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41ª Mostra Internacional de SP: A Cordilheira

Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui. Uma conferência sediada pelo Chile estuda a aliança energética entre países sul-americanos. O cenário de A Cordilheira (La Cordillera, 2017) caberia em qualquer documentário político dos dias de hoje. Mas o limiar entre realidade e ficção …

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Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

Uma conferência sediada pelo Chile estuda a aliança energética entre países sul-americanos. O cenário de A Cordilheira (La Cordillera, 2017) caberia em qualquer documentário político dos dias de hoje. Mas o limiar entre realidade e ficção fica claro no fazer cinematográfico repleto de exageros do diretor Santiago Mitre.

Onipresente no cinema argentino que chega ao circuito brasileiro, Ricardo Darín é Hernán Blanco, presidente dos hermanos e “apenas um homem como vocês”, slogan populista que o levou a vitória. Uma incógnita para a mídia e para os demais líderes, ele chega à reunião sob desconfiança, inclusive em relação a sua capacidade de ocupar um cargo de tanto prestígio, o que mostra o senso de superioridade de uma classe política centrada na elite – em que um homem que propõe simplicidade parece inapto. Até aí, a verossimilhança do longa é inquestionável, inclusive por outro tempero à trama central: o ex-genro de Blanco ameaça delatar um esquema de corrupção em uma campanha antiga, ainda como gestor de uma província na Argentina. A discussão inicial acerca do assunto, repleta de conchavos, poderia facilmente se passar em uma sala de Brasília e criar expectativa em torno do que promete se desenrolar como um thriller político.

Mas, se alguns veem esse caráter na narrativa de A Cordilheira, ele é muito sutil para olhares menos bondosos. A discussão a respeito do poder se mistura de forma ineficaz com um drama familiar. E se existe uma piada entre os fãs de produções audiovisuais a respeito do número limitado de atores britânicos, pode-se fazer a mesma constatação nos elencos latinos, já que mais uma figura constante está no longa. Dolores Fonzi, parceira de Darín em Truman (2014) é agora filha do presidente. Uma mulher abalada psicologicamente e cercada de cuidados pelo pai e sua equipe.

Ela é o contraponto a uma índole a primeira vista inabalável. Um homem discreto e contido, o presidente argentino é desafiado por supostas descobertas de sua filha em colapso mental. Os embates entre os dois criam certa tensão e dúvida no espectador, que também tem sua opinião constantemente confrontada. É difícil saber quem fala a verdade. De qual lado estaria o “bem”. Blanco é obviamente um homem que não mostra tudo de si. E definitivamente não é um homem como qualquer outro. Nenhum presidente é assim, a narrativa deixa claro.

Fluente em inglês, o líder argentino surpreende o governo dos EUA, representado no filme por um risível Christian Slater – um estereótipo do americano prepotente e canastrão. Cita Karl Marx em sua entrevista a uma jornalista, que ironiza não esperar aquilo de um “homem comum”. E ainda demonstra seu poder de persuasão e ambição ao lidar com seus colegas de cargo.

E esses tipos caricatos que acompanham Hernán em cena parecem retirados de uma esquete estrelada por Marcelo Adnet. Leonardo Medeiros como Oliveira Prette — presidente do Brasil e estrela da conferência ― poderia facilmente estar nas telas da antiga MTV, com sua entonação pouco natural. E, por mais que exemplos muito atuais nos mostrem que presidentes podem ser de fato robóticos e risíveis, fica pouco claro se essa era a intenção do longa, que parece propor uma reflexão séria. Uma coprodução europeia e argentina, mistura elementos tipicamente franceses, com personagens contidos e misteriosos, aos claramente sul-americanos, que tendem sempre ao exagero.  

Só que quando se trata de extremos entre o bem e o mal, não existe um ideal maniqueísta em A Cordilheira. O personagem de Darín representa algo: o fato de que o poder não tem um rosto. E quando alguém se vê alinhado ao poder, nas estruturas sobre as quais ele é construído nas sociedades contemporâneas, dificilmente se escapa do mal. Em uma das passagens mais críticas do longa, Blanco diz que ninguém se torna presidente sem ver o mal algumas vezes. E não apenas nos outros. Na existência de uma hierarquia, para se ver no topo, uma pessoa tem de desafiar suas barreiras morais diversas vezes. Em algumas sepultando os segredos de uma vida imperfeita.

 

Trailer com legendas em espanhol:

                                                                                                                   Por Pietra Carvalho   pietra.carpin@hotmail.com

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