Jornalismo Júnior

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Sabores da Coreia: experimentando um pouco da cultura coreana, literalmente

Proposta do Centro Cultural Coreano no Brasil é interessante, cativante e de dar Água na Boca, mas a limitação na degustação tende a tornar a experiência frustrante

Cause I-I-I’m in the stars tonight / So watch me bring the fire and set the night alight. Você reconhece esse pequeno trecho de uma música da banda coreana BTS? Em caso afirmativo, isso apenas confirma o sucesso de um dos artistas mais ouvidos do Spotify em 2021 e afirma que a Coreia vem ganhando cada vez mais reconhecimento internacional. E essa influência da pequena península asiática não demoraria para chegar em terras brasileiras.

Localizado na avenida Paulista, próximo à Estação Brigadeiro, o Centro Cultural Coreano no Brasil (Korean Cultural Center – KCC) é muito mais do que um espaço histórico que revela a riqueza da mistura da cultura desse país com a brasileira: ele também organiza exposições sobre hábitos coreanos que instigam os curiosos que passam pela maior rua de São Paulo. A mais recente delas foi a exposição Sabores da Coreia, que ocorreu entre os dias 1º de setembro e 9 de outubro de 2022, com degustação de snacks e salgados coreanos e que a Jornalismo Júnior teve o prazer de conferir.

Uma península no Brasil

A jornada pela culinária do país de 50 milhões de habitantes se inicia logo na entrada da exposição, quando todos os sentidos começam a serem explorados para fazer o público se sentir dentro da Coreia. Os primeiros que a exposição brinca são a visão e a audição. Isso porque ao longo de todo o espaço do KCC disponibilizado para o evento, pode-se observar diversos comerciais dos produtos coreanos passando na televisão com músicas populares da região.

Logo na entrada do evento, o público começa aos poucos a embarcar numa viagem até o outro lado do mundo ao olhar para as tradicionais lanternas de papel coreanas [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Em seguida, a visão começa a ser cada vez mais explorada quando o público é apresentado a inúmeros produtos  tipicamente coreanos, que ficam expostos nas prateleiras do local. Para os frequentadores do bairro da Liberdade, conhecido por abrigar restaurantes e lojas típicas de países orientais, entretanto, as embalagens não eram novidade. 

Entre as opções de snacks, podia-se encontrar salgadinhos de sabores diferentes, como frutos do mar ou maçã e mel, e doces, como o bolinho de chocolate e marshmallow Chocopie e os palitinhos de chocolate Pepero, além das tradicionais guiozas. Já na parte das bebidas, era possível encontrar um suco doce feito de arroz conhecido como sikhye, e os Bonbon, famosas bebidas enlatadas que contêm pedaços de frutas do sabor do suco.

Aproximando-se do final da experiência culinária, os últimos sentidos dos visitantes começam a ser explorados. Em um balcão com funcionários preparando Noodles, o olfato começa a ser aguçado ao passar perto do local com cheiro do tradicional macarrão coreano. Finalmente chegamos no sentido mais importante em uma exposição de culinária com degustação gratuita: o paladar.

Nem sempre os pequenos frascos contêm as melhores fragrâncias

Para exercitar o paladar do público, a exposição permite a degustação gratuita de alguns salgadinhos, metade de um copinho plástico de suco de arroz e um copo térmico de Noodles. E nesse momento ocorre a primeira frustração da exposição: a quantidade. Apesar do evento não cobrar nada para entrar ou para comer os produtos oferecidos, deve-se ressaltar que as porções não são suficientes para servir como uma refeição ou, muito menos, satisfazer a curiosidade do público com relação à comida coreana.

Mesmo que de maneira limitada, a experiência é interessante e saborosa. Entre os poucos salgadinhos oferecidos para degustação (menos de 10 unidades), destacam-se o de mel e maçã, que encantam por apresentarem um sabor doce e inusitado, e o de cebola, que se assemelha ao brasileiro Cebolitos, mas melhorado, além dos tradicionais salgadinhos de frutos do mar (com formato de peixe), que conquista os apreciadores de frutos do mar. Também cabe ressaltar o suco de arroz que, apesar do sabor doce no início, pode causar estranheza aos paladares brasileiros pela presença de grãos de arroz amolecidos pelo líquido em sua composição. Mas o prato que mais agradou a Jornalismo Júnior é o Noodle, que facilmente agrada aos visitantes por lembrar os da marca Nissin, amplamente vendidos no país, só que com um sabor mais apimentado e pedaços de legumes (industrializadas ou não), servindo como um belo final para a curta degustação. A organização do evento afirma que a maior parte dos produtos lá expostos são de consumo cotidiano dos coreanos em seu país natal, especialmente os Noodles e os salgadinhos.

O ponto alto da experiência gastronômica é a possibilidade de experimentar um tradicional ramen coreano; uma pena que o público só possa degustar um sabor da marca [Reprodução/Felipe Velames]

Apesar dos sabores presentes nos snacks experimentados terem agradado a Jornalismo Júnior, eles não são suficientes para amenizar a decepção com um evento feito para valorizar a culinária coreana. Afinal, como valorizar as comidas de um país sem poder experimentá-las como as pessoas que lá moram? 

