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Futebol arretado: das origens à Lampions League

Por Diego C. Smirne e José Paulo Mendes Conta a história oficial que o futebol no Brasil começou quando Charles Miller, de volta ao país após anos na Inglaterra, trouxe consigo duas bolas de futebol, um livro de regras e o desejo de jogar o tal de football no país; ou melhor, em São Paulo. …

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Por Diego C. Smirne e José Paulo Mendes

Conta a história oficial que o futebol no Brasil começou quando Charles Miller, de volta ao país após anos na Inglaterra, trouxe consigo duas bolas de futebol, um livro de regras e o desejo de jogar o tal de football no país; ou melhor, em São Paulo. No Rio de Janeiro, já há anos, vários ingleses – empregados em portos, comércio e fábricas, sobretudo a de um bairro do oeste carioca – praticavam o esporte bretão. A Fábrica Bangu era uma das maiores do todo o Rio de Janeiro no final do século XIX e início do XX, onde trabalhavam muitos imigrantes e seus filhos. Em campos na então capital federal, já eram jogadas pelejas pelos ingleses entre si ou contra times combinados de brasileiros. Por todo o Brasil foi assim: cada região da pátria de chuteiras conheceu o futebol à sua maneira.

Jogadores do Ceará comemoram título da Copa do Nordeste (Foto: Federação Cearense de Futebol – FCF)

Quando o futebol ganha um tempero nordestino
Sem dúvida, uma das regiões onde a relação com o esporte se deu de forma mais intensa foi o Nordeste. Ao andar pelas ruas de qualquer cidade da região, é impossível não ver alguém vestindo uma camisa do Flamengo – clube mais popular do Brasil, título que deve muito à sua enorme base de torcedores nordestinos e nortistas – ou do Vasco, ou do Trio de Ferro paulista: Palmeiras, Corinthians e São Paulo. Não é por acaso que são os cinco clubes de maior torcida no país. Mas é claro que um povo tão fanático pelo esporte bretão não poderia viver apenas da distante relação que nutre com os grandes clubes do famigerado eixo Rio-São Paulo. Os maiores clubes nordestinos também têm suas camisas orgulhosamente ostentadas nas ruas e as demonstrações de verdadeira devoção a eles não são poucas.

A torcida nordestina é uma das grandes responsáveis pela grandeza de seus clubes. Mesmo com orçamentos muito inferiores e elencos sem estrelas midiáticas, os times do Nordeste são sempre temidos pelos clubes mais ricos da elite do futebol brasileiro, pois seus estádios são verdadeiros “caldeirões”. Poucos times no Brasil possuem uma torcida como a do Santa Cruz, de Pernambuco. Mesmo amargando anos na série D, o time enchia seu estádio, o Arrudão, com 50 mil pessoas para apoiar o time em sua escalada de volta ao lugar que merece – fato que impressionou quem acompanha o futebol, já que os jogos da série A tinham estádios praticamente vazios. O Bahia, clube de maior torcida do Nordeste, também tem uma legião inabalável de fãs, mesmo vivendo há anos numa gangorra entre as séries A e B. Essa é uma realidade muito comum à maioria dos times nordestinos; à exceção do Sport, que se consolidou na primeira divisão nacional e faz uma temporada brilhante, brigando seriamente por vaga na Libertadores. Ainda assim, tal campanha não seria possível sem a lealdade de sua torcida em épocas menos felizes.

O Arrudão lotado de torcedores do Santa Cruz no Campeonato Pernambucano de 2013. À época, o clube estava na Série C do Brasileirão (Foto: Globo Esporte)

O fanatismo das torcidas nordestinas é fruto das fortes e numerosas rivalidades estaduais: Bahia e Vitória, na Bahia; Sport, Náutico e Santa Cruz, em Pernambuco; Ceará e Fortaleza, no Ceará; CSA e CRB, em Alagoas; ABC e América, no Rio Grande do Norte. Com tamanha concentração de clubes de massa, surgiram também as rivalidades regionais e, assim, o futebol se desenvolveu no Nordeste do Brasil.

