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Valentino Rossi, o “Doutor” do motociclismo

Nove vezes campeão mundial, o piloto de motovelocidade Valentino Rossi se tornou um dos maiores nomes do esporte mundial 
Arte de imagens do Valentino Rossi

Por Maria Clara Ramos (mariaclarasr@usp.br)

Há 15 anos, Valentino Rossi conquistava seu 9º e último campeonato mundial de motovelocidade. Em 26 anos de carreira, o piloto disputou mais de 400 corridas, das quais venceu 115. Seus impressionantes resultados lhe concederam o apelido de “O Doutor” da motovelocidade.

“A história do Valentino não é pouca”, comenta Eduardo Cunha, piloto vice-campeão gaúcho de motovelocidade e fã de Rossi, em entrevista ao Arquibancada. “Foram quase seis mil pontos e 235 pódios em sua trajetória.” O eneacampeão é considerado por muitos o maior de todos os tempos do motociclismo.

Início da carreira

Valentino Rossi nasceu em 16 de fevereiro de 1979, no norte da Itália. Passou sua infância na cidade de Tavullia, onde deu seus primeiros passos e suas primeiras voltas em uma motocicleta. A ligação com a velocidade veio do berço: seu pai, Graziano Rossi, foi piloto de motovelocidade pela equipe Morbidelli até 1982, e despertou no filho o amor pelo esporte.

Assim como grande parte dos atletas de alto nível dos esportes a motor, Rossi iniciou sua experiência nas pistas muito jovem. Desde criança, já demonstrava interesse em minimotos e participava de competições de kart. Na adolescência, redirecionou sua carreira para as motocicletas, e aos 17 anos, estreou nas competições mundiais. A partir dessa época, o italiano passou a cultivar sua icônica identidade visual: o número 46, em homenagem ao utilizado por seu pai nas pistas, e o amarelo fluorescente se tornaram a grande marca registrada do piloto. 

Valentino Rossi correndo de moto

Sua primeira vitória nas 250 cilindradas aconteceu no Circuito de Assen, na Holanda, conhecido como “A Catedral” da motovelocidade [Reprodução/Youtube/MotoGP] 

Em 1997, levantou o troféu de campeão mundial pela primeira vez, pela equipe Aprilia, na categoria das 125 cilindradas. Já o título nas 250 cilindradas, divisão com motocicletas mais potentes, chegou dois anos mais tarde, em 1999. Com uma temporada espetacular, Rossi construiu uma grande vantagem no campeonato e foi declarado campeão com uma corrida de antecedência. Segundo Cunha, Valentino “era agressivo, mas tinha cabeça e sabia o que fazer na pista”.

MotoGP

Em 2000, após assinar um contrato com a Honda, Rossi conseguiu sua vaga na categoria principal. Sua primeira vitória nas 500 cilindradas aconteceu na temporada de estreia, aos 21 anos, no circuito inglês de Donington Park. Rossi largou em 4º lugar, mas superou seus adversários em uma corrida chuvosa e conquistou a liderança com apenas três voltas para o final.

Valentino Rossi correndo de moto

 Em 2002, o mundial deixou de se chamar 500cc e tornou-se a MotoGP; atualmente, os veículos contam com 1000 cilindradas [Reprodução/Youtube/Tnt Sports]

Nos anos seguintes, de 2001, 2002 e 2003, a combinação entre uma moto dominante e um piloto excepcional garantiu a Valentino e sua equipe três títulos mundiais consecutivos. Já em 2004, Rossi fez uma aposta arriscada: deixou a Honda para iniciar uma nova fase, na Yamaha. A equipe japonesa não levava um título na categoria rainha há 12 anos, e a transição foi recebida com desconfiança pelos fãs.

Mas a decisão provou-se mais uma manobra precisa do Doutor: a parceria com a Yamaha rendeu quatro títulos mundiais, números que superaram suas conquistas na Honda. Depois de seis anos, o piloto anunciou sua ida para a equipe Ducati, mas os resultados abaixo do esperado o motivaram a voltar para a Yamaha em 2013, onde ficou até sua aposentadoria. 

