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“Disfarce”: quando a camuflagem se anuncia

Quando penso em uma arte por trás da superfície, a primeira obra que me vem em mente são os azulejos em carne viva de Adriana Varejão, renomada artista plástica brasileira. É um conceito cru, dilacerante e provocativo, sobre expor uma narrativa oculta e negligenciada tanto pelos nossos olhos quanto em um âmbito social. A mostra …

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Quando penso em uma arte por trás da superfície, a primeira obra que me vem em mente são os azulejos em carne viva de Adriana Varejão, renomada artista plástica brasileira. É um conceito cru, dilacerante e provocativo, sobre expor uma narrativa oculta e negligenciada tanto pelos nossos olhos quanto em um âmbito social. A mostra “Disfarce”, idealizada e criada por artistas do Departamento de Artes Plásticas da USP, traz uma premissa semelhante, porém mais abrangente.

Reunindo as peculiaridades de 5 artistas diferentes (Flora Leite, João GG, Renato Pera, Rodrigo Arruda e Yuli Yamagata), a proposta obviamente não poderia ser uma massa compacta. O disfarce se insere ora por imitação, ora por camuflagem, ora por continuidades ocultas, sempre de maneiras particulares. O que, no entanto, enlaça todas as obras é o exagero. Tanto a visibilidade quanto a invisibilidade, representada pelo delicado prego de vidro fincado na parede, são levadas ao extremo. “Nenhum trabalho é a camuflagem exata, ou um puro disfarce, porque eles são todos muito evidentes. Eles não estão disfarçando para não parecer, eles estão se disfarçando e anunciando que estão disfarçando, sendo bem irreverentes em relação a isso”, comenta o artista Rodrigo Arruda.

Imagem: Jornal da USP

 

Para o curador da mostra, Leandro Muniz, não se pode considerar que a exposição traz um conceito propriamente dito: “É uma ideia que trata de uma tensão interna, dos próprios trabalhos, mas também da relação deles com o mundo de hoje. Trata-se de uma noção que abarca a particularidade de cada trabalho em relação a uma reflexão sobre a situação contemporânea”.

Influenciada pela pop art, ainda que, nas palavras do curador, de uma maneira mais “rarefeita” por não haver ícones tão diretos da cultura de consumo e, de certa forma, pelo surrealismo — vide a alusão a um mundo de ruínas criada por João GG —,  a exposição tem como inspiração diversos nomes. Dentre eles estão Carmela Gross, que incorporou a lógica da camuflagem à cidade e ao trabalho para indicar contradições sociais, e Débora Bolsoni, que participou da exposição “Dublê” no CCSP (Centro Cultural São Paulo), importante para adicionar a dimensão cotidiana à composição dos trabalhos. Leandro Muniz cita ainda o tratado filosófico “Simulação e simulacro” de Jean Baudrillard como uma referência “importante e esclarecedora, que ainda diz muito respeito aos modos de sociabilidade e à cultura material de hoje”.

Imagem: Jornal da USP

Painéis foram trocados de lugar, vedações foram retiradas das janelas e as obras foram posicionadas de modo a criar a ambientação correta. Desde a colocação de uma caveira em um corredor morto até as grotescas pernas de cobra postas no canto da sala como uma espécie de vigia: tudo faz parte de uma estratégia. “A organização do espaço e a forma como os trabalhos estão organizados no espaço foi toda feita pensando no deslocamento do público, explicitando mediações espaciais, simbólicas e institucionais e apontando o tempo inteiro para os próprios elementos da exposição”, ressalta Leandro, que afirma ter preferência por um número reduzido de artistas e, consequentemente, de informações, tornando o espaço mais articulado e preciso.

“O que me agrada mais é ouvir as narrativas que não foram contabilizadas por mim, mas que podem surgir de outras experiências com a exposição. Às vezes, quando vou fazer uma visita com alguém lá, acho curioso, porque vejo gente passando muito rápido e não percebendo alguns trabalhos. Acho que isso é parte do raciocínio da exposição: ter trabalhos que são muito visíveis e outros que não”, afirma o curador. Segundo ele, a expectativa é criar um espaço de “liberdade e autocompreensão”, aberto a percepções e interpretações do público. E viva a arte.

“Disfarce” é uma das exposições que estão acontecendo na Oficina Cultural Oswald de Andrade, que fica próxima ao metrô Tiradentes. A entrada é gratuita e o lugar fica aberto de segunda a sexta-feira das 9h às 22h e aos sábados, das 10h às 18h. O encerramento será no dia 28 de outubro.

Por Anny Oliveira
acoliveiramartins@usp.br

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