Neste sábado (12), o Tenerife sagrou-se tricampeão mundial de clubes de basquete ao vencer o São Paulo por 89 a 68. Em partida disputada em San Cristóbal de La Laguna, na Espanha, o clube paulista não conseguiu triunfar sobre os experientes donos da casa, que seguraram múltiplas reações do estreante. Agora com três, o Tenerife figura atrás apenas do Real Madrid entre os maiores campeões da Copa Intercontinental da FIBA (Federação Internacional de Basquete) — ao lado do Varese, da Itália, e do Akron Wingfoots, dos Estados Unidos.
A equipe das Ilhas Canárias liderou desde o começo do jogo, nunca ficando atrás do placar. Com ótimo aproveitamento de pontuação vinda de turnovers (perda da posse de bola pelo adversário) e segundas chances, o Tenerife controlou o embate em todos os quartos, sem ameaça de sofrer a virada. O baixo aproveitamento nas bolas de três minou as tentativas de recuperação do Tricolor na final. Por fim, o cuidado com a bola e a capacidade de gerar mais oportunidades de pontuação foram elementos-chave dos aurinegros na conquista do Mundial.
Volume ditou liderança dos espanhóis
Os dez minutos iniciais foram de alto aproveitamento para ambas as equipes. O São Paulo acertou 60% dos arremessos tentados, sendo quatro bolas do perímetro e duas no garrafão. Porém, o Tenerife chutou mais, o que resultou em mais pontos também: foram 17 arremessos do mandante contra apenas 10 do visitante. O quarto terminou 25 a 19 para os espanhóis, com destaque para as cinco bolas de três convertidas por eles.
Tenerife vai ao intervalo com oito de vantagem
O aproveitamento não se manteve no segundo quarto, com os dois times pontuando menos do que no primeiro período. Mesmo assim, a vantagem do Tenerife aumentou devido às faltas cometidas pelos paulistanos — foram oito arremessos de lance livre convertidos dos 10 tentados. Apesar de terem aberto 10 pontos de diferença em dois momentos, os europeus fecharam o quarto com o placar de 43 a 35. O destaque foi o armador Jaime Fernández, que anotou seis pontos em 22 segundos no início do quarto.
Recomeço avassalador dos espanhóis
Logo depois de anotar os dois primeiros pontos do quarto, o São Paulo ficou mais de seis minutos sem pontuar novamente, em uma alternância entre sete arremessos errados e três turnovers. O Tenerife ampliou a vantagem para 22 pontos, com 17 pontos consecutivos interrompidos por um tiro de longa distância certeiro de Coelho. Minutos depois, o camisa 10 do SPFC liderou a equipe a uma corrida de 9 a 0 para cortar a diferença para 11 pontos. Coelho anotou 13 pontos e deu uma assistência nos quase cinco minutos em quadra.
Dominância do garrafão não abre margem para dúvidas
Se alguma reação tricolor parecia ameaçar o Tenerife, a possibilidade se extinguiu com uma sequência de 10 a 0 em três minutos em que o São Paulo não pontuou. A liderança espanhola, que era de 10 pontos, dobrou nesse período e chegou a atingir 23 pontos com uma enterrada de Elvin Cook no final do jogo. O contraste entre a alta porcentagem de conversão dos arremessos do Tenerife (77%) e a baixa quantidade de pontos anotados pelo Tricolor refletiu no último quarto, que teve domínio total da equipe espanhola até o estouro do cronômetro. O Tenerife, do MVP (Jogador Mais Valioso, do inglês Most Valuable Player) Bruno Fitipaldo, foi campeão da Copa Intercontinental FIBA por 89 a 68.
Giorgi Shermadini, pivô georgio do Tenerife, levanta o troféu do Mundial junto de Huertas. [Imagem: Reprodução/Instagram @cbcanarias]
Como chegaram até aqui?
A Copa Intercontinental FIBA reúne os campeões da Basketball Champions League Americas (BCLA), Basketball Champions League (BCL, competição concorrente com a Euroliga), Basketball African League (BAL) e o campeão da NBA G-League. Devido à constante recusa das franquias da NBA em disputar a competição, a FIBA optou por classificar o campeão da liga de desenvolvimento da NBA. Duas partidas de semifinais decidem os clubes finalistas. Na decisão da atual edição, o Tenerife passou do US Monastir para encarar o São Paulo, que havia eliminado o Rio Grande Valley Vipers.
