É difícil criar grandes expectativas com a sinopse do drama O Juiz (The Judge, 2014) – aliás, a impressão que se tem é que a história já foi contada muitas vezes antes. Temas tradicionais do cinema como volta para casa, tribunais e reconciliações familiares compõem a base do longa dirigido por David Dobkin. Essa mistura de subgêneros, alguns que oscilam facilmente entre a pieguice e o bom gosto, poderia ter sido a ruína do filme. Mas o que acontece é o contrário. A verdade é que a história pode ter sido contada muitas vezes antes, mas nunca da maneira que O Juiz fez.
Com um roteiro impecável, O Juiz acompanha Hank Palmer (Robert Downey Jr.), um advogado inteligente e arrogante acostumado a manipular a lei para inocentar seus clientes. Quando recebe a notícia que sua mãe faleceu, é obrigado a voltar para a cidadezinha de Carnville, Indiana. Ali, Hank reencontra seu passado e as lembranças que tinha deixado para trás. A relação com o pai (Robert Duvall), juiz íntegro e respeitado da cidade, é o ponto central da história. Frio, sério e distante, o juiz (como é conhecido na cidade) parece divergir das opiniões de Hank e renegar o filho em todos os sentidos. Quando o pai é acusado de homicídio, Hank é obrigado a ficar na cidade para defendê-lo, apesar deste se recusar a aceitar ajuda. Ao tentar descobrir a verdade sobre o caso, Hank acaba reencontrando e descobrindo verdades sobre a sua vida e da sua família que havia deixado passar há anos.
Dessa história simples, os astros Robert Downey Jr. e Robert Duvall extraíram o que havia de melhor. Os dois atores, um indicado ao Oscar e o outro vencedor de um, mostram em O Juiz o por que de serem tão respeitados no ramo do cinema. A química entre ambos é tão boa que é fácil acreditar no que você vê e relacioná-las com a vida real. Acostumado a interpretar pesonagens arrogantes, Downey Jr. mostra em O Juiz que é capaz de colocar um lado mais sensível em seus papéis. De Robert Duvall, não há nem o que falar. Você odeia, respeita e adora seu personagem numa mesma cena.
Os momentos tensos que a dupla divide em cena são contrapostos com outros de extrema sensibilidade, como os que abordam os problemas da velhice. Mas o filme não mostra só a relação entre Hank e o pai, mas entre marido e esposa, entre irmãos, entre ex-namorados. E absolutamente todas são bem construídas e sólidas, sem deixar fios soltos na história.
Sem exageros ao tender para o drama e com um tom balanceado entre a seriedade e o humor, a trama se constrói sólida e instigante. As revelações sobre a acusação de homicídio comovem e causam dúvidas no público durante o desenrolar do filme. A dureza e convicção do juiz em manter sua honra versus a vontade do filho em inocentá-lo independente dos meios a serem usados entram em confronto todo o tempo e elucidam pontos do passado que ajudam a construir o enredo.
De O Juiz fica uma lição: o roteiro mais simples, porém bem construído, se contar com um diretor, uma produção e atores de primeira linha, pode se tornar um filme que merece ser visto.