Além de vitórias, Valentino também colecionou rivais na MotoGP. Em entrevista à BT Sport, destacou o brasileiro Alex Barros entre seus diversos adversários: “É um piloto muito rápido. Com ele, pude aprender a frear e a entrar nas curvas”, contou Rossi. Porém, a rivalidade mais polêmica de sua carreira foi com o espanhol Marc Márquez, seis vezes campeão da MotoGP. 

“É uma rivalidade que gera discussão até hoje”, afirma Hamilton Rodrigues, apresentador e narrador da MotoGP nos canais ESPN. Na temporada de 2015, diversas disputas entre os pilotos terminaram em quedas, e Valentino chegou a acusar Márquez de ajudar o companheiro de equipe do italiano, Jorge Lorenzo, nas pistas, favorecendo-o na briga pelo título. “Os dois eram tão importantes na época do acontecimento que as autoridades que gerem o esporte se esconderam de uma decisão mais eficaz, para não magoar ninguém. Não deu certo”, opinou ainda o apresentador. Atualmente, Rossi e Márquez declaram-se incapazes de uma reconciliação. 

Valentino Rossi e Marc Márquez correndo de moto

No Grande Prêmio da Malásia de 2015, Valentino foi acusado de chutar Márquez de sua moto, após o espanhol sofrer uma queda ao se aproximar muito da Yamaha do italiano [Reprodução/Youtube/MotoGP]

Título de 2009

A temporada de 2009 da MotoGP trouxe grandes reviravoltas. O regulamento sofreu uma série de alterações, e as equipes tinham que se adaptar a um novo fabricante de pneus. “Ingredientes não faltavam para uma temporada daquelas”, comenta Hamilton.

Os protagonistas do Mundial daquele ano foram os companheiros de equipe Valentino Rossi e Jorge Lorenzo. Os dois pilotos da Yamaha se revezaram na liderança do campeonato durante todo o ano, dividiram nove pódios, e garantiram uma temporada com batalhas eletrizantes aos fãs do esporte. 

A primeira vitória de Rossi veio na terceira etapa do campeonato, em Jerez. A conquista garantiu ao italiano a liderança no mundial, apenas um ponto à frente de Lorenzo. Na corrida seguinte, o espanhol foi o primeiro a ver a bandeira quadriculada e tornou-se líder, dessa vez com um ponto de vantagem sobre Rossi. 

Para Hamilton Rodrigues, “o GP da Catalunha de 2009 foi o ápice desta rivalidade, sendo considerado por muitos o maior GP de todos os tempos da MotoGP. Foi tão dramático que ofuscou até mesmo o GP da conquista do título”. Rossi e Lorenzo ultrapassaram um ao outro diversas vezes na prova, e nas voltas finais o resultado ainda estava em aberto. Porém na última curva da última volta, Valentino conseguiu assumir a ponta, e cruzou a linha de chegada 95 centésimos a frente de seu companheiro de equipe. Com o resultado surpreendente, os dois pilotos da Yamaha ficaram empatados na liderança do campeonato, com 106 pontos cada. 

Valentino Rossi com o cartaz comemorando sua centésima vitória

Ainda naquele ano, Valentino conquistou sua 100ª vitória na motovelocidade e comemorou com um grande cartaz com imagens de todas as suas vitórias anteriores [Reprodução/Instagram/@memasgp]

Com seis vitórias ao longo do ano, Rossi chegou à penúltima corrida da temporada, o Grande Prêmio da Malásia, com uma vantagem considerável sobre Jorge Lorenzo. O italiano largou na pole position no domingo, mas perdeu posições e terminou a prova apenas em terceiro lugar, atrás do vencedor Casey Stoner e de Dani Pedrosa. Porém, a quarta colocação de Lorenzo na corrida garantiu a Valentino uma vantagem de 40 pontos no campeonato, e com apenas uma etapa restante na temporada, consagrou o Doutor campeão mundial pela 9ª e última vez, em 25 de outubro de 2009.

Hoje em dia, Rossi enxerga sua rivalidade com Lorenzo com leveza: “Depois de tudo que fiz pela Yamaha, eu não merecia um companheiro de equipe como Lorenzo. Eu precisava de alguém um pouco mais lento” brincou em entrevista em 2021. “Ficamos juntos (na mesma equipe) por seis ou sete anos, como uma longa história de amor”, completou o piloto de Tavullia.

Legado

O anúncio oficial de aposentadoria aconteceu em 5 de agosto de 2021, e em 14 de novembro daquele ano, Valentino Rossi disputou seu 432º e último Grande Prêmio de MotoGP. “Considero ele o mais importante de todos, não só pelos títulos e desempenho, mas pela visibilidade que trouxe ao esporte. Ele tem o DNA de vencedor mais aguçado dentro e fora das pistas”, disse ainda Hamilton Rodrigues. Entre os motivos de sua partida, o campeão mundial compartilhou que seria pai pela primeira vez.

Valentino Rossi beijando sua filha

O nascimento aconteceu no fim de semana de estreia da temporada de 2022, a primeira sem Rossi: “Valentino viu a corrida com Giulietta nos braços”, contou Francesca Sofia Novello, mãe de Giulietta, ao podcast Mamma Dilettante [Reprodução/instagram/@valeyellow46]

“Ele saiu na hora que tinha que sair. Fez a parte dele na motovelocidade e não precisava provar mais nada para ninguém”, afirmou Eduardo Cunha. O piloto brasileiro conta que ele e a esposa já viajaram 1100 km até Buenos Aires para ver Valentino Rossi competir na MotoGP. A legião de fãs de Valentino o acompanhou em todas as corridas, lotando as arquibancadas com bandeiras amarelo-fluorescentes.

“Valentino Rossi foi o melhor que eu pude assistir e narrar no mundial de motovelocidade até hoje. Se tivéssemos a possibilidade de juntar todos os grandes de todos os tempos num GP, acredito que ele estaria no pódio”

Hamilton Rodrigues, narrador da MotoGP

Mesmo depois de se aposentar, Rossi nunca se afastou totalmente das pistas. Em 2014, fundou sua própria equipe, a VR46 Racing, que atualmente compete na MotoGP com os pilotos Fabio Di Giannantonio e Marco Bezzecchi. O italiano também possui uma academia de talentos, a VR46 Academy, que, em 2024, conta com seis pilotos em três categorias, incluindo o atual vice-líder da MotoGP, Pecco Bagnaia.

Para Hamilton Rodrigues, esse é o maior legado de Valentino Rossi: “No grid do mundial de motovelocidade alinham-se campeões mundiais que já passaram pelas mãos formadoras do VR46. A imagem de vencedor e bem-humorada [de Valentino] está alinhada com a de formador de gerações de vencedores. Existe também o lado empresarial, que merece destaque. Na maioria dos GPs, a tenda de venda de produtos da VR46 é a maior e mais frequentada”. 

Rossi também se dedica a competições automobilísticas. Nos últimos anos, disputou diversas corridas em categorias de Endurance (provas de longa duração), como as 24 Horas de Spa-Francorchamps, e a 5ª etapa da WEC 2024, corrida de 6 horas que aconteceu no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Valentino Rossi e Lewis Hamilton
Valentino Rossi pilotando um carro de Fórmula 1

Em 2022, Rossi trocou de assento por um dia com o heptacampeão mundial de Fórmula 1 Lewis Hamilton, que pilotou uma motocicleta ao lado do italiano no Circuito de Valência [Reprodução/Youtube/Sky Sports F1]

Para as gerações seguintes da motovelocidade, Valentino segue como uma grande inspiração. “A maioria dos pilotos de hoje tem uma foto que pediram para tirar com Rossi quando eram crianças”, conta Eduardo. O legado do Doutor é único, mas existem candidatos para se tornarem seus sucessores. “Vou citar dois: Pedro Acosta e David Alonso”, contou Hamilton Rodrigues ao Arquibancada

“Acosta foi campeão da Moto2 em 2023 e no primeiro ano de MotoGP tem quatro pódios em 15 etapas. Tem tudo para amadurecer muito rápido e conquistar o primeiro GP ainda nesta temporada. Em 2025, pode vencer corridas. Alonso tem somente 18 anos e está na Moto3, onde já venceu 13 corridas. Este ano, ganhou nove de 15 etapas. É dono de uma inteligência esportiva enorme. Sabe traçar a estratégia na pista como nenhum outro na categoria. Ano que vem estará na Moto2 e o futuro será brilhante. Acredito que estamos vendo crescer um novo campeão do mundo na classe rainha”, apostou o apresentador.

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