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Yoga, muito além do esporte

Nos últimos meses, a busca pelos famigerados tapetinhos cresceu e as fotos de pessoas em posições complexas e aparentemente desconfortáveis se multiplicaram nas redes sociais. A popularização do yoga deve-se, em parte, à praticidade de realizar os movimentos e posturas sem a necessidade de muitos equipamentos ou ambiente específico. Contudo, a maior parte das pessoas …

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Nos últimos meses, a busca pelos famigerados tapetinhos cresceu e as fotos de pessoas em posições complexas e aparentemente desconfortáveis se multiplicaram nas redes sociais. A popularização do yoga deve-se, em parte, à praticidade de realizar os movimentos e posturas sem a necessidade de muitos equipamentos ou ambiente específico. Contudo, a maior parte das pessoas começa a praticá-lo com algum propósito, seja ele o alívio para a rotina estressante ou o aumento da flexibilidade do corpo.  

A prática do yoga geralmente é associada com o bom humor e baixos níveis de estresse. Embora essa não seja uma regra, boa parte dos praticantes afirmam que esses são alguns dos seus maiores benefícios. É o caso da estudante de Biologia Regina Rocha, que recentemente descobriu a Hatha Yoga (centrado no trabalho do corpo com ênfase nas posturas): “Às vezes parece que minha mente e meu corpo estão em descompasso, os exercícios de respiração me ajudam a restabelecer essa conexão. No início eu ficava frustrada por não conseguir fazer todos os exercícios, mas isso me ajudou a aprender a respeitar o tempo do meu corpo.” 


Mas afinal, o que é o yoga? 

Da palavra originada do sânscrito yuj, yoga significa “unir” e “integrar”. É um conjunto de práticas que envolve posturas (asanas), meditação (dharana), relaxamento (yoganidra) e exercícios de respiração (pranayamas) que possuem como objetivo a restauração da harmonia entre o corpo, a mente e, nas modalidades mais conectadas com a tradição oriental, a alma. Embora existam diversas escolas e concepções filosóficas envolvendo o yoga, elas possuem um ponto em comum: a busca pelo equilíbrio (samatvam) e o autoconhecimento. 

Sua história remonta às origens da formação territorial que hoje conhecemos como Índia, há cerca de 5000 anos. Ao longo do tempo, várias religiões adotaram o yoga como uma forma de estimular o estado meditativo, tais quais o hinduísmo e o budismo. No Brasil, o yoga foi introduzido nos anos 50 e começou a ganhar espaço nas décadas seguintes. Hoje, os praticantes se dividem majoritariamente em dois grupos: os que buscam o bem estar físico-emocional, e aqueles que vinculam o yoga à espiritualidade. 

Embora muitos yogues afirmem que a desvinculação da prática da espiritualidade é resultado de uma interpretação ocidentalizada e superficial das correntes de pensamento que englobam a disciplina, o yoga é por vezes tratado como um novo nicho de mercado consumidor. Isso inclui roupas específicas, uma série de aplicativos e tutoriais no You Tube. Nada disso é um problema por si só, mas tratar o yoga como mais uma modalidade fitness é limitar seu potencial de reflexão e de promoção do bem-estar.   

yoga e consumismoSeção com roupas de Yoga em uma loja nos Estados Unidos. [Imagem: Reprodução/babnews]


Yoga na medicina? Como isso funciona? 

A partir dos anos 50, o yoga despertou interesse da medicina  ocidental. Desde então, várias pesquisas foram desenvolvidas a fim de estudar seus impactos na saúde humana. Uma das mais recentes, publicada em dezembro de 2019 na revista acadêmica “Frontiers of the Psychiatry”, conduzida pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade da Califórnia (UCSD) e outras instituições, avaliou o resultado da yoga em pessoas com transtorno obsessivo compulsivo, TOC. 

O transtorno obsessivo compulsivo é uma doença psiquiátrica caracterizada por pensamentos invasivos e insistentes. Como consequência, a pessoa desenvolve sintomas compulsivos, que se revelam ações irracionais executados de maneira repetitiva. Sendo classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das dez doenças mais incapacitantes, estima-se que até 2,5 da população mundial sofre com o TOC. Seu tratamento geralmente envolve terapia cognitivo-comportamental e o uso de medicamentos, mas a porcentagem dos pacientes que não apresentam melhoras chega aos 30%. 

A pesquisa foi desenvolvida a partir da comparação da eficácia de dois tipos de práticas que envolvem a busca pelo estado meditativo. Os pacientes foram divididos em dois grupos, o primeiro praticaria uma técnica meditativa chamada “resposta de relaxamento”, enquanto o segundo teria contato com a Kundalini Yoga. 

