Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Observatório | Auxílio emergencial 2021: mudanças e incertezas em meio ao agravamento da pandemia

* Capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil   Em março de 2021 o presidente Jair Bolsonaro assinou a medida que instituiu o novo auxílio emergencial, em decorrência do agravamento da pandemia de Covid-19. O valor de R$ 44 bilhões, aprovado como limite orçamentário pela Emenda Constitucional 109/2021, deve ser repassado para cerca de 40 milhões de famílias em …

Observatório | Auxílio emergencial 2021: mudanças e incertezas em meio ao agravamento da pandemia Leia mais »

* Capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Em março de 2021 o presidente Jair Bolsonaro assinou a medida que instituiu o novo auxílio emergencial, em decorrência do agravamento da pandemia de Covid-19. O valor de R$ 44 bilhões, aprovado como limite orçamentário pela Emenda Constitucional 109/2021, deve ser repassado para cerca de 40 milhões de famílias em quatro parcelas, pagas de abril a julho.

O valor de cada parcela do auxílio varia de acordo com o perfil do beneficiário. Pessoas que moram sozinhas têm direito ao valor mensal de R$ 150, enquanto famílias não chefiadas por mulheres vão receber R$ 250. Já as mães solo têm direito a parcelas de R$ 375.

Os cidadãos que já eram beneficiários em dezembro do ano passado ainda têm direito ao auxílio emergencial 2021. Na extensão do programa, foram mantidos os critérios definidos pela Medida Provisória 1000/2020 — são contemplados os trabalhadores autônomos que recebem até meio salário mínimo por pessoa da família (R$ 550) e até três salários mínimos por família (R$ 3,3 mil). Os requisitos serão aplicados de forma conjunta e apenas um membro da família poderá receber o pagamento. 

Perfil de beneficiários do auxílio emergencial divulgado pelo governo em março de 2021 indica que o grupo com maior participação tem idade entre 18 e 34 anos. [Imagem: Reprodução/Ministério da Cidadania]
Pessoas que participam de algum programa financeiro do governo — como aposentadoria, pensão e benefício de prestação continuada (BPC) — não podem receber o auxílio emergencial 2021, assim como cidadãos que estão recebendo seguro-desemprego, trabalhadores com carteira assinada, servidores públicos e militares, menores de 18 anos (exceto mães adolescentes), estagiários, residentes médicos, bolsistas em instituições de ensino ou similares. Quem não movimentou os valores do auxílio pagos em 2020 ou  teve o benefício cancelado até dezembro do último ano também não pode se cadastrar neste ano.


A insuficiência do auxílio

Em nota à Jornalismo Júnior, o Ministério da Cidadania alega que mais da metade da população brasileira foi beneficiada pelo programa em 2020 e que trata-se do “maior benefício já criado no Brasil”. Entretanto, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o valor médio das parcelas da nova fase é insuficiente para suprir as necessidades básicas da maioria das famílias.

Laize Ferreira, social media e graduanda em Relações Públicas pela Universidade Federal do Alagoas (UFAL), conta que dependeu do auxílio até novembro do ano passado, quando conseguiu um emprego de carteira assinada. “O auxílio de R$ 600 ia basicamente para as despesas da casa. Meus pais teriam que arcar com tudo, então ter esse dinheiro ajudou bastante”. A estudante conta que a família não paga aluguel e continuou trabalhando durante a pandemia, portanto, o valor do benefício em 2020 foi suficiente para que não passassem nenhuma dificuldade. 

Ainda assim, Laize acredita que o auxílio não seria suficiente caso a família dependesse unicamente dele, sobretudo com o valor reformulado em 2021. “Analisando a situação atual do país, com a inflação altíssima, é impossível acreditar que apenas R$ 150 podem ser considerados um auxílio. O valor não consegue suprir nem as necessidades básicas do consumidor, como água e luz, por exemplo”.

Além de itens alimentares, as despesas básicas das residências são outro destino para o valor recebido pelas famílias como auxílio emergencial. [Imagem: Lia de Paula/Agência Senado]
Em um ano de pandemia, o preço dos alimentos subiu cerca de 15% no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com a alta dos preços, o quadro da insegurança alimentar também se agrava entre os brasileiros. 

De acordo com o estudo Efeitos da pandemia na alimentação e na segurança alimentar do Brasil, coordenado por pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB), quase 60% dos domicílios pesquisados nos últimos meses de 2020 sofrem com a escassez de alimentos.


A polêmica da aprovação

O novo auxílio emergencial foi promulgado no último dia 15 de março, vinculado à Emenda Constitucional (EC) 109/2021. Ela é consequência da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 186, de 2019, e institui mudanças orçamentárias que movimentaram o debate público, principalmente devido às restrições impostas a partir de gatilhos fiscais. 

Pelas novas regras, quando os gastos correntes obrigatórios do governo forem maiores do que 95% das receitas (ganhos) correntes, algumas ações ficam proibidas. Entre as proibições está a criação de novas despesas obrigatórias, o aumento salarial de funcionários públicos e a contratação de pessoal que não seja para reposição ou contratação temporária específica. 

