (Fotos: Luísa Granato)
Reinaldo e Alexandre caracterizados como seus heróis na 18º Fest Comix. (Fotos: Luísa Granato)

Para outros cosplayers, a Fest Comix desse ano foi a primeira vez em que se transformaram em personagens. O fanático pela série Star Wars, Reinaldo Vieira, 42 anos, aproveitava o primeiro passeio com a fantasia que tem há anos. Todos queriam tirar uma foto com o Jedi e apreciar o sabre de luz. Também desfilava pelo lugar Alexandre Lichewitz, de 33 anos, fã de quadrinhos e que estava vestido de Capitão América, segundo ele, por causa de sua semelhança com o personagem.

Aquele medo de acabar o espaço na prateleira

“Foi com meu pai que tomei gosto pelo universo dos quadrinhos. Ele era caminhoneiro e me lembro que sempre depois de chegar de viagem almoçávamos juntos: ele lendo e eu olhando as figuras que cada vez mais me fascinavam”. Essa é a história de um colecionador de quadrinhos que, assim como muitos, teve o primeiro contato com os gibis na infância.

A arte dos quadrinhos e suas histórias fantásticas ajudam a moldar a vida de gerações. Em eventos como a Fest Comix ou a Comix Fair, é possível encontrar milhares de exemplares de todo o tipo de revista em quadrinhos e cestas de compras cheias. Os motivos vão desde completar uma antiga coleção do Homem Aranha até começar uma nova. O professor Luis Gustavo Peres provavelmente acertou em afirmar que, no final da vida, essas pessoas terão passado grande parte de seus momentos em reinos fantásticos, mundos paralelos ou viajando no tempo, e essa experiência da ficção de alguma forma inspira o mundo real delas.

Quando se cansou de somente olhar as figuras, Luis Gustavo buscou reproduzi-las. Mais tarde formou-se em Artes Plásticas e agora leciona Artes. Desde os sete anos de idade até hoje, sua coleção de HQs nunca deixou de crescer. Coleciona todo o tipo de quadrinhos, tendo preferência pelos de terror, super-heróis e infantis. Também reflete sobre o valor histórico-cultural que os gibis guardam, uma vez que o autor visa não somente uma reprodução de estereótipos de sua época, mas a aproximação de seu desenho com a realidade.

Para Luis Gustavo, quadrinhos são o retrato de uma época, com registros de estereótipos e costumes. (Foto: Arquivo Pessoal)
Para Luis Gustavo, quadrinhos são o retrato de uma época, com registros de estereótipos e costumes. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Por trás das propagandas e anúncios existe todo um contexto de cada época. Basta lembrar das propagandas de brinquedos bélicos muito presentes alguns anos atrás, e hoje politicamente incorretas. E que tal o Pato Donald correndo atrás dos sobrinhos com um porrete nas mãos, sem falar em situações hoje tidas como de preconceito racial, mas que eram normais e corriqueiras até quase o final do século XX”, completa Luis.

Os colecionadores garantem a manutenção dessa memória. Luis Gustavo encerra falando da beleza do mundo dos quadrinhos. Para ele não existe separação de faixa etária, sexo, raça, religião, regionalismo ou qualquer elemento que impossibilite o diálogo, todos estão unidos pelo apelo do fantástico. “O colecionador não é feito só de carne e osso, mas se constitui de tinta, papel e saudade de momentos mágicos e únicos, moldados apenas pelas questões de gosto por um herói ou gênero”.

Vitrine de raridades na internet

A internet cada vez mais prova seu papel de unir pessoas com a mesma paixão. Além de ser a principal forma de organizar os eventos, também agrega sites, como o Gibi Raro. Kendi Sakamoto, o maior colecionador de gibis do Brasil, exibe seu acervo no site cultural feito por ele. Lá, além de poder participar de um fórum junto com outros amantes de quadrinhos para conversar, trocar e vender HQs, é possível ainda encontrar uma visão exclusiva da coleção de Kendi que apresenta a capa de gibis com informações sobre seu conteúdo, história e edições.

Após mergulhar no passado das revistas em quadrinhos do Brasil, com suas curiosidades e magia, talvez o site do Quarto Mundo renda uma boa visita para conferir o que os quadrinistas têm produzido pelo selo independente, que apóia e promove a produção nacional de quadrinhos. O coletivo do Quarto Mundo era feito por um grupo de amigos que admitia novos membros por indicação, mas hoje qualquer pessoa com sua produção independente pode tentar entrar para a equipe.

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