São Paulo
Representante do continente americano no torneio, o São Paulo conquistou a BCLA de forma inédita e invicta. Foram nove partidas disputadas pelo Tricolor, com o melhor ataque e a terceira melhor defesa durante a fase de grupos. Na fase eliminatória, eliminou o Real Estelí (Nicarágua) e o Minas, chegando ao confronto decisivo contra o Biguá (Uruguai). A equipe paulista dominou do começo ao fim e foi campeã, com atuação implacável do MVP das Américas, Bruno Caboclo.
A BCLA 2022 foi o primeiro triunfo internacional do SPFC. Desde o retorno do time ao basquetebol profissional em novembro de 2018, o clube tinha vencido apenas um troféu de expressão: o Campeonato Paulista de 2021. Ainda assim, figurou entre os principais times nas últimas edições do NBB (Liga Nacional de Basquete) e da Copa Super 8.
Pela semifinal da Copa Intercontinental FIBA, o São Paulo superou o Rio Grande Valley Vipers, campeão da NBA G-League, por 91 a 70 e avançou à final contra o Tenerife. Com um ataque sistemático, os brasileiros abriram 30 pontos de vantagem ao final do terceiro período e seguraram a liderança. Cinco tricolores tiveram dígitos duplos na pontuação, com destaque para Malcolm Miller, com 24 pontos. Elinho distribuiu 10 assistências e Túlio da Silva colaborou com um duplo-duplo (quando um jogador atinge dígitos duplos em duas estatísticas do basquete, principalmente os pontos, rebotes e assistências).
Tenerife-ESP
O representante europeu, campeão da BCL 2022, é o clube espanhol Lenovo Tenerife. Para chegar ao mundial, a equipe disputou 13 partidas na competição europeia, teve aproveitamento de 100% no quadrangular e manteve a invencibilidade nos playoffs. Após despachar o Tofaş Bursa (Turquia) e o Hapoel Holon (Israel) em partidas acirradas, enfrentou o clube espanhol BAXI Manresa na final, conquistando a BCL. O prêmio de MVP foi entregue ao brasileiro Marcelo Huertas.
O Tenerife tem uma história traçada desde 1939, mas o clube foi fundado em 1994 a partir da fusão de times das Ilhas Canárias. Os aurinegros conquistaram o acesso à primeira divisão da Liga Endesa ACB (Asociación de Clubs de Baloncesto), a competição nacional de basquete na Espanha. Os espanhóis foram duas vezes campeões continentais pela BCL (2017 e 2022) e dois mundiais (2017 e 2020 – na última edição vencida foi anfitrião).
Na semifinal da atual edição do mundial, o Tenerife venceu o US Monastir, campeão da BAL 2022, por 112 a 42. Ao segurar os tunisianos a 29% de aproveitamento de quadra e anotar 20 bolas do perímetro, os aurinegros chegaram a abrir uma diferença no placar de 72 pontos e lideraram durante todo o jogo.
Além das sete assistências, o brasileiro Marcelo Huertas contribuiu com 5 pontos na vitória contra o US Monastir. [Imagem: Emílio Cobos/Tenerife/Twitter]
O que fica para cada clube?
Apesar da derrota na final, o projeto do SPFC Basquetebol está bem consolidado nas mãos do técnico Bruno Mortari. Com um plantel experiente, o time paulistano teve boas campanhas nas principais competições que disputou, colocando-se páreo a clubes como Flamengo, Minas e Franca. Na atual edição do NBB, está na terceira posição e tem o melhor ataque da liga. Caso chegue à final, o São Paulo pode voltar a disputar a BCLA. Nos últimos cinco anos, o objetivo da instituição foi de criar uma cultura vencedora dentro e fora do país.
Por sua vez, o Tenerife mantém a recente tradição internacional ao conquistar seu terceiro título mundial nos últimos seis anos. Na Espanha, no entanto, a equipe de Huertas ainda busca o seu primeiro título ou mesmo uma campanha que chegue à final. São 17 vitórias em 22 jogos na atual temporada, o suficiente para a quarta colocação, atrás de Real Madrid, Barcelona e Saski Baskonia.
*Imagem de capa: Reprodução/Emílio Cobos/Tenerife/Instagram