Muito mais do que a pouca quantidade, o evento fracassa na pouca variedade oferecida. Isso porque o público percorre um corredor inteiro observando diversos produtos populares na Coreia e mais da metade deles não está disponível para o público experimentar no balcão, como as guiozas ou os doces industrializados. E mesmo aqueles que estão presentes, não existe uma variedade no sabor.

A história e a cultura coreanas na exposição

Térreo: a mulher e o homem na Dinastia Joseon

Desde a entrada do KCC, já é possível ver alguns objetos em exposição que remetem à tradição sul-coreana. Há desde ferramentas de costura até adereços, como bolsas, na seção conhecida como Anbang, que significa a área ou o quarto de convivência doméstica feminina na Dinastia Joseon, com foco na cultura Gyubang

Também está presente a Sarangbang, que representa o espaço masculino da Dinastia Joseon na cultura seonbi. Nessa parte, aparecem, por exemplo, o arco e flecha e os instrumentos musicais como forma de fortalecimento da capacidade física e da concentração. Também nessa parte da casa ocorriam encontros entre intelectuais, que falavam sobre estudos.

Elementos do Anbang, feminino (E), e do Sarangbang, masculino (D). [Fotos: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]

A Dinastia Joseon foi um estado coreano, que se estendeu durante os anos de 1392 até 1897, instituído  por Taejo Yi Seong-gye após uma crise do estado Goryeo, existente desde o século 10. Esse período foi marcado por um grande desenvolvimento artístico, cultural, científico e tecnológico, com o surgimento do primeiro pluviômetro, por exemplo. Além disso, foi no século 14, sob essa dinastia, que o Hangul, o alfabeto coreano, foi criado. Nesse período, a Coreia conseguiu manter boas relações com a China da Dinastia Ming (1368-1644) e, em formato de comércio bilateral, com o Japão, ainda que eles tenham entrado em conflito posteriormente.

Taekwondo: a luta como harmonia 

Enquanto a equipe da Jornalismo Júnior fazia a degustação, acontecia, no térreo do prédio que sedia o KCC, uma aula de Taekwondo, esporte tradicional sul-coreano que tem origem guerreira, mas que significa “Caminho” (Do) dos pés (Tae) e das mãos (Kwon) através da mente”. Havia alunos de diferentes faixas etárias, principalmente crianças e jovens, e em diferentes níveis de luta. Acompanhados por mestres, eles tentavam executar golpes específicos, como o Ti Tchagui. As inscrições para as aulas no Centro Cultural Coreano no Brasil são semestrais e gratuitas, e estão abertas no momento

O Taekwondo foi trazido para o Brasil na década de 1970 e tornou-se esporte olímpico em 1988, nas Olimpíadas de Seul (Coreia do Sul). [Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]

Primeiro andar: biblioteca, ilha de Dokdo e a cultura coreana

Ao subir as escadas do local de degustação, o visitante se depara com uma biblioteca. Lá, há um mural sobre a ilha de Dokdo, que, tal qual a ilha de Ulleungdo, sofreu tentativa de anexação do Japão, sob o nome de Takeshima. Embora os japoneses tenham tentado reivindicar esses territórios como seus, o pequeno museu do Centro Cultural Coreano no Brasil explica que o Dajokan (Grande Conselho de Estado) japonês emitiu uma diretriz, em 1877, que afirmava que as ilhas não tinham relação alguma com o Japão, cessando qualquer possível argumentação restante. A posse do território é, portanto, considerada um orgulho para o povo coreano. 

A biblioteca do KCC é fascinante para os que querem conhecer a cultura coreana e para aqueles que querem explorá-la melhor. [Fotos: Arquivo Pessoal/Ricardo Thomé]

Para auxiliar os visitantes na tradução e na explicação das informações em exposições na biblioteca, está a estudante de Letras da Universidade de São Paulo, Sthefanie Vieira. Ela está no último ano de faculdade com habilitação em português-chinês, mas também fala coreano, e estagia no KCC. Stefhanie conta que os livros da biblioteca abordam literatura, artes, viagem e língua do país asiático. “A grande maioria está em coreano, mas tem alguns em inglês e em português. Eles estão disponíveis para empréstimo por qualquer pessoa que tenha interesse.”

Frase na porta de uma das salas de estudo do Centro Cultural Coreano no Brasil. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]

A onda cultural coreana, conhecida como Hallyu, quando escrita de maneira romanizada e 한류, no alfabeto coreano, disseminou, além do audiovisual como k-dramas, filmes, séries e músicas, o que une tudo isso: o idioma. O alfabeto coreano é conhecido como Hangul (한글) e ele foi criado — sim, criado — pelo Rei Sejong em 1443, durante a Dinastia Joseon. Porém, existe uma vertente, o Hanja (漢字), que se refere aos termos de origem chinesa que foram assimilados pela língua coreana. Por mais que o Hanja não seja mais tão utilizado, é comum que alguns nomes sejam dados com base nos significados das palavras de origem chinesa e ele esteja presente em algumas palavras menos comuns. 

