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“Bravo, Maria!”

Por Beatriz Gatti A realidade feminina dentro do esporte, atualmente, é bem diferente daquela vivida pelas mulheres ao longo da história. Somente em 1900 elas puderam participar das Olimpíadas – mas apenas em esportes que não tinham contato físico. E foi só mais de cem anos depois, em 2012, que passaram a disputar todas as modalidades …

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Por Beatriz Gatti

A realidade feminina dentro do esporte, atualmente, é bem diferente daquela vivida pelas mulheres ao longo da história. Somente em 1900 elas puderam participar das Olimpíadas – mas apenas em esportes que não tinham contato físico. E foi só mais de cem anos depois, em 2012, que passaram a disputar todas as modalidades dos jogos. Essa trajetória é sofrida e isso perdura até hoje, sendo o tênis um dos fortes exemplos em que o machismo continua arraigado. Mesmo assim, já foi muito pior; e é por isso que é necessário ressaltar a importância de atletas que foram pioneiras nesse trajeto.

Maria Esther recebe da Duquesa de Kent o troféu de Wimbledon de 1959 (Imagem: Getty Images)

Início da Carreira

Em 11 de outubro de 1939 nasce, em São Paulo, Maria Esther Bueno, que viria a se tornar a maior tenista brasileira da história. Por volta dos cinco anos, acompanhava seus pais até o Clube de Regatas Tietê, onde praticavam tênis. A pequena Maria foi crescendo dentro do esporte e conquistando espaço nos torneios infantis e juvenis. Já aos 14 anos ganhou o Brasileiro Infantil e, dois meses depois, o Brasileiro de Adultos.

Então, em 1957 vai à Flórida disputar o Orange Bowl. “Não ia sozinha para lugar nenhum, aí meus pais falaram: ‘É isso o que você quer? Tem coragem?’ Então eu fui, ganhei; daí deu um impulso muito grande na minha carreira”, relata Maria em entrevista a Roberto D’Avila para a Globo News. Apesar da falta de recursos, suas sucessivas vitórias garantiram diversos convites para campeonatos cada vez mais importantes. No ano seguinte vence o Aberto da Itália, torneio no qual joga na quadra principal, rompendo com a predominante presença masculina nas quadras centrais.

As primeiras grandes conquistas

O Estado de São Paulo publica em 5 de julho de 1959: “A vitória de Estherzinha é festejada em todo o Brasil como um feito que supera o dos craques do futebol que se tornaram campeões mundiais há exatamente um ano, na Suécia.” Com apenas 19 anos, a brasileira havia vencido, em Wimbledon, seu primeiro Grand Slam em simples. Além disso, o Aberto dos EUA também entra para as conquistas de Maria, que é considerada, naquele ano, a melhor tenista do mundo e a maior atleta de 1959, segundo a Associated Press.

Maria lê jornal que estampa sua recepção após a conquista de Wimbledon (Imagem: Folhapress)

Auge

A partir de então, a carreira de Maria Esther foi se desenvolvendo de maneira fascinante. Ao longo de sua trajetória, alcançou conquistas inéditas no tênis, como ser a primeira mulher a ganhar o Grand Slam (os 4 principais campeonatos do tênis, no mesmo ano) nas duplas, fato ocorrido em 1960. Considerada a número 1 do mundo quatro vezes (1959, 1960, 1964 e 1966), Maria Esther é detentora de incríveis 19 títulos de Grand Slam, tendo também em sua bagagem o ouro dos Jogos Pan-Americanos de 63, ocorridos em São Paulo. Um episódio curioso envolvendo a brasileira é que ela entrou para o Guinness Book ao vencer a final do Aberto dos EUA de 1964 em apenas 19 minutos. Também chegou a dar aulas de tênis para os filhos da Princesa Diana, William e Harry.

