Sandra Maria Lúcia Pereira Gonçalves é fotógrafa, possui graduação em Comunicação Visual, mestrado e doutorado em Comunicação e Cultura é palestrante da quinta-feira, 22, da VII Semana de Fotojornalismo, a fotógrafa falou sobre o evento: “Não conhecia a Semana de Fotojornalismo e fiquei feliz com a iniciativa dos alunos. Considero importante a criação de espaços de debates sobre certas disciplinas, tidas como práticas, que exigem um grau de reflexão aprofundado”.
Como fotógrafa documentarista social, trata recorrentemente o humano e suas relações com o mundo e é autora do artigo “Por uma fotografia ‘menor’ no fotojornalismo diário contemporâneo”, onde aborda a prática de uma fotografia aberta a diferentes leituras e que, mesmo quando vinculada a um fato noticioso específico, nele não se esgota.
Sua relação com a imagem vem de cedo. Já na infância, em Guaratinguetá, tinha aulas de pintura com Marta Santos, além de ter iniciado seus experimentos com a fotografia com a câmera da família – uma Olympus Trip, lembra-se ainda. O hobby de criança tornou-se decisivo para a carreira de Sandra. “Hoje posso dizer que a fotografia é minha paixão, minha obsessão seja através da tomada de imagem ou como matéria para o pensamento e reflexão teórica”.
Graduou-se na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e tornou-se mestra e doutora na Escola de Comunicação da mesma universidade. Junto ao mestrado, fez o curso Bloch de fotojornalismo, em 1995. A partir daí, começou estudar o tempo através da linguagem fotográfica. “Passei a observar como o passado insiste em habitar o presente, como o futuro está já inscrito no passado, presentificado nos corpos dos homens e da cidade”. Tal reflexão teve como objeto os carvoeiros do centro urbano do Rio de Janeiro, nascendo o ensaio Carvoarias Urbanas. “No encontro da cidade com os carvoeiros, temporalidades se cruzam: o tempo da cidade, marcado pela velocidade, pela aceleração, pelo efêmero e um tempo mais lento, próprio, representado pelas carvoarias urbanas, um tempo cumulativo, sedimentar que se adensa nos corpos, nas paredes, nos ladrilhos que recobrem o chão”.
Em 1997, passou a ministrar cursos universitários: Foi professora de Introdução à fotografia, Fotojornalismo e Teoria da Imagem. Hoje, trabalha na FABICO (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Considero que as disciplinas que tratam da imagem fotográfica são fundamentais para os futuros profissionais da comunicação, para o desenvolvimento de um olhar crítico em relação às imagens, bem como sua desnaturalização”.
Entre seus artigos, destaca-se o tema do fotojornalismo menor, que quebra com a ideia da objetividade absoluta na fotografia e propicia reflexão e pensamento crítico. “Sempre considerei que as imagens jornalísticas não deveriam ser a mera constatação de fatos, mas levar o leitor além e criar a oportunidade de torná-lo um caçador de sentidos possíveis e latentes na imagem informativa. Então, o que me atrai em trabalhos de fotojornalistas é esse algo mais, essa centelha que faz o leitor mergulhar na imagem e desacelerar olhar”.
Quanto a esse tipo de fotojornalismo no Brasil, Sandra cita o Zero Hora. “Desde que conheci o jornal, há cerca de oito anos, me chamou a atenção a fotografia praticada por certos repórteres. Sem deixar de ser testemunho e documento, essa ‘nova’ imagem demanda um ‘exercício do olhar’, tanto do fotógrafo como de seu leitor, tira ambos de leituras convencionais e massificantes dos fatos. Há uma aposta na inteligência e na sensibilidade do leitor, tirando-os do conforto de leituras simplistas e acomodantes”.
por Ana Carolina Leonardi e Amanda Manara
carolinamleonardi@gmail.com e apmanara@gmail.com