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Tim Bernardes: entre recomeços e coisas invisíveis

Um passeio pela dimensão instrumental e coletiva da música de Tim Bernardes
Por Clara Zamboni (clara.candiotto@usp.br)

     “(minha música) é um artesanato moderno em uma era pós-internet

                                                                                          Tim Bernardes

Hoje, 18 de junho, Tim Bernardes, cantor e compositor brasileiro da cena Indie atual, completa 33 anos de idade. O músico é responsável pelos vocais e pela guitarra da banda O Terno — com Biel Basile na bateria e Guilherme d’Almeida no contrabaixo — e conta com dois álbuns solo, Recomeçar (2017) e Mil coisas Invisíveis (2022). Com arranjos de cordas, melodias ao piano ou até mesmo com um solitário violão, a discografia de Tim recebe o ouvinte em um universo musical singular, que, frequentemente, é passado para o plural e se distingue facilmente em parcerias. 

Em abril deste ano, Tim realizou uma participação especial no show do cantor português Salvador Sobral — ganhador do festival EuroVision 2017 —, nas canções Anda a Estragar Meus Planos (Salvador Sobral) e Esse Ar (Tim Bernardes), gravadas no canal do Youtube do brasileiro em 2019 e revisitadas em 2024 nos palcos do SESC Pinheiros. Segundo a jornalista e pesquisadora de música Lina Andreosi, em entrevista ao Sala 33, a parceria surgiu a partir de uma afinidade cultural de Tim com Portugal e sua música, tornando natural o alinhamento entre os músicos. 

Tim Bernardes e Salvador Sobral durante show no Sesc Pinheiros
  Os shows de Salvador Sobral no SESC Pinheiros contaram com a presença de outros artistas brasileiros, como Zé Ibarra.  [Imagem: Lina Andreosi]

De ouvinte curioso a músico profissional

A formação musical de Tim, antes Martim Bernardes Pereira, ocorreu desde a juventude. Nascido em um lar musical, o filho do compositor Maurício Pereira cresceu apreciando grandes nomes da música brasileira, como Milton Nascimento, Maria Bethânia e Gal Costa. O jovem Martim, que não se identificava com o que tocava nas rádios no início dos anos 2000, tornou-se um explorador, por meio da internet, do cenário musical nacional e estrangeiro dos anos 60/70 e de produções alternativas e independentes. Estabeleceram-se, então, suas principais referências: The Beatles, The Beach Boys, The Kinks, Os Mutantes, Milton Nascimento, Maria Bethânia, Mac DeMarco e Fleet Foxes. Estes elementos se apresentam, inclusive, nas letras do cantor: “Eu acredito em Beatles/ Eu quero acreditar” (Mistificar).

“O Tim Bernardes trouxe de volta ao mercado musical de gênero pop aspectos musicais deixados de lado pelas produções de massa e elementos que remetem à psicodelia das décadas de 60 e 70, tais como efeitos de estúdio, e composições que extrapolam as formas mais usuais”, comenta Ernesto Gennari, músico e guitarrista.

Tim Bernardes tocando guitarra
No Spotify, uma playlist com o nome tim’s worldddd (mundo do Tim), criada pelo cantor, apresenta diversas de suas referências. [Imagem: Reprodução/ Instagram/ @timbernardes]

Em 2009, Tim Bernardes, Biel Basile, e Guilherme de Almeida fundaram o conjunto O Terno, cuja identidade musical pode ser definida por rock Indie. Lina Andreosi observa desenvolvimento musical do primeiro álbum do grupo, 66 (2012), ao mais recente, Atrás/ Além (2019).  Ainda assim, a jornalista afirma que Tim, em seu trabalho solo, guardou por muito tempo músicas que não seguiam o perfil sonoro da banda.  “As músicas autorais dele são mais introspectivas e têm referências mais distantes do rock, com mais arranjos de orquestra e foco em suas habilidades vocais”, complementa. 

O artesanato instrumental  

A produção instrumental de Tim Bernardes é caracterizada por sua intensa atividade na gravação, já que o artista não se limita ao processo de composição, mas expande-se para a performance dos instrumentos. De acordo com Lina, a confiança que Tim ganhou no desenvolvimento de seus próprios trabalhos é a principal diferença entre suas obras em banda e solo. “Em ambos os seus trabalhos solo, Tim assina a composição, produção e execução de praticamente todos os instrumentos, com exceção de sopros, violinos e algumas percussões.”

