por Luís Viviani
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Acompanhando o sucesso das sagas Crepúsculo (Twilight, 2008) e Jogos Vorazes (Hunger Games, 2012), ambas advindas de livros best-sellers, o estúdio de cinema Summit Entertainment resolveu comprar os direitos autorais do livro Divergente, da novata autora Verônica Roth, e transformá-lo em filme. O público-alvo continuou sendo os jovens. E deu certo. Com apenas duas semanas em cartaz nos EUA, o filme de ficção científica já arrecadou mais dinheiro do que gastou na sua produção. E a tendência é lucrar cada vez mais.
Localizada em uma Chicago futurista e fechada, a história trata de uma sociedade distópica dividida em cinco facções, cada uma com sua virtude específica. A Audácia (dauntless) é uma espécie de polícia na qual se encontram os mais corajosos e destemidos. Na Erudição (erudite), os mais inteligentes procuram conhecimento na ciência e na tecnologia. A Amizade (amity) é preenchida pelos mais bondosos, conselheiros do governo. Já a Abnegação (abnegation) é composta pelos altruístas, que ocupam os cargos de líderes e ajudam os “Sem facções” (analogia aos atuais mendigos), além de não possuírem vaidade alguma. A Franqueza (condor), por sua vez, têm praticantes da honestidade e da sinceridade, auxiliando no judiciário. Cada uma possui seus próprios costumes, suas vestimentas e suas metas. O objetivo seria o de manter a paz, pois com essa divisão cada pessoa faria o seu papel numa sociedade considerada justa e ideal.
Assim, ao completar 16 anos de idade, os jovens são submetidos a um teste de aptidão para facilitar sua escolha em uma determinada facção. É nesse contexto que a protagonista da narrativa, Beatrice “Tris” Prior (Shailene Woodley), filha de dois líderes da Abnegação, Andrew Prior (Tony Goldwyn) e Natalie Prior (Ashley Judd), depara-se com uma peculiaridade. Seu teste não a qualifica exatamente para uma facção e o resultado é inconclusivo. Ela é uma divergente, que não se enquadra em uma só facção.
Confusa e sem saber seu destino, “Tris” esconde esse fato, pois os divergentes são considerados perigosos e, consequentemente, são perseguidos pela sociedade. Com isso, e mesmo com o teste de aptidão sendo inconclusivo, ela tem que necessariamente escolher um grupo, e acaba decidindo seu futuro ao entrar em uma facção diferente da qual tinha crescido (Abnegação), surpreendendo a todos. Traçando um paralelo a essa ideia, fica a reflexão de que definir o ser humano apenas com alguma virtude pode ser um equívoco. É de nossa natureza possuir características complexas e, por vezes, contraditórias. A fase de uma jovem, então, como a de Tris, exemplifica também algumas questões abordadas na história, como a do “quem eu sou?”, “em qual espaço pertenço?” e “o que me define?”.
Mas deixando as reflexões existenciais de lado, voltamos à análise do filme. O diretor da trama, Neil Burger, conhecido particularmente por O Ilusionista (The Illusionist, 2006), consegue manter o espectador preso e interessado na história. Além de todo o desenvolvimento da personagem principal ao longo do enredo, seu amadurecimento e crescimento, o filme contém elementos essenciais das produções hollywoodianas atuais. Altas doses de ação e aventura, efeitos especiais, um tanto de drama, cenas com leve humor, segredos e até mesmo um romance improvável – porém óbvio e intuitivo.
O filme traz também a atriz Kate Winslet (ela mesmo!) no papel de Jeanine Matthews, líder da Erudição e que desde cedo apresenta traços do que podemos considerar uma antagonista da história. Junta-se a ela o jovem ator Theo James, representando o orientador de Tris, Tobias Eaton, ou Quatro – seu apelido é explicado no enredo.
Por ser uma divergente, Tris acaba descobrindo alguns segredos obscuros da sociedade e as verdadeiras intenções de alguns personagens são reveladas, o que leva a nossa heroína a batalhar por um mundo no qual considera ser mais justo e sem a manipulação estatal.
Para alguns fãs, principalmente aqueles que adoram comparar o filme ao livro, provavelmente a ideia presente é de que a obra fica aquém do esperado. Podem dizer, também, que o filme peca em algumas mudanças na narrativa. Porém, para os não tão críticos e para os leigos, o filme consegue ser interessante e cativante. E torcemos (muito) por Tris. Criamos uma empatia verdadeira pela personagem e pelas suas ambições. A ideia pode parecer batida, mas em sua essência o filme trata mais de aspectos humanos do que se preocupa em estudar uma sociedade futurista, com toda a sua aura de ficção científica.
Insegurança, medo, amizade, paixão, luta. Esses são apenas alguns temas com que o filme nos presenteia, além, claro, de mostrar que todos nós somos um pouco divergentes.