A Kundalini Yoga é caracterizada pelos mantras, que, entoados de forma rítmica e repetitiva, são capazes de provocar direcionamento e controle. Através destes mantras, o estado meditativo é alcançado. Ela é diferente das modalidades mais populares (conhecidas pela importância dos asanas), e é praticada por meio de movimentos específicos da coluna, cabeça, mãos e braços, misturando posturas, respirações e meditações.

Após quatro meses e meio do exercício de técnicas específicas de meditação da Kundalini Yoga, pacientes com TOC de índices moderado e grave tiveram redução dos sintomas em 40%, enquanto um outro grupo teve um índice muito inferior, próximo a 17%. A longo prazo, resultados são ainda mais encorajadores. Dos pacientes que continuaram a praticar a Kundalini Yoga por mais um ano, três tiveram os sintomas zerados, e, nos demais, houve uma redução em 50% dos comportamentos obsessivos. 

kundalini yoga

Prática Kundalini Yoga. [Imagem: Pixabay]

Esse estudo amplia o leque de possibilidades de tratamentos a partir da perspectiva da medicina integrativa. Rodrigo Yacubian, médico radiologista e professor de Kundalini Yoga responsável por conduzir o estudo citado acima, afirma que “o yoga faz parte dos cuidados integrativos, quando há uma junção dos tratamentos convencionais e outras técnicas comprovadamente efetivas. Como o próprio nome já diz, ela auxilia de forma complementar. É interessante deixar claro que a medicina integrativa aceita o que tem de melhor na medicina ocidental e integra com os ensinamentos tradicionais e ancestrais como é o yoga”.


Então o yoga é só para quem está doente? 

Da mesma forma que o yoga não se restringe a uma atividade física, ele também não é apenas uma “forma alternativa” de tratamento médico. De acordo com Rodrigo, o yoga como forma de terapia não é fundamentado em doença uma vez que “busca restaurar a saúde, não tratar os sintomas. É uma prática ancestral que foi desenvolvida para equilibrar mente, corpo e espírito, e não para tratar doenças”. 

Como a prática é uma forma de, através da disciplina, reconectar-se com a própria identidade, é também eficaz na manutenção da saúde individual. Yacubian acredita que isso acontece porque o yoga envolve uma mudança de estilo de vida. A prática em si é uma maneira de restaurar a saúde, deixando o sistema endócrino, cardiovascular e respiratório mais equilibrados: “Não só pela prática da yoga e da meditação, mas pelas mudanças de hábito, que incluem cuidados com o sono e alimentação, em um estilo de vida mais saudável ajudam na prevenção de doenças.”

A professora de Vinyasa Yoga (caracterizada por um fluxo contínuo de movimentos em sintonia com os exercícios respiratórios), Fernanda Raiol tem uma opinião similar: “Cada vez mais o mundo exige que tenhamos respostas mais rápidas a tudo que acontece. Nos sentimos mais pressionados e ansiosos com tantas informações vindo pelo celular, TV, internet, pessoalmente e em tantas mídias diferentes. O yoga nos ajuda através da prática a acalmarmos o fluxo de pensamentos e focarmos no momento presente, assim, reduz o estresse, ansiedade além de outros males do século. ”

Ela enfatiza também a forma como o corpo reage ao exercício constante do yoga: “A prática traz benefícios de curto e longo prazo. Melhora a flexibilidade, respiração, força e postura, alivia dores no corpo, previne a osteoporose, melhora a circulação sanguínea, protege a coluna e problemas relacionados a ela, previne problemas no sistema digestório, tonifica os músculos e pode ajudar a perder peso.” 


Quem pode fazer yoga?

Esse é um questionamento comum entre várias pessoas que olham para os asanas mais desafiadores e não se veem capazes de realizá-los. A verdade é que o yoga não possui muitas restrições, qualquer uma pode praticá-lo desde que siga as orientações de um profissional e estejam atentos para os próprios limites. Tudo o que é preciso são comprometimento e responsabilidade. 

Nas palavras de Fernanda: “ O que eu amo no yoga é que você não precisa ter um peso ideal, um jeito, uma altura determinada, você simplesmente precisa existir do seu jeito. O yoga acolhe todos e nos ajuda a nos conhecer, além de focar no amor próprio e amor ao próximo.”

O yoga pode ser uma opção interessante para aqueles que, afastados de uma rotina de exercícios consistente, procuram uma forma de lidar com o estresse cotidiano e, ao mesmo, tempo preservar a saúde física. Mas também pode ser um meio para aqueles que procuram formar uma melhor versão de si mesmos. A ciência tem provado que o que acontece com o nosso ser físico influencia de forma direta ou indireta no nosso ser psíquico, o yoga nos dá uma oportunidade real de explorarmos ambos.

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