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xXx: Reativado – entre tiros, narcisismo e misoginia

Ao fim de xXx: Reativado (xXx: Return of Xander Cage, 2017), o personagem de Samuel L. Jackson brinca com Xander Cage (Vin Diesel) dizendo que ele não deveria se esquecer de três coisas: bater em caras maus, ficar com a garota e fazer a pose. O que por eles é tomado como virtude mostra-se na …

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Ao fim de xXx: Reativado (xXx: Return of Xander Cage, 2017), o personagem de Samuel L. Jackson brinca com Xander Cage (Vin Diesel) dizendo que ele não deveria se esquecer de três coisas: bater em caras maus, ficar com a garota e fazer a pose. O que por eles é tomado como virtude mostra-se na verdade como o câncer da obra. O narcisismo e a objetificação feminina são tamanhas que não é de se espantar que Diesel (que também assina a produção executiva) tenha se envolvido na entrevista atroz que deu a youtuber Carol Moreira quando divulgava esse mesmo filme. Aqui, após o fracasso do segundo título (que trazia Ice Cube no lugar de Diesel), Cage volta em cena para recuperar a Caixa de Pandora, equipamento capaz de fazer satélites atuarem como mísseis, roubada numa invasão à NSA (Agência Nacional de Segurança americana).

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Assim, é óbvio que as mulheres vistam sempre trajes mínimos, fotografadas em planos que vão percorrendo o corpo de baixo a cima, apenas para deleite masculino. O roteiro ainda é clichê o suficiente para incluir uma mulher saindo sensualmente da piscina. A misoginia é tanta, que até mesmo a personagem mais inteligente precisa parar de dar suas explicações para elogiar e encostar nos músculos de Diesel. Ele, que inclusive não se aguenta com suas caras e bocas galanteadoras, transando com uma moça diferente a cada local em que coleta uma informação; em determinado momento, um de seus contatos oferece sete garotas a ele. Mas o cúmulo mesmo ocorre quando após roubarem o item mais valioso do mundo, os vilões simplesmente se escondem numa ilha deserta, e decidem (muito sutilmente) fazer uma rave… e é claro que repleta de mulheres seminuas.

A partir disso, é fácil identificar outro grande problema da obra: o roteiro. Sem contar as reviravoltas previsíveis e as soluções formulaicas, as personagens são também bastante superficiais. De fato, um filme que se pretende a funcionar da ação pela ação não requer uma alta complexidade, mas as motivações de suas personagens precisam no mínimo seguir uma lógica. Aqui, a todo momento, elas mudam de lado, dando a impressão de que isso acontece apenas para gerar conflitos que suscitem mais momentos de ação.

Cenas essas de ação que, mesmo recaindo sobre alguns vícios irritantes – como o zoom no rosto de cada personagem que entra em quadro para dar mais impacto ou os respingos de água ou terra na câmera toda vez que passamos por uma trilha –, são até divertidas, empregadas num ritmo eletrizante. Ainda assim, mesmo que aceitemos o absurdo de várias das sequências, o filme consegue sempre se superar, fazendo, por exemplo, o Neymar chutar um recipiente de guardanapos na cabeça de um assaltante, desacordando-o. E nós… rimos, mas o filme não. Ao invés de se auto-debochar e dar um tom despretensioso a tudo que vemos, Diesel e todo o elenco se levam a sério, e fazem uma… pose.

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E quando se fala ‘pose’, é realmente uma pose para tudo. É uma pose quando encontra o inimigo. Outra para atirar. Outra depois do tiro. E mais uma para comemorar… a realidade é que todos se acham tão, mas tão bons, que o público nem titubeia em achar que eles possam falhar; o que prejudica qualquer senso de empatia que podíamos desenvolver pelos mocinhos. E para terminar, por mais intrincadas que sejam as dinâmicas de ação, a preocupação sonora é terrível; reina o barulho. Num mesmo plano, é difícil distinguir o que é trilha eletrônica, o que é tiro e o que é grito. É tudo tão caótico, que a sensação que se tem é a de que o diretor pediu para os técnicos enfiarem tudo que se tinha em mãos para as sequências parecerem mais destrutivas. No entanto, o resultado foi somente um inferno astral (e auricular).

xXx: Reativado é a sequência que pouco se reinventou frente ao que já havia feito antes, tanto técnica quanto tematicamente. E mesmo em meio a tanto narcisismo, o mais espantoso é como mesmo 15 anos depois do primeiro filme, a representação feminina é ainda tão boçal, principalmente se a compararmos com a de outras grandes franquias do último ano, com suas Reys (Star Wars) e Furiosas (Mad Max).

 

Trailer legendado:

https://www.youtube.com/watch?v=rH7kk63MkIE

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

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