Vanguardismo dentro de quadra

Com um estilo de jogo elegante, era considerada a “bailarina do tênis”. “Sua movimentação era simplesmente etérea. Ela não andava, planava na quadra”, relata Roberto Marcher em seu livro O Tênis no Brasil. Além dos saques bem colocados e voleios fortes, também chamava atenção pela sua criatividade, o que engrandecia o típico estilo clássico da época. Bud Collins, jornalista e antigo tenista também escreveu sobre Maria: “Jogando com uma ousadia de tirar o fôlego, a ágil brasileira tornou-se a primeira mulher sul-americana a ganhar os singles em Wimbledon.”

Sua desenvoltura também chamou a atenção do famoso estilista Ted Tinling, que buscava sempre ousar nos trajes e desafiava, assim, todo o puritanismo do esporte na época. Com as saias dos vestidos um pouco mais curtas que as comuns e, certa vez, até com um forro de cor rosa pink, o designer disponibilizava à brasileira um uniforme que permitia mais agilidade e flexibilidade, além de atrever-se a contestar a convenção social padrão de Wimbledon, segundo a qual os tenistas só deviam jogar vestidos de branco.

Lesão e afastamento dos campeonatos

Como naquela época disputava-se todos os torneios (simples, duplas e duplas mistas), Maria Bueno estava sempre em quadra. No Wimbledon de 67, teve de jogar mais de 100 games em apenas um dia, o que ocasionou uma lesão seríssima no seu braço direito. Isso significou um corte no auge da sua carreira e muito tempo sem poder jogar. Ainda ganhou alguns títulos; o torneio de Tóquio, em 1974, é a sua maior superação, segundo ela mesma. Mesmo assim, sua contusão era grave e, por isso, teve que se despedir dos grandes campeonatos.

As principais conquistas no decorrer da carreira (Imagem: Bruno Menezes /Comunicação Visual – Jornalismo Júnior)

Atualmente

Sua aposentadoria, contudo, não significou um afastamento das quadras. Maria Esther segue jogando até hoje e alfineta quem a classifica como ex-tenista: “Continuo jogando, então sou tenista. Não importa se você está jogando em Wimbledon ou no clube, é um tenista. Então, ‘ex’, para mim, não tem”. Além disso, continua participando do mundo do tênis como comentarista do canal SporTV.

Reconhecimento

Além dos títulos, Maria coleciona também diversos prêmios e homenagens no mundo todo. Em 1959, foi homenageada pelos Correios, que criaram um selo comemorativo em celebração à vitória em Wimbledon. Integrante do Hall da Fama do Tênis desde 1978, a brasileira foi considerada a melhor tenista latino-americana do século XX. No Brasil, Maria Esther tem três estátuas e, em dezembro de 2015, a quadra principal do Centro Olímpico do Rio de Janeiro foi batizada com seu nome.

Essa fama, no entanto, é maior entre os europeus do que entre brasileiros. Considerando as diferenças entre Brasil e Europa em relação à cultura do tênis, e tendo em vista que, naquela época, as notícias não se disseminavam com tanta velocidade, muitas pessoas por aqui parecem ter rapidamente esquecido dos grandes feitos da tenista e o que ela representou para o esporte brasileiro. “A gente ficou num gap muito grande de tenistas mulheres, porque muitas não a viram jogar. E o Brasil tem uma amnésia muito grande na memória de quem foi (Maria Esther) no passado”, lamenta o semifinalista de Roland Garros e comentarista da ESPN, Fernando Meligeni.

Legado

Mesmo assim, é inegável a grandiosidade das conquistas de Estherzinha e o símbolo que ela foi para o esporte e para as mulheres brasileiras. “Ela foi gigantesca, os maiores resultados da história do tênis brasileiro são de Maria Esther Bueno”, completa Meligeni.

Sobre sua importância para o tênis, afirma o jornalista esportivo José Nilton Dalcim: “É a maior atleta feminina brasileira de todos os tempos. Seus feitos são incríveis e seu reconhecimento internacional, imenso. Sem falar que foi um exemplo de como superar dificuldades para obter sucesso”.

589 títulos não são para qualquer um: a “bailarina do tênis” segue intocável.

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