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Juventude e poesia: jovens conquistam seu lugar na literatura brasileira

Quando se fala em poesia no Brasil, grandes nomes do passado são lembrados: Drummond, Cecília, Bandeira, Cora Coralina, Vinícius, Gregório de Matos… e assim vai. A lista desses célebres poetas é longa e tem representantes de diversas fases da literatura ao longo da história. O legado deixado por eles é uma das maiores riquezas culturais …

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Quando se fala em poesia no Brasil, grandes nomes do passado são lembrados: Drummond, Cecília, Bandeira, Cora Coralina, Vinícius, Gregório de Matos… e assim vai. A lista desses célebres poetas é longa e tem representantes de diversas fases da literatura ao longo da história. O legado deixado por eles é uma das maiores riquezas culturais do país, tornando sua memória certamente necessária. Porém, o que pouco se comenta e se conhece é a contribuição dos jovens de hoje para a literatura brasileira. Talvez por não ser um interesse tão comum entre esse grupo ou pela falta de atenção dada as suas obras, muitas vezes o talento desses escritores é negligenciado, mesmo tendo um grande significado para a juventude.

Além do talento com as palavras, muitos desses jovens poetas chamam a atenção pelo seu ativismo literário, assim como muitos dos grandes nomes do passado. Um exemplo é Helena Zelic, de 21 anos, estudante de letras da Universidade de São Paulo, que publicou seu livro de poesias “Constelações” no ano de 2016. Militante da Marcha Mundial das Mulheres, ela conta que o feminismo interfere em suas poesias “porque ele interfere na minha vida inteira”, e continua “[…] porque quando descobrimos o que é feminismo e aprendemos que o pessoal é político, passamos a olhar nossas vidas, relações, interesses, medos, desafios e afetos de uma nova maneira. Daí a importância de criar um conhecimento que seja feminista, e ir atrás do que outras mulheres já escreveram antes. […] Tudo isso interfere no que escrevo porque é aí que estou, é daí que partem muitas das minhas referências e inspirações. Muitas vezes, é estando na rua, no meio da multidão, carregando bandeira com as companheiras, que percebo que o que tenho a dizer importa. E aí escrevo, no meio do furacão.”

Incentivada à leitura em casa desde cedo, Helena conta que aprendeu a ler acompanhando os livros infantis que a mãe lia para ela todas as noites. Além da influência da família, a jovem diz que o contato com a leitura também veio do colégio: “Estudei em boas escolas que, apesar dos pesares, me ofereciam uma biblioteca com diversos títulos e aulas de português que me pediam leituras sempre. […] Sobre a poesia, em específico, acho que é sempre mais difícil porque lemos menos, temos menos familiaridade e nem sempre a escola dá conta de nos ensinar a dialogar com a poesia, entender sua linguagem, sua proposta e  seus tecidos. Mas me lembro de uma aula da oitava série em que o professor leu para a turma o “Resíduo” do Drummond. Nossa, como eu chorei, me lembro até hoje. Acho que ali eu estava aprendendo um pouco do que é a poesia.”

Além do livro que escreveu, a jovem também publica seus poemas em seu blog e em seu perfil no Medium, além de compartilhar em suas redes sociais. “No meio literário existe essa coisa de que você precisa manter tudo que escreve guardado, para ser original quando tiver que inscrever em algum concurso ou mesmo para publicar impresso”, conta Helena.

Sobre o papel dos jovens na literatura brasileira nos dias de hoje, a estudante e escritora diz que há uma tarefa de democratizar a literatura. “As jovens e os jovens têm desempenhado um papel super importante nesse processo, organizando saraus que são verdadeiros pólos de resistência nas periferias das cidades, as batalhas de rima, as feiras de zine e publicação independente, criando novas redes de solidariedade entre