Um dos palestrantes convidados para falar sobre o Tabu do Corpo, na VII Semana de Fotojornalismo da Jornalismo Júnior, é o fotógrafo Hugo Lenzi que é formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e decidiu se tornar fotografo quando o cinema brasileiro entrou em crise no início dos anos 1970, começo da ditadura.
Já fotografou para revistas como Playboy, Vogue, Claudia, Elle e Istoé. Começou a trabalhar retratando o nu, no entanto, para a revista Ela e Ela, em 1978, depois para a revista Status e, em seguida, Playboy. Para Hugo, as diferenças entre fotografar mulheres nuas e vestidas são poucas quando o trabalho é feito em estúdio, no caso de externas, a produção para afastar olhares curiosos tem que ser maior, mas é importante que o envolvimento entre fotógrafo e modelo seja o mesmo. Hugo afirma que “O nú é mais bonito (ri), mas requer um pouco mais (que as fotos vestidas), pois o despojamento exige luz e sombra, volume, beleza e força – até para ser delicado se for o caso. Eu adoro, mas conheço muitos fotógrafos que não gostam, não se dão bem”. Entre os diferentes tipos de nu com os quais já trabalhou estão o nu sensual, o nu ilustrativo para publicidade, beleza e moda; o nu médico para produtos, operações e o que ele chama de nu estético – em que destaca a beleza do corpo e da pele, sem preocupação com padrões pré-estabelecidas de esta ou aquela publicação.
Hugo desenvolve uma série de projetos direcionados à autoestima feminina. Atualmente é sócio diretor da empresa Fundo Infinito – Comunicação e Responsabilidade Social, dentro da qual é responsável pela direção de criação e fotografia de revistas, livros e projetos voltados à mulher. Além disso, ministra palestras sobre beleza, autoestima, e participação social e política, em seminários organizados pelo Conselho de Condição Feminina de SP, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em SP, Conselho da Condição do Negro e ONU Mulheres.
Um de seus principais trabalhos voltados nesse sentido é projeto De Peito Aberto, que desenvolve desde 2005 com sua mulher, Vera Golik. Esta é uma campanha de mobilização e conscientização que busca abordar a autoestima da mulher com câncer de mama fotografando-a de modo delicado e humano. O fotografo decidiu iniciá-lo após viver diversos casos de câncer na família e conviver com hospitais e médicos que tratavam a doença, não a pessoa. Com isso, quis começar um trabalho de humanização da medicina, conscientização de profissionais da saúde e pacientes. Escolheram o câncer de mama, pois este transforma todos os símbolos do feminino, e começaram o projeto sem imaginar a dimensão que tomaria. A exposição De Peito Aberto já passou por diversas cidades do Brasil e até pela sede da ONU, em Nova Iorque.
Sobre a experiência de fotografar mulheres em uma situação tão delicada, Hugo conta que “na primeira vez foi difícil, eu cheguei para fotografar e só sabia que era uma moça de 25 anos, que estava noiva e tinha sido a primeira mulher a conseguir na justiça o direito de congelar os óvulos para tentar ser mãe mais tarde. Encontrei uma moça com um olhar absurdamente triste, que estava voltando a ter cabelos no meio da quimioterapia, mas que passara de loira de cabelos lisos para o cabelo castanho escuro encaracolado. Os olhos verdes haviam se tornado castanhos e ela não se reconhecia. Meu desafio foi fazer ela voltar a se reconhecer e conseguimos isto ao longo do ensaio. Foi assim com a segunda, a terceira e aí foi ficando menos difícil, aprendi a lidar com os sentimentos delas. Mas é sempre emocionante”.
por Bianca Caballero
biancasacaballero@gmail.com