Passadas mais de 700 horas de atividades, com 600 palestrantes e 8 mil campuseros vindos de 18 países e 24 estados brasileiros, a Campus Party encerra sua nona edição dedicando o último dia do evento à paixão que une todos esses participantes: a ciência. Quadrinhos, cartoons e hackers, é claro, também não puderam faltar.
Dos astros ao homem-máquina
Professora titular de astrofísica da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mundial de Ciência. Contemplada pelo Prêmio L’Oreal/UNESCO para Mulheres na Ciência em 2015. Thaisa Storchi Bergmann reúne todos esses predicados e lotou o palco principal da Campus Party em sua apresentação de introdução à “Buracos Negros Supermassivos e seu papel na Evolução do Universo”, sua especialidade. Thaisa explicou o processo de formação dessas regiões espaciais desde o básico até o fenômeno de “espaguetização do astronauta” – quando a diferença das forças que puxam o astronauta para cima e para baixo é de 17 milhões de vezes o peso dele, atraindo-o para o centro do buraco negro e… bem, dá pra entender o porquê do ”espaguetização”. Além disso, ela desmascarou erros cinematográficos e disse que o buraco negro do filme Interestelar (2014) é a versão mais próxima da realidade.
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Logo após a palestra houve um concurso que premiou as 50 melhores frases que respondessem por que as mulheres são importantes para a ciência, você pode ver o tweet vencedor aqui. O Sala já discutiu o apagamento de mulheres na ciência e você pode ver nossa reportagem aqui.
Após a apresentação da cientista, os ciborgues Neil Harbisson e Moon Ribas tomaram o palco e mantiveram a plateia atenta. Criador da Fundação Cyborg, Harbisson é um músico que nasceu com uma deficiência que o impede de ver cores e, por isso, em 2004, ele implantou uma antena em sua cabeça que é capaz de “traduzir” as frequências das cores para ondas sonoras. Desde então, ir ao supermercado é como ir a uma balada. É uma nova percepção do mundo. Até mesmo as cores da sua casa são pensadas de acordo com o que ele ouve. O vermelho, por exemplo, por ser a cor menos barulhenta, está em todo o chão. Se antes ele se vestia com o que lhe caísse bem, agora ele veste o que lhe sona bem.
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Moon Ribas é uma coreógrafa catalã e co-fundadora da Fundação Cyborg. Ela instalou sensores em seu corpo para que pudesse sentir a presença de pessoas ao seu redor e a atividade sísmica da Terra, assim, ela pode progredir muito como artista, conectando seus movimentos de dança ao movimento que a cerca.
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Brasileiros se destacam no mercado internacional de entretenimento
Como se não bastasse ser a empresa responsável por trazer o Frank Miller na última Comic Con Experience, a Chiaroscuro Studios é umas das principais exportadoras de quadrinhos nacionais para o exterior. Estavam no debate sobre esse mercado os representantes Ivan Costa e Joe Prado e o autor Danilo Beyruth, que recentemente teve seu trabalho publicado nos Estados Unidos. A editora também edita e traduz dezenas de séries da DC e da Marvel aqui no país, até porque, “pra você sustentar esse negócio artístico, você precisa ter essa indústria por atrás”.
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Juliano Enrico, idealizador do Irmão de Jorel, apresentou outra atração da Cartoon Network na Campus Party. A nerd, o gordinho, a filha do diretor, o irmão do garoto mais popular. Todo mundo já passou por uma fase da vida em que era rotulado e lutou para construir a própria identidade. É sobre isso e várias outras críticas ao nosso mundo adulto que o desenho aborda ludicamente e conquista fãs de todas as idades. Juliano foi assistido por um público bem diverso, de um cara na casa dos 30 anos que pediu que ele licenciasse bonequinhos a um garotinho que corajosamente fez a pergunta que não quer calar: “Qual o nome do Irmão do Jorel?”. O produtor contou no ouvido da criança.
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Novidade de empreendimento na oitava edição da Campus Party, a Stayfilm voltou este ano ao evento com uma palestra e um stand do lado da Spotify. Em pouco tempo, a empresa conseguiu ser a primeira a ser aprovada numa iniciativa inglesa de empreendedorismo internacional e já montou escritório em Londres, além de prever uma expansão para os Estados Unidos ainda nesse semestre. A plataforma brasileira pretende ser a maior em produção de vídeos no mundo.
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Mais delas para elas
Após ser perseguida por um homem de 50 anos na rua, Catharina Doria, de 17, decidiu não se calar frente aos assédios diários que 98% das mulheres reconhecem sofrer. A estudante criou o aplicativo Sai Pra Lá, no qual a usuária pode registrar onde e que tipo de assédio (moral, físico, verbal ou sonoro) ela sofreu, é um mapa transparente do dia-a-dia das brasileiras. O aplicativo se popularizou tanto que a adolescente teve que trocar de plataforma para comportar toda a sua demanda e garantir que todas as mulheres tenham acesso a ele.
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A última palestra voltada para a discussão feminista e sua relação com a tecnologia no evento foi “O Software Livre como ferramenta para a inclusão de mulheres na tecnologia”, dada pela mestra em Ciência da Computação, Adriana Costa. O workshop realçou as dificuldades de ser uma mulher no mercado de trabalho da informática, desde perguntas ilógicas (“Como você vai mexer num computador com essa unha comprida e colorida?”) até não ser contratada por não concordar com as exigências da empresa (que seriam: não usar saias, nem acessórios, nem ficar com o cabelo solto).
Assista o vídeo feito pela nossa repórter resumindo um pouco de tudo que rolou nessa semana tecnológica.
Por Larissa Lopes