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Hayao Miyazaki, Studio Ghibli e outras histórias

por Fernando Souza Quando Hayao Miyazaki anunciou sua aposentadoria em setembro de 2013 no Festival de Veneza, os fãs do Studio Ghibli, categoria na qual com certeza me encaixo, souberam que não teriam mais uma obra-prima do diretor. O estúdio de animação não deixou de existir, isso é verdade, mas não posso deixar de pensar que …

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por Fernando Souza

Quando Hayao Miyazaki anunciou sua aposentadoria em setembro de 2013 no Festival de Veneza, os fãs do Studio Ghibli, categoria na qual com certeza me encaixo, souberam que não teriam mais uma obra-prima do diretor. O estúdio de animação não deixou de existir, isso é verdade, mas não posso deixar de pensar que os filmes não serão os mesmos sem a presença de Miyazaki.

A fundação do Studio Ghibli não podia deixar de ser um exemplo de seu sucesso futuro. Após a boa recepção (do ótimo longa)  Nausicaä do Vale do Vento (Kaze no Tani no Nausicaä, 1984), escrito e dirigido por Miyazaki, Isao Takahata e o produtor Toshio Suzuki se juntaram ao diretor para fundar o Studio Ghibli em 1985. Mesmo feito antes do início das atividades da produtora, Nausicaä já propunha elementos que estariam presentes em muitas outras animações: estética impecável, o encontro entre a cultura e religiosidade tradicional japonesa com o presente, a relação entre o ser humano e a natureza e a presença de personagens femininas marcantes, a maioria protagonista da histórias.

Nausicaä do Vale do Vento: a primeira animação de Miyazaki

De 1984 para os dias de hoje, nenhum filme de Miyazaki fez mais sucesso do que A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001). Ganhador do Oscar de Melhor Animação, até hoje encontro algum detalhe novo e surpreendente a cada vez que o revejo. Tudo bem, preciso confessar que até hoje ainda fico com um pouco de medo com algumas cenas, mas não, isso não acaba com meu encanto por esse filme.

    Quando Chihiro e seus pais decidem pegar um atalho para chegar mais rápido a sua nova casa, eles não imaginavam que encontrariam no meio do caminho uma cidade aparentemente abandonada. Abandonada apenas na aparência, pois um banquete convidativo está a espera dos pais da garota, que não hesitam em aproveitá-lo. Enquanto isso, Chihiro investiga a misteriosa vila, quando um jovem, chamado Haku, aparece de repente e a alerta para sair do local até o anoitecer.

    Ao voltar para reencontrar seus pais, a garota descobre que foram transformados em porcos e que quando a noite chega, centenas de deuses chegam para povoar a estranha cidade. Sem saber o que fazer, Chihiro segue Haku para conseguir chegar até a bruxa Yubaba, que comanda a casa de banhos para a qual os deuses vieram. Chihiro então descobre que terá que fazer um trato com a bruxa para manter seus pais vivos e poder sair desse estranho mundo que até hoje me arrepia com tamanha riqueza de detalhes e sutilezas.

Cena de A Viagem de Chihiro, o maior sucesso do Studio Ghibli.

Lançado três anos após a fundação do estúdio, Meu Vizinho Totoro (Tonari no Totoro, 1988) foi um clássico instantâneo. Se me perguntam qual meu filme favorito, sempre fico com um pé atrás por nunca saber a resposta na hora. Para não ser injusto comigo mesmo, deixarei Meu Vizinho Totoro em primeiro lugar ainda por um bom tempo.

A história de Mei e Satsuki é singela, mas encantadora. Após se mudarem para mais perto de sua mãe, que está internada em um hospital na região rural do Japão, as duas garotinhas encontram uma casa antiga, um jardim e um bosque com uma enorme árvore para explorar enquanto seu pai trabalha. De pouco em pouco, os mistérios que rondam a casa começam a se revelar.

Seja no banheiro ou no quintal, os espíritos da floresta começam a aparecer para as crianças. Mei é a primeira que pode vê-los, mas logo Satsuki também passa a acreditar nas histórias da irmã e conhece seus novos vizinhos, dentre eles, Totoro, o espírito protetor da floresta. Da amizade que surge entre eles, Miyazaki nos lembra que devemos nos aproximar novamente da natureza, mesmo que ela seja representada por um enorme “monstro” de mais de dois metros de altura.

Uma das cenas mais emblemáticas do filme e que não sai de minha cabeça até hoje acontece quando Mei e Satsuki vão até o ponto de ônibus esperar seu pai chegar do trabalho. Após horas no ponto e sem sinal do pai, as meninas são surpreendidas por uma chuva e pelo espírito Totoro. Tenho certeza de que qualquer pessoa que goste de animação já viu a cena abaixo em algum lugar; e não é pra menos, ver Meu Vizinho Totoro novamente é poder voltar a enxergar o mundo como criança, mesmo que por pouco mais de uma hora.

O amor entre um peixinho dourado e um menino é o tema de Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar (Gake no Ue no Ponyo, 2008). Quando Ponyo, filha de um feiticeiro e de uma deusa, foge de sua casa e conhece Sosuke, um garotinho curioso e esperto, seu desejo de transformar-se em humana pode alterar o equilíbrio da natureza. Para conseguir ficar com o menino para sempre, ela burla as regras de seu pai e consegue provar do elixir que lhe dá poderes suficientes para manter a forma de criança. Porém, com tamanho poder em mãos, Ponyo acaba por submergir uma cidade inteira.

Talvez nunca em um filme de Miyazaki a natureza ganhou um olhar tão poeticamente adulto e fantasiosamente infantil.  A simplicidade do enredo ganha folêgo com as imagens surrerais de um mundo subaquático que instiga o espectador a explorá-lo com os olhos. O leito oceânico e florestas submersas são as paisagens que grandes peixes devonianos e nossos protagonistas percorrem por esse filme que, para mim, transborda vida a cada cena.

Baseado no livro “Howl’s Moving Castle”, O Castelo Animado (Howl no Ugoku Shiro, 2004) conta a história de Sophie para quebrar a maldição que a transformou em uma senhora idosa. Na busca pelo fim do encantamento, ela encontra o temido castelo do feiticeiro Howl, que vagueia pelas Terras Abandonadas.

Ao contrário das outras animações mencionadas anteriormente, O Castelo Animado propõe uma temática mais adulta e sombria sem deixar o fantástico de lado. Ambientado no que parece ser a Europa e com referências a Segunda Guerra Mundial, as disputas políticas se misturam com a busca de Sophie para acabar com a sua maldição e a luta de Howl contra suas trevas interiores.

O Castelo Animado – que realmente vagueia pelas Terras Abandonadas.

Depois de deixar seu reino para procurar a cura de uma maldição lançada por um deus-javali, o princípe Ashitaka chega a uma aldeia comandada pela Dama Eboshi com mãos de ferro. Para sobreviver, os mineradores retiram madeira da vegetação ao redor para as fornalhas, porém, ao conseguir lenha para o trabalho, a aldeia destrói uma floresta milenária, lar de deuses-animais.

Ao chegar na aldeia em plena véspera de batalha, Ashitaka precisa escolher em que lado estará na guerra entre humanos e deuses. Porém, ele não contava com a interferência de San, a princesa Mononoke. Adotada por deuses-lobo quando criança, a jovem jurou lutar até o fim para defender a floresta, porém, com a chegada do princípe amaldiçoado, suas certezas sobre sua própria identidade são abaladas.

Com esse enredo, Princesa Mononoke (Mononoke Hime, 1997) só pode ser definido como um épico para mim. Do confronto entre deuses e humanos, Miyazaki nos propõe novamente olhar para o modo com que nos relacionamos com a natureza através da guerra. Nesse filme, as personagens femininas ganham maior profundidade. Apesar de ser autoritária, a Dama Eboshi mantém a aldeia de pé graças a força de trabalho de leprosos e ex-prostitutas que tirou da marginalidade. A princesa Mononoke também é um exemplo de heroína que distoa do estereótipo de protagonista feminina ao optar em seguir seu próprio caminho.

A Princesa Mononoke, na luta pela preservação da floresta.

 

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