Seu primeiro álbum solo, Recomeçar (2017), oferece aos ouvintes uma amostra da atmosfera de seus trabalhos. A faixa título, que leva o mesmo nome e está presente no início e no final do álbum, conta com um arranjo de piano que, em sua simplicidade, toca os ouvintes com sua melancolia característica das despedidas amorosas. São também notáveis os arranjos de cordas, que, presentes na maioria das suas composições, contemplam a mistura entre lamento e necessidade de transformação presente na letra da música. Segundo Ernesto Gennari, “os arranjos de cordas e orquestra permitem uma visão mais cinematográfica das músicas, com trechos que caberiam muito bem como possíveis trilhas sonoras.”

As cordas acompanham Tim em quase todos os seus trabalhos solo, permitindo que o compositor acesse a atmosfera mística sugerida por suas letras. Assim, elas fazem parte da assinatura sonora de suas composições e introduzem sua presença nas canções. Ernesto aponta que Tim, fora do contexto musical da banda, trabalha com uma instrumentação variada e dinâmica, de modo a emitir sons orgânicos.

A percussão também é um dos componentes particulares de suas composições: em uma de suas performances da canção As Histórias do Cinema, no programa Reverbera (2017-presente), o cantor utiliza batidas das unhas no microfone para criar o padrão rítmico replicado pelo piano. Na canção BB, uma das faixas mais conhecidas do álbum Mil Coisas Invisíveis, e em Fases, por exemplo, as palmas contribuem para a criação do som orgânico e intimista de Tim.

As parcerias: intersecções entre universos musicais

Participações e colaborações com artistas brasileiros e estrangeiros são comuns na carreira do artista, desde nomes consagrados da música brasileira, como Gal Costa e Maria Bethânia, a potências jovens, como Manu Gavassi e Baco Exu do Blues. Segundo Lina, o sucesso de Tim nessas produções se deve à universalidade de suas composições, que facilmente se encaixam na discografia de outros artistas sem prejuízos às suas particularidades sonoras. Assim, Tim torna-se facilmente identificável em trabalhos em conjunto. 

Por meio das parcerias com Gal Costa e Maria Bethânia, Tim Bernardes pôde estabelecer uma ligação entre épocas musicais distintas. O cantor traz importantes ícones para produções contemporâneas, sejam elas composições inéditas, como Prudência, gravada por Bethânia, sejam regravações de clássicos, como Baby, com Gal. 

Tim Bernardes ao lado de Maria Bethânia
“Quando Bethânia mostrou Prudência a Caetano Veloso, seu irmão,  ele perguntou quando a música havia sido lançada, assumindo que a composição era do século passado”, comenta Lina. [Imagem: Reprodução/ Instagram/ @timbernardes]

Um Guitarrista entregue à canção 

Na performance da guitarra, presente na discografia do Terno, as escolhas de Tim são marcadas pelo efeito de Fuzz — que consiste na distorção do áudio —, como pode ser observado em sua participação na música Tigresa, de Caetano Veloso, com Gal e Rubel nos vocais no Coala Festival 2022.

“O Tim não é um guitarrista preocupado com o instrumento estar à frente da canção. Tem técnica boa e usa disso para a canção, não assumindo a tão almejada posição de estrela solista”, comenta Ernesto.

A guitarra tocada por Tim é do modelo Höfner,  utilizado também por Paul McCartney, que toca baixo elétrico.  [Imagem: Acervo Pessoal/ Lina Andreosi]

A despedida do terno dos palcos

No dia 29 de abril deste ano, O Terno anunciou as datas de seus últimos shows, seguidos de um hiato por tempo indeterminado. Desde sua fundação, em 2009, até a época atual, o trio percorreu os caminhos da música indie com sua sonoridade que remete ao rock nacional e internacional dos anos 60/70. Com suas letras envolvidas por aspectos que transcendem a vida material, como a transformação, o tempo e o amor, o Terno coloca-se, agora, diante da possibilidade de superar as barreiras do tempo e permanecer nos corações dos ouvintes. Atualmente, sem previsão para o lançamento de um novo álbum, Tim dará continuidade aos shows do álbum Mil Coisas Invisíveis (2022) em setembro de 2024, com apresentações marcadas no Brasil e nos Estados Unidos.

 O Terno fará uma última apresentação na cidade de São Paulo em setembro de 2024, no Coala Festival. A banda fez parte da primeira edição do evento, em 2014. [Imagem: Acervo Pessoal/ Carolina Andreosi]

Milhas e milhas distante / Anos e anos depois / Muita, mas muita esperança / Você tenta/ Você tenta também / Você tenta/ Você tenta ir além

Atrás/Além, O terno 

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