Com a popularização dos produtos culturais coreanos, a busca pelo aprendizado da língua aumentou. Segundo o Duolingo Language Report, um relatório anual sobre o aprendizado de idiomas no mundo, o coreano foi o segundo idioma que mais cresceu tanto no Brasil, como nos outros países, e está em sétimo lugar nos idiomas mais estudados do mundo. O grupo de K-pop BTS foi um dos principais responsáveis por esse movimento, bem como o filme premiado ao Oscar Parasita (2019) e a série vencedora do Emmy Round 6. Para entender as letras, incluindo as frases marcantes de filmes e séries, é necessário buscar a tradução. Assim, o conhecimento da língua coreana é fundamental para falar o tão conhecido Annyeonghaseyo (안녕하세요), que significa “Oi/ Tudo bem” até temas mais complexos como os abordados em letras de músicas, filmes e séries.

Assim como as aulas de Taekwondo, o Centro Cultural Coreano no Brasil também oferece aulas gratuitas de coreano para diversos níveis — o Sejong Hakdang. O único custo é o material e as inscrições são abertas semestralmente. A definição das vagas fica a critério da ordem de inscrição, que em geral ocorre via redes sociais do KCC. “Eles aprendem a leitura, a gramática básica e o vocabulário. Aí são só 50 reais pelo livro, e é um livro por semestre”, completa Stefhanie. Ela explica que tanto os professores dos cursos de coreano e de Taekwondo, como os organizadores e diretores são, em geral, coreanos, e que o prédio também recebe visitantes da Coreia do Sul com alguma frequência. 

Alguns aplicativos também ajudam no aprendizado, como o Duolingo, o Lingodeer e o Drops, todos disponíveis gratuitamente com planos mais incrementados pagos. É preciso tomar cuidado ao aprender coreano online sem professor pois muitos ensinam com a forma romanizada (por exemplo, 안녕, que é Oi/ Tchau, vira Annyeong). Essa forma fica mais fácil para ler porque está no nosso alfabeto, mas a pronúncia pode não estar correta já que alguns sons grudam, duplicam ou até somem dependendo da consoante ou vogal do Hangul.

No restante do andar, há, por exemplo, óculos de realidade virtual que propiciam ao usuário, por meio de um controle remoto, transportar-se para quatro pontos diferentes da Coreia do Sul, ver a movimentação nas ruas e imaginar como seria estar lá, vendo a grama, os monumentos, o mar e as crianças brincando. Embora a tecnologia seja incompatível com quem usa óculos em graus mais altos, pois é difícil utilizar os dois simultaneamente, é uma experiência interessante para quem quer, assim como no andar de baixo, sentir o “gostinho” de caminhar pelas ruas coreanas.

Além disso, o primeiro andar ainda conta com uma pequena parte reservada para o Hanbok (한복), que significa vestimenta coreana. Para ser mais específico, esse termo diz respeito às roupas tradicionais coreanas representadas, em sua maioria, por um traje que lembra um vestido com uma faixa acima da cintura. A roupa é dividida em 2 partes: jeogori (저고리), uma espécie de jaqueta com mangas longas e mais folgadas com uma faixa transpassada, e a baji (바지) para os homens, que é uma calça, ou chima (치마) para as mulheres, que é uma saia.

Hanboks geralmente têm cores mais vivas e chamativas. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]

Esse tipo de vestuário tem mais de dois mil anos de existência e, apesar de ser tradicional e remontar uma história muito antiga, tende a se tornar mais acessível e comum. O girl group BlackPink já usou versões customizadas do Hanbok, bem como o BTS, além dessa vestimenta estar muito presente em séries de época também. O Hanbok é utilizado, geralmente, em feriados e celebrações, dentre eles estão o Ano Novo Lunar (설날) e o Chuseok (추석), o festival de colheita. 

O Centro Cultural Coreano no Brasil está organizando uma exposição sobre o Hanbok. Ela vai estar disponível do dia 28 de outubro até o dia 31 de dezembro. O evento vai contar com vestimentas para experimentar, bem como os mesmos modelos das utilizadas pelas integrantes do BlackPink e do OhMyGirl! e espaços instagramáveis, onde será possível tirar boas fotos. A entrada é gratuita. 

Integrantes do BlackPink com a versão mais contemporânea do Hanbok. [Imagem: Reprodução/ The Korea Times]

Apesar da pouca quantidade e variedade disponível para o público experimentar os sabores da Coreia, o KCC vale a visita pela possibilidade de aprender mais sobre a cultura e história de um país e descobrir curiosidades novas com as exposições que ocorrem mensalmente nele. Apenas uma dica: almoce antes ou vá preparado para comer em um dos inúmeros restaurantes da região, pois Sabores da Coreia leva a ideia de degustação ao pé da letra, e não vai saciar sua fome!

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