A medida preocupa especialistas e entidades da sociedade civil por gerar um cenário em que não será permitida a contratação de funcionários fundamentais em áreas prioritárias como saúde e educação, a exemplo de médicos e professores. Do mesmo modo, a restrição fiscal pode impedir que o governo tenha um novo gasto obrigatório, como a criação de um novo hospital ou uma nova escola. 

Senado assina o novo auxílio emergencial
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, assinam a Emenda Constitucional com novos regulamentos fiscais no Brasil, inclusive o teto para o auxílio emergencial 2021.  [Imagem: Pedro França/Agência Senado]
José Moroni, membro do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), considera que a vinculação do auxílio emergencial à PEC 109/2021 foi uma manobra do governo federal para aprovar rapidamente um pacote orçamentário impopular: “Quando a pressão pelo auxílio emergencial começou a ficar muito forte, o governo fez a PEC da chantagem. Não havia necessidade de colocar numa PEC a questão do auxílio”. 

O teto de R$ 44 bilhões é alvo de ação judicial no Supremo Tribunal Federal (STF). A ação foi protocolada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) com apoio de outros partidos, do Inesc e de entidades da sociedade civil, mas ainda não foi analisada. A insatisfação com os valores propostos também foi alvo de carta enviada ao Congresso por governadores de 16 estados, na qual pedem que o valor do auxílio volte a ser de R$ 600.


Alternativas ao teto e relação com a dívida

Moroni aponta que existem outros mecanismos previstos pela Constituição brasileira para enfrentar crises como a pandemia de Covid-19. Um dos mecanismos é que o governo decrete estado de calamidade pública e adote um orçamento de guerra, com a suspensão das regras fiscais. De modo complementar, ele cita o endividamento público. “As famílias têm problemas se não fecharem o mês, se não conseguirem pagar todas as contas. O Estado não. Ele pode emitir dinheiro, fazer políticas de desenvolvimento, aumentar a base de arrecadação de impostos. Claro que tem um limite, mas é muito acima do que nós temos”, destaca.

O argumento é de que o dinheiro investido no auxílio movimenta a economia e retorna ao governo. Em 2020, pesquisadores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) projetaram que, se o auxílio emergencial de R$ 600 pago aos trabalhadores informais fosse prorrogado até o fim do ano, devolveria aos cofres públicos 45% do valor pago no benefício. No cenário em que o pagamento só é feito por três meses, o retorno econômico seria só de 24%. 

Dos R$ 190 bilhões distribuídos como auxílio emergencial, aproximadamente R$ 151 bilhões foram empregados em compras de produtos no varejo, de acordo com pesquisa da Federação do Comércio de São Paulo em 2020. [Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil]
Para a economista Juliana Camargo, professora e pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a dívida pública é um dos caminhos do governo para assistir famílias vulneráveis no curto prazo, mas uma política sustentável de transferência de renda não pode ser desenhada com base no endividamento. A dívida pública brasileira bateu recorde em 2020 e fechou o ano em mais de R$ 5 trilhões. O valor é 17,9% maior do que o registrado em 2019 e foi impulsionado pelas despesas com o combate à pandemia.

Juliana vê as mudanças feitas pelo governo no auxílio em 2021 como um aceno à preocupação com a sustentabilidade fiscal, mas que não soluciona a evidente falta de planejamento em torno da medida. “O auxílio teve seus méritos na urgência de proteger as famílias que estavam em situação de vulnerabilidade. Mas o trade-off [conflito] de dar um auxílio de R$ 600, R$ 1200 a muitas pessoas é que não é possível continuar com esse programa por muito tempo. Tivemos muitos meses para debater isso e não debatemos [adequadamente]”, afirma.


A importância de planejar

A falta de planejamento acaba por aumentar a insegurança das famílias, que podem ver o benefício mudar ou desaparecer rapidamente como aconteceu em 2020. A dúvida do momento é se o governo prorrogará os pagamentos atuais, que terminam após quatro parcelas.  

Para Juliana, o caminho para o auxílio emergencial, assim como para qualquer política pública, é se basear em evidências científicas, bancos de dados e exemplos de boas práticas: “O governo deveria acionar todas as fontes de informação que tem em mãos para focalizar o programa e identificar melhor os beneficiários e as famílias que realmente precisam”. Além das grandes pesquisas sobre a população brasileira, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo IBGE, a rede de assistentes sociais é uma fonte valiosa de informações sobre pessoas em condição de vulnerabilidade no país. 

Ainda em nota à Jornalismo Júnior, o Ministério da Cidadania informou que “o trabalho de cadastramento realizado no ano passado, que identificou os trabalhadores informais não constantes dos cadastros públicos, o cruzamento contínuo de dados realizado pelo Governo Federal e as ações de controle e fiscalização para evitar recebimentos indevidos permitem que o novo benefício chegue aos cidadãos de menor renda”. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima