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Só as botas é que são velhas

Um gato. Botas. Chapéu. Espada. Sotaque espanhol. Personagem conhecido este, não? Em “Gato de Botas”, da Dreamworks, o fiel companheiro felino de Shrek volta aos cinemas – dessa vez, sem a companhia do famoso ogro ou do burro falante. Concebido como um filme para exibição exclusiva em 3D, a animação não peca em excessos e …

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Um gato. Botas. Chapéu. Espada. Sotaque espanhol. Personagem conhecido este, não? Em “Gato de Botas”, da Dreamworks, o fiel companheiro felino de Shrek volta aos cinemas – dessa vez, sem a companhia do famoso ogro ou do burro falante. Concebido como um filme para exibição exclusiva em 3D, a animação não peca em excessos e está repleta de detalhes de profundidade e perspectiva, além das cenas de ‘ação’, em que os efeitos são usados de forma inteligente. A história, por sua vez, também não deixa a desejar: é original e não usa a sequência anterior como muleta.

Ao lado de “Kung Fu Panda 2” – outra aposta (bem sucedida) da produtora – “Carros 2” e “Happy Feet – O Pinguim 2”, o filme faz parte do ‘pacote’ das animações lançadas em 2011 que retomam personagens e histórias já conhecidos (e, por que não, queridos?) pelo público. “Gato de Botas” é o único, entre todos estes filmes, que não é continuação de outro enredo.

A animação narra a origem e as aventuras do felino muito antes de conhecer Shrek, sem citar a série que a precedeu. Foragido e errante, o Gato aparece em busca de um roubo que possa ajudá-lo a pagar uma antiga dívida. Em uma cena que comicamente remete a filmes de faroeste, o felino fora-da-lei, ao parar para beber seu copo de leite em um bar cheio de homens mal encarados, ouve falar que Jack e Jill, o maior casal de criminosos e assassinos da região, conseguiram pôr as mãos nos lendários feijões mágicos. Conta a lenda que, ao serem plantadas, as sementes dão origem a uma planta que cresce até chegar à Terra dos Gigantes, onde está a Ganso dos Ovos de Ouro, promessa de riqueza para aquele que a obtiver.

Quando está prestes a roubar os feijões, a missão do gato é frustrada pelo aparecimento de um misterioso concorrente, com quem irá lutar em um duelo… de dança, ao final do qual descobre que o outro ladrão é na verdade uma ladra: Kitty Pata Mansa. Mulherengo, ele a segue para tentar conquistá-la. É quando descobre que a gata está associada a Humpty Alexandre Dumpty, amigo de infância do Gato, com quem cresceu como irmão em um orfanato na cidade de San Ricardo, mas que o traiu e é o responsável pela fama de criminoso do felino, desonrando suas botas.

Humpty apresenta um plano para que os três consigam tomar os feijões e, com os ovos de ouro, redimir o herói do crime que não cometeu. O trio, então, inicia uma grande aventura em que encontrar a Ganso Dourado é só o começo. O Gato ainda terá que enfrentar traição, redenção e tentar salvar San Ricardo de um perigo desencadeado por eles ao levar a ave da Terra dos Gigantes.

Talvez o certo desprendimento da série original seja a principal chave para o iminente sucesso do filme. Sequências sempre aparecem como grandes promessas. Promessa para o público, que tem a chance de rever personagens que o cativaram. Promessa para as produtoras, que faturam com as salas de cinema lotadas por esses fãs. No meio do caminho, entretanto, pode aparecer um percalço: mesmo baseada em uma ‘fórmula de sucesso’, a continuação pode decepcionar, com um enredo de qualidade inferior a seu antecessor. “Gato de Botas” não corre esse risco.

Além de um enredo novo e autônomo, a ambientalização da história também é completamente diferente dos quatro filmes ‘Shrek’, apesar de ainda ser o mesmo universo mágico. Fazendo jus ao sotaque hispânico do Gato, a história não se passa nas florestas, no pântano ou no Reino Tão Tão Distante. A intenção dos produtores era reproduzir a caracterização do Gato no local de onde ele vem e onde se passa essa aventura: o personagem carismático, bem humorado, ‘caliente’ e ‘sedutor’ a là Zorro, e, sobretudo, inspirado na cultura latina foi mote para a criação de um ambiente mais caloroso, claro e colorido.

A cena do duelo de dança entre o Gato e Kitty, ao misturar diversos tipos de danças latinas, desde flamenco à dança de salão contemporânea, também contribui para que o longa tenha esse clima especial, assim como a trilha sonora de Henry Jackman. Toda esta combinação dá a “Gato de Botas” uma identidade própria.

O universo em que o Gato apareceu pela primeira vez, no entanto, não se perde em meio a tudo isto. Aquele mundo de Shrek, composto por recortes de diversos contos de fadas e fábulas, está ali. A colcha de retalhos de “Gato de Botas” faz, pelo menos, três referências principais: ao conto original do Gato de Botas, à história de “João e o pé de feijão” (o próprio João aparece na animação!) e ao personagem Humpty Dumpty, presente em várias cantigas e contos infantis anglo-saxões, inclusive em “Alice através do Espelho”, de Lewis Carroll. Dublado originalmente por Antonio Banderas, o Gato também remete em vários momentos a Zorro, como ao escrever sua inicial com a espada, ou a cavalgada final do personagem.

Ao que tudo indica, “Gato de Botas” não ficará apenas no campo das apostas e a promessa de sucesso se cumprirá. A ótima produção, a riqueza dos detalhes da animação em 3D e os muitos takes de humor certamente agradarão a quem assistir.

Por Bruna Romão
bruna.romao.silva@gmail.com

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