O paraíso existe e ele pode ser do jeito que você sonhou. Após uma vida exaustiva, é possível viver em um hotel luxuoso, escolher a estação do ano, ter uma vista belíssima e um café delicioso todos os dias. Ainda melhor, você pode manter contato com seus entes queridos e o amor da sua vida pode, inclusive, te fazer uma visita íntima. O paraíso existe, mas não da forma que você imaginou, aqui ele é artificial. Na nova série da Amazon, Upload, a vida após a morte é digital e para entrar nela é preciso pagar. Upload é uma comédia Sci-Fi distópica, em que, no futuro, a religião deixa de ser encarregada de levar as almas ao paraíso e a tecnologia faz esse trabalho. Lakeview é uma extensão digital da vida, objeto de desejo de toda essa sociedade futurística.
A série tem como centro Nathan Brown (Robbie Amell), um programador que morreu em um misterioso acidente de carro autônomo. Nathan aceita entrar no mundo de Lakeview ao chegar no hospital, prestes a perder seus sinais vitais. Quem o recebe nessa nova fase é Nora (Andy Allo), seu “anjo” naquele lugar — encarregada de fazer a passagem de Nathan e ajudá-lo nesse processo. Ao longo do tempo, eles desenvolvem sentimentos um pelo outro, o que traz um tom mais romântico à série.
A vida após a morte é um assunto muito intrigante e já foi abordado pela série The Good Place, que tem uma ligação curiosa com Upload. Os roteiristas Michael Schur (The Good Place) e Greg Daniels (Upload) já trabalharam juntos em outra produção muito famosa, The Office. Com o sucesso alcançado, Daniels carrega uma reputação à qual faz jus em Upload. Ele consegue juntar tecnologia, comédia, romance e um pouco de mistério em uma só obra, com um humor que, às vezes, beira o grotesco, mas consegue tirar risos do espectador.
Por outro lado, a série é um prato cheio para os amantes de Sci-Fi, nela estão os carros autônomos, telefones com holograma, aplicativos de namoro que oferecem o match perfeito, além de impressoras 3D que cozinham. Nesse ponto, Upload mostra que não está para brincadeira, os efeitos especiais são muito realistas, principalmente no que tange às novas tecnologias, ao ponto de levantar a dúvida em quem assiste: “será que essas coisas já não existem mesmo?”. A atuação é algo à parte, o desempenho dos protagonistas é primoroso, eles entregam carisma desde o início e conseguem cativar ainda mais o espectador, ao longo dos episódios. Outro destaque é a personagem Aleesha (Zainab Johnson) — colega de trabalho e melhor amiga de Nora — que entrega alguns dos momentos mais hilários da série.
Um dos lados sombrios desse futuro é que a comida, como a conhecemos, virou um privilégio de poucos. Embora esse paraíso digital traga muitos benefícios, eles são restritos à elite. O capitalismo realmente atingiu o seu ápice aqui, porque esse afterlife digital é dividido por classes e tudo é mediado pelo consumo. Para exemplificar, imagine um hotel com milhares de andares, quanto mais alto o andar maior os privilégios, quanto mais baixo, menor os privilégios. As pessoas de baixa renda conseguiram conquistar seu lugar em Lakeview, porém, para elas sobraram os restos.
Em outro momento, Upload traz contraste entre fé e racionalidade, em discutir até que ponto a tecnologia pode se encarregar da vida após a morte. Essa reflexão sobre religião e razão é feita por um personagem que acredita que sua finada esposa o espera no céu cristão. O roteiro em toda série é muito bem escrito e executado e consegue tratar com sensibilidade temas tão delicados quanto fé, religião e morte.
O objetivo da série é, primordialmente, fazer uma sátira, tirando risos do espectador. No entanto, todos os questionamentos levantados por Upload são muito válidos e atuais. Aqui, então, nos resta rir, mas com a mão na consciência.
Upload e sua distopia cômica combina risos e questionamentos e merece uma chance. A série está disponível na Amazon Prime Video.