Por Bruno Nossig
Após a comissão de Roland Garros revelar que não daria um convite para a russa Maria Sharapova, a organização do WTA de Birmingham resolveu conceder o “wildcard” para a atual número 211 do ranking mundial, o que gerou uma grande repercussão. A tenista, que já ganhou torneio em 2004 e 2005, só não participou da disputa em virtude de uma lesão na coxa esquerda.
No dia 3 de março de 2016, Sharapova revelou ter testado positivo para a substância Meldonium, depois do jogo contra Serena Williams, nas quartas de final do Australian Open. O Meldonium havia se tornado irregular pela WADA (World Anti-Doping Agency) naquele mesmo ano, pois garantiria um aumento na performance dos atletas. “A substância melhora a circulação sanguínea, e, no caso de um atleta, esse aumento de circulação favorece seu desempenho, pois há maior oxigenação nos tecidos e uma recuperação mais acelerada do tecido danificado devido às intensas atividades físicas”, afirmou Lara de Santi, controladora de Dopagem.
A International Tennis Federation (ITF) puniu, inicialmente,Sharapova por dois anos. Fora isso, retirou os pontos e os prêmios conquistados pela russa no Aberto da Austrália. A tenista considerou a pena severa e recorreu no Tribunal Arbitral do Esporte, argumentando que usava Mildronate (remédio que possui Meldonium) há dez anos por recomendação de um médico e que não sabia que a substância tinha se tornado proibida. Em seu argumento, dizia que não tinha como intenção melhorar seu desempenho. No tribunal, a tenista conseguiu reduzir sua pena para 15 meses.
Desde a sua volta, a maior polêmica cercando Sharapova foi a política do “wildcard”. Vale destacar que o termo se refere ao convite que um atleta não bem ranqueado recebe para participar de um grande campeonato.
Além de Birmingham, Sharapova recebeu convite do torneios de Stuttgart, de Madrid e do Masters 1000 de Roma. O ex-tenista Fernando Meligeni se posicionou contra o retorno de Sharapova por meio da medida. “Eu sou contra o ‘Wildcard’. Eu acho que é um grande presente para quem se dopou. Quer dar para Filcher ou Challenger não tem problema, porque ela não tem nenhum ponto. Não pode entrar. Agora dar um “Wildcard” para um Grand Slam, um WTA, um Master de Roma, eu acho demais”, comentou.
Muitos tenistas – como Andy Murray e Angelique Kerber – também se posicionam contra a participação de Sharapova nos torneios, afirmando que o “wildcard” não deveria ser dado para atletas que caíram no ranking por conta do doping. Muitos esportistas têm sido extremamente duros com a russa nos torneios. A canadense Eugenie Bouchard, por exemplo, chamou Sharapova publicamente de “trapaceira”. Fernando Meligeni adicionou que não vê o posicionamento desses tenistas como uma afronta a Sharapova: “Essa situação só vai diminuir depois de uns três ou cinco anos. Mas durante esse primeiro ano, o ‘vestiário’ vai fazer ela comer o ‘pão que o diabo amassou’”.
Apesar da grande oposição à participação da russa nos grandes torneios, os tenistas Rafael Nadal, Novak Djokovic e Venus Williams defenderam o “wildcard” dado a Sharapova. De acordo com eles, o retorno da ex-número um seria muito bom para o circuito da WTA.
Em seu retorno, a tenista conseguiu cinco vitórias em oito partidas e obteve como melhor resultado a semifinal do WTA de Stuttgart, em que perdeu para a francesa Kristina Mladenovic. Apesar dos resultados abaixo do padrão para uma tenista de nível top 10 do circuito, poucos duvidam do tênis de Sharapova.
5 Casos famosos de Doping no Tênis:
Mariano Puerta
A carreira do argentino Mariano Puerta ficou marcada pelo doping. Em 2005, o tenista alcançou seu melhor ranking no circuito, a 13ª posição, e conquistou o vice-campeonato de Roland Garros. Apesar disso, o ano terminou de modo devastador para Puerta, ao receber a maior punição por doping na história do circuito. O atleta foi punido por oito anos, após ser divulgado que ele havia usado Etilefrina, substância que é considerada um estimulante poderoso. A ITF ainda determinou que o argentino teria que devolver tanto os prêmios conquistados durante e depois de Roland Garros quanto os pontos adquiridos no mesmo período. De acordo com a ITF, a pena foi severa por se tratar de um caso de reincidência. Mariano Puerta já havia sido punido por nove meses no ano de 2003 durante o Torneio de Viña del Mar pelo uso de clenbuterol, um esteroide anabolizante. O tenista, que conquistou três títulos na carreira, aposentou-se depois de 2005.
Martina Hingis
Hingis começou a carreira de forma avassaladora e foi a número um mais nova da história do circuito, com apenas 16 anos. A suíça ganhou cinco Grand Slams durante o período de 1997 a 2000. Apesar de mostrar um futuro promissor , em 2003, a atleta revelou sua saída do tênis por conta das lesões que a aterrorizavam. Em 2006, ela retornou ao tênis quando conquistou mais três torneios. No dia 1 de novembro do ano seguinte, porém, a carreira da tenista acabou de forma surpreendente: ela anunciou a aposentadoria após ter sido pega no doping.
No decorrer da disputa de Wimbledon, a contraprova revelou que Hingis havia usado cocaína. A jogadora disse que se sentia injustiçada e que nunca tinha usado a substância. Também afirmou que não queria passar o resto da carreira lutando contra o doping e que, mesmo com apenas 27 anos, preferia se aposentar. A punição só foi revelada em 2008, quando foi decidido que a tenista ficaria de fora do circuito por dois anos. Além disso, a ITF decidiu que a esportista perderia todos os pontos conquistados depois de Wimbledon e que precisaria devolver os prêmios conquistados durante esse período.
Viktor Troicki
O sérvio, então número 53 no ranking da ATP, foi punido por 18 meses após se negar a passar pelo exame antidoping em uma partida do Masters 1000 de Monte Carlo. O tenista foi selecionado para fazer teste de urina e exame de sangue, mas se negou a fazer o último depois de argumentar que tinha medo de agulha desde criança. O atleta recorreu da decisão no Tribunal Arbitral do Esporte, afirmando que a controladora de dopagem Elena Gorodilova havia garantido a ele que não sofreria com punição. A controladora negou ter afirmado isso.
O Tribunal optou por reduzir em seis meses a punição ao atleta, sob a justificativa de que ele não havia sido informado corretamente sobre as consequências de sua atitude. Apesar disso, manteve a punição ao jogador por considerar que ele havia de fato cometido uma violação ao antidoping.
Troicki contou com ajuda de seu compatriota Novak Djokovic, que o defendeu publicamente ao afirmar que a ITF havia sido extremamente rigorosa. Ademais, “Djoko” fez questão de treinar com o atleta no período em que permaneceu punido.
Quando retornou ao circuito, Troicki teve que recomeçar a carreira do zero, já que estava na posição 842 do ranking e não tinha qualificação para participar da maioria das competições. O jogador conquistou o Torneio de Sydney duas vezes (em 2015 e 2016 ), os únicos obtidos desde sua punição. O atleta chegou a ser 19ª no ranking da ATP em outubro de 2015 e atualmente está na 40ª posição.
Marin Cilic
O tenista foi punido por um exame realizado durante o Torneio de Munique em 2013, que detectou o uso de niquetamida, um estimulante leve que afeta, principalmente, o ciclo respiratório e é considerado de uso proibido pela ITF. Em sua defesa, Cilic argumentou que usou a substância de forma acidental, quando comprou pastilhas de glicose em nome de outra pessoa na farmácia. O argumento foi aceito pelo Tribunal, que reduziu a pena para nove meses, por entender que o croata não tinha a intenção de melhorar seu desempenho. A ITF anunciou em setembro que a pena passaria a valer a partir do dia 1 de maio de 2013 até 31 de janeiro de 2014.
O jogador estava sem jogar desde julho de 2013, quando se lesionou no Torneio de Wimbledon e desistiu de jogar contra o francês Kenny De Schepper. Ele teve que devolver o dinheiro conquistado em torneios disputados depois de Munique e perdeu os 340 pontos obtidos nesse período, o que culminou na queda da 24ª para 37ª posição no ranking da ATP.
O croata teve sucesso em sua volta às quadras, tanto que em 2014 conquistou o US Open, um dos torneios mais bem quistos em todo o circuito. Desde a punição, o atleta já ganhou oito torneios e chegou ao melhor ranking de sua carreira, quando conquistou a 6ª posição em 2016. No ano de 2017, Marin Cilic já conquistou o Istanbul Open e se encontra na 6ª posição do ranking da ATP.
André Agassi
O norte-americano, que formou com Pete Sampras uma das maiores rivalidades do esporte, anunciou em 2014, na sua bibliografia “Open” – publicada em artigos pelo jornal britânico “The Times”-, que havia usado cristal (metanfetamina) em 1997. Naquele ano, o nível de Agassi foi afetado pelo uso da droga, quando ele caiu para a 144ª posição no ranking. O ex-tenista afirmou que recebeu uma ligação da ATP dizendo que ele havia testado positivo para metanfetamina. Agassi então mandou uma carta para a entidade dizendo que um ex-funcionário tinha misturado a droga com um refrigerante. A história inventada pelo tenista foi aceita e ele não foi punido pela ATP.
O estadunidense contou também que Nelson Mandela – na época presidente da África do Sul – serviu de inspiração para que ele parasse de usar cristal. Depois de parar de usar a substância, Agassi voltou a ter sucesso no circuito, quando se tornou número um do ranking em 1999. O atleta também conquistou cinco Grand Slams: Roland Garros (1999), US Open (1999) e Australian Open (2000, 2001 e 2003).
André Agassi conquistou em 1996 a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Naquela edição, o brasileiro Fernando Meligeni ficou em quarto lugar. Ao ter sido questionado sobre o suposto doping, “Fininho” revelou: “Quando o Agassi fala no livro que ele estava dopado no ano da Olimpíada, o Bruguera – que foi prata – e eu – que fui quarto – nos sentimos lesados. Mas será que ele [não] estava dopado? Será que eu não merecia a medalha no lugar do cara?”.