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Guarani 6×0 ABC – a visão da arquibancada

Por Lázaro Campos Júnior Natal, 16 de outubro de 2016. O relógio marcava 22h51 quando o árbitro Luiz César Magalhães apitou o final da primeira partida entre o ABC e o Guarani. A goleada de 4×0 deixava o alvinegro potiguar muito perto da vaga para final do Campeonato Brasileiro da Série C. Ambos já estavam classificados …

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O placar da noite (Foto: André Federighi)
O placar da noite (Foto: André Federighi)

Por Lázaro Campos Júnior

Natal, 16 de outubro de 2016. O relógio marcava 22h51 quando o árbitro Luiz César Magalhães apitou o final da primeira partida entre o ABC e o Guarani. A goleada de 4×0 deixava o alvinegro potiguar muito perto da vaga para final do Campeonato Brasileiro da Série C. Ambos já estavam classificados para a disputa da Série B do ano seguinte. Mas a vantagem imposta no Frasqueirão fez com que a segunda partida, a ser disputada no dia 23 em Campinas, tivesse um tom de despedida do campeonato. “Foi para voltar totalmente desacreditado”, comenta o bugrino Jean Gozzi, que viajou até o Rio Grande do Norte para assistir a frustrante derrota do Guarani.

Uma semana se passou e ao Brinco de Ouro da Princesa compareceram pouco mais de 3.200 torcedores. Segundo a bugrina Letícia Martins, eles estavam conformados com a situação. O senhor Ismael Vieira foi para prestigiar o time do coração e ainda nutrindo uma pequena esperança. Esse último fio de esperança era partilhado também com outros torcedores como Di Negri, Fábio Bortolin e André Luiz. Os dois últimos comentam que ainda esperavam por uma vitória, mas não imaginavam o que iriam presenciar naquela noite campineira de 23 de outubro de 2016.

André Luiz, ao lado de Aline Martins, com certeza não imaginava o que aconteceria no Brinco de Ouro (Foto: André Luiz)
André Luiz, ao lado de Aline Martins, com certeza não imaginava o que aconteceria no Brinco de Ouro (Foto: André Luiz)

Com 8 minutos de partida, o eterno ídolo Fumagalli cobrou uma falta, alçando a bola na área do ABC. Sozinho, Leandro Amaro subiu e cabeceou a bola para abrir o placar. Mas ainda faltavam 3 gols para levar a uma decisão por pênaltis. Apesar da comemoração geral, Fábio e Di Negri ainda mantinham o ceticismo em relação à virada. Di Negri explica: “Não comemorei por achar absurdo que a virada viria”. Enquanto alguns nutriam cada vez mais a esperança de uma reviravolta, Letícia já telefonava para seu avô, contando da abertura do placar.

Porém o Guarani precisava de mais. A pressão continuava e aos 25 minutos, Fumagalli teve mais uma falta para cobrar. Encobrindo a barreira, a bola encontrou as redes pela segunda vez. A desvantagem diminuía, mas um susto veio logo depois. Jones Carioca, artilheiro do ABC, recebeu cruzamento rasteiro na pequena área e ainda que livre de marcação e com o goleiro fora do lance, carimbou a trave. Com o relógio contando 31 minutos, Jones foi expulso depois de discutir com o árbitro. 2×0 e com vantagem numérica em campo, havia confiança para o segundo tempo. No entanto, Fábio ainda temia alimentar uma vã esperança: “Ainda falei para um amigo: ‘Terminou 2×0. Vamos ter que torcer e sofrer e ainda vamos ser eliminados’”. O Bugre ainda iria surpreendê-lo.

Confiante, o bugre pressionou desde o início. Aos 3 minutos, uma arrancada de Gilton e um passe para Fumagalli bem posicionado na área, De novo ele. Restava apenas um gol para o empate. Letícia contou que a emoção era tão grande que não cabia mais na torcida: “Depois do terceiro gol a mente começou a demorar a processar para entendermos o que realmente estava acontecendo. Sabe aquela sensação que falta palavras para expressar?“, diz.

O quarto gol veio antes da marca dos dez minutos. Pipico recebeu pela lateral direita e passou para Fumagalli. O veterano chutou, a bola bateu no zagueiro e rebateu no pé do meia-atacante, antes de  morrer no fundo do gol. Era o terceiro do ídolo bugrino. O jogo estava indo para os pênaltis.

A seguir veio a tentativa de reação da equipe potiguar, mas não conseguiam levar perigo real a meta do goleiro Leandro. O bugre voltou a controlar o jogo. O gol da virada quase veio aos 24, com uma finalização de Pipico no travessão. Foi aos 31 minutos que a virada veio. Alex Santana tomou a bola na intermediária, driblou o marcador e chutou forte no canto esquerdo do goleiro Edson. Os jogadores comemoravam ajoelhados no gramado. A torcida explodia na arquibancada.

Enquanto Di Negri ajoelhava e chorava emocionado, Fábio rasgava sua camisa e subia no alambrado, “estava extasiado”, conta. O choro também veio sobre André Luiz que “gritava até ficar rouco”, diz, e Jean conta que a virada “foi o auge. Nunca comemorei tanto um gol do Guarani. Foi uma alegria que depois desse gol eu nem vi mais o jogo”. O senhor Ismael conta que já estava extasiado e ao ver o quinto gol, teve a certeza de estar presenciando um momento histórico, “[foi] como em 78 [ano do título brasileiro do Guarani]. Eu estava lá, era bem novinho, 12 anos, mas eu senti algo muito parecido.”

Para sacramentar a vitória, três minutos mais tarde, Pipico marcou o sexto gol num cabeceio no canto direito de Edson. Mais um gol e mais uma ligação de Letícia a seu avô, ela explica: “Ele já não tem muita condição de estar sujeito a grandes emoções que inevitavelmente acontecem dentro de campo, então se poupa assistindo em casa. Mas fiz questão de telefonar nas seis vezes para ele sentir um pouco da energia que eu pude sentir naquele momento. No sexto gol faltava até o que dizer. Os dois comemorando na linha sem sequer trocar palavras. O que se conversou foi a emoção com o canto da torcida!”

Os jogadores após o milagre (Foto: Luciano Claudino)
Os jogadores após o milagre (Foto: Luciano Claudino)

Os acontecimentos eternizada na retina dos bugrinos presentes no Brinco de Ouro naquele 23 de outubro não teve a comemoração limitada aos 90 minutos. Letícia diz: “Ao sairmos do Brinco, percebia que muitos estavam pasmos com a situação. Um pouco sem acreditar em tudo isso. Fomos até a sede da torcida organizada na qual faço parte (Fúria Independente) e lá estava acabando de começar a reprise que estava sendo transmitida por um canal e sentamos todos juntos para assistir à partida novamente. Foi a maior felicidade. Comemoramos todos os gols como se fossem inéditos. Foi uma emoção inexplicável e depois de conversar com muitos outros torcedores que não foram para o campo, foi nítido o arrependimento, afinal foi um fato histórico não só para o Guarani, mas para o futebol brasileiro.”

Já o senhor Ismael conta o que fez após o apito final: “Me lembro que ficamos (eu e meu cunhado), mais de uma hora na arquibancada após o jogo. Não queríamos ir embora, não queríamos que aquele momento terminasse. Quando finalmente saí do estádio, corri para o carro ouvir os comentários na rádio. Depois procurei na internet os vídeos dos gols. Até hoje eu assisto e me emociona, especialmente a narração do Esporte Interativo.”

O futebol brasileiro já viveu algumas viradas inesquecíveis, aqueles jogos fantásticos em que emergem emoções que apenas o futebol pode proporcionar. Exemplos não faltam, como o 4×3 do Vasco sobre o Palmeiras na Copa Mercosul de 2000 e o 5×4 do Flamengo sobre o Santos no Brasileirão de 2011. Mas 2016 foi o ano que o Guarani pôde marcar sua história com uma reviravolta a ser eternizada. Atravessando grande desvantagem, o bugre campineiro viu a vitória ser construída a cada segundo de jogo no Brinco de Ouro. É possível tentar descrever do que aquele estádio testemunhou. Mas apenas os torcedores que insistiram a acompanhar o seu time de coração podem ter eternizado na memória a sensação de ter estado naquele momento histórico: “A emoção da torcida que está sempre cantando e vibrando é extremamente diferente em se limitar a uma tela de televisão. A interação dos jogadores que vão até a torcida comemorar e inexplicável. É uma perspectiva que só é dada quando realmente se está no estádio”, finaliza Letícia.

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