Os números de alguns dos maiores clubes do Nordeste (Imagem: Diario de Pernambuco)

A era sem um nacional
Foram anos em que a rivalidade regional foi alimentada entre esses clubes nordestinos, afinal demorou mais de 60 anos até o Brasil ter um campeonato nacional – a Taça Brasil de 1959, curiosamente conquistada pelo Bahia. Àquela altura, o Brasil já era campeão mundial e tinha um futebol mundialmente admirado devido a seus craques, como Pelé e Garrincha; mas todos os jogadores daquele time eram do eixo Rio-São Paulo, tornando a conquista baiana ainda mais fantástica. Danilo Dias, o “Gotta” da página e canal no Youtube Mais Cinco Minutos, também lembra:

“O Bahia descreve o que sofre um time por estar fora do eixo Rio-São Paulo-Minas e no Sul também, se a gente for levar em conta. O Bahia sofre até hoje por isso. Acho que não só o Bahia, mas todos os times do Nordeste. Algum time do Norte que pode despontar. Porque olha o Bahia, time campeão brasileiro duas vezes, primeiro brasileiro a disputar a Libertadores, revelador de grandes craques e mesmo assim não é reconhecido como grande pela mídia.”

Durante mais de 50 anos, o futebol brasileiro tinha como principais competições os estaduais, onde a rivalidade se acirrava dentro das próprias cidades. No entanto, a partir dos anos 1910, o país conhecia um novo formato de torneio: os regionais, disputados de duas maneiras distintas.

Em um primeiro momento, os campeonatos eram disputados entre os campeões estaduais, tendo como primeira edição a Copa dos Campeões de 1920, disputado entre o Paulistano, de São Paulo, o Fluminense, do Rio de Janeiro, e os gaúchos do Grêmio de Pelotas. O torneio fora conquistado pelos paulistas e, à época, foi comemorado como título nacional como em 1937, quando o Atlético Mineiro também alegaria ser o primeiro campeão brasileiro a nível profissional com a conquista deste mesmo torneio.

Os primeiros campeões nordestinos
No Nordeste, a primeira competição do gênero foi o Troféu Nordeste de 1923, que contou com a participação das duas melhores equipes da Bahia, de Pernambuco, de Alagoas e da Paraíba. O torneio foi conquistado pelo América de Pernambuco e é até hoje uma das maiores glórias do segundo clube de todo pernambucano – que hoje vive à sombra e já quase perdeu seu estádio e sede, hoje patrimônios públicos, como lembra Lucas Castro, também do Mais Cinco Minutos.

 

 

 

Ele fala, ainda, do carinho da página pelo América:

“O América é o nosso xodó, é um dos times pioneiros do futebol em Pernambuco. Time de uma história riquíssima, seis vezes campeão pernambucano, campeão do Troféu Nordeste de 23. Ganhou em cima do CSA – quem conhece o futebol nordestino sabe da grandeza do CSA. Esse é um título muito importante para a história do América.”

Livro que conta a história do título Pernambucano do América que o levou para o Troféu Nordeste de 1923 (Foto: Mais Cinco Minutos)

Eduardo Reis, mais um dos seis membros do canal, finaliza:

“‘Tá marcado na história do América que ele é campeão do Nordeste. Podem diminuir o título, mas ele é campeão e pronto.”

Porém, os torneios “nacionais” ignoravam o forte futebol que se desenvolvia no Nordeste. Apenas em 1959, com a necessidade de escolher um representante do Norte e Nordeste para a Taça Brasil, surgiu a Taça Zona Norte-Nordeste, disputada de 1959 até 1968. Foram campeões do primeiro regional nordestino o Bahia (1959, 1961, 1963), o Fortaleza (1960, 1968), o Sport Recife (1962), o Ceará (1964) e o Naútico (1965, 1966, 1967).

A partir da década de 1970, com o projeto de integração nacional da Ditadura Militar, os regionais perderam espaço para um nacional cada vez mais inchado. Contudo, em 1975 e 1976, foi disputado o Torneio José de Almeida Filho, reunindo campeões regionais do Nordeste e times convidados. O torneio seria embrião da Copa do Nordeste, disputada pela primeira vez em 1994.

Em 1997, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) assumiu o comando da competição, que alcançou enorme sucesso principalmente no início dos anos 2000, chegando a ser o torneio com melhor média de público em todo o Brasil. Entretanto, em 2003, em uma edição de pouco sucesso, a CBF decidiu por descontinuar o torneio, voltando brevemente em 2010, até que em 2013 a Copa do Nordeste retorna ao cenário do futebol penta campeão mundial. Sobre os quase 10 anos sem torneio, o comentarista esportivo Juca Kfouri afirma que “não tivesse sido prejudicada por uma década pela CBF e pelo Globo Esporte, a Copa do Nordeste teria posto o futebol da região já em outro patamar [nos dias de hoje]”.

A volta do regional
A volta do torneio regional foi saudada por amantes do futebol em todo o país, graças à tradição e ao espírito do futebol nordestino. Sucesso de crítica e de público, a Copa do Nordeste de 2013 rendeu ao campeonato o apelido de “Lampions League” – um trocadilho com o nome do lendário cangaceiro Lampião em alusão à famosa UEFA Champions League. A edição teve média de público de 8.443 pagantes (superior a todos os campeonatos estaduais do país), com alguns jogos vistos por mais de 50 mil torcedores, como Ceará 0x1 ASA, de Alagoas, que contou com 52.207 espectadores. O ASA viria a ser o finalista da competição, perdendo para o campeão inédito Campinense, da Paraíba, em frente a 19.650 pessoas. Além do título, o time paraibano faturou vaga na Copa Sulamericana de 2014.

Logo não oficial do Nordestão, a “Lampions League” (Imagem: Folha Seca)

O sucesso teve continuidade em 2014, agora com a presença das Arenas da Copa do Mundo na Bahia, em Pernambuco, no Ceará e no Rio Grande do Norte. Os suntuosos estádios, entretanto, não serviram para aumentar a média de público – que seguiu maior que a de vários estaduais, mas diminuiu em relação ao primeiro ano. O campeão foi o Sport, o qual obteve também classificação para a Sulamericana do mesmo ano, novidade em relação à edição anterior.

Em 2015, o Ceará (finalista contra o Sport um ano antes) venceu o Bahia diante de impressionantes 63.399 pagantes e se sagrou campeão, numa edição com público médio de 7.830 torcedores. O público da final foi o maior do ano até aqui, o que atesta que a Copa do Nordeste é um dos mais importantes campeonatos do cenário nacional, além de demonstrar o fervor da torcida do Nordeste e o poder das rivalidades regionais.

Pelo que viu nas finais da Copa do Nordeste deste ano, Juca Kfouri afirmou serem “jogos muito bons”, e elogiou principalmente a festa no jogo do Ceará e falou que “sem dúvidas!” a Copa do Nordeste pode ser um exemplo para outros certames nacionais.

Mosaico da torcida do Ceará no Castelão: mais de 60 mil pessoas assistiram à festa do título contra o Bahia (Foto: Portal Vermelho)

O que vem pela frente?
Em 2016, serão 20 clubes de todos os estados nordestinos disputando a Lampions League, com quatro estrantes: Imperatriz-MA, Flamengo-PI, Juazeirense-BA e Estanciano-SE. A fórmula de disputa será a mesma de 2014, totalizando 74 jogos, com fase de grupos seguido de mata-mata a partir das quartas-de-final.

Mesmo com a ausência de grandes forças regionais como o Naútico, o Vitória e o CSA, a expectativa é muito grande depois do sucesso enorme da Copa do Nordeste, principalmente na fase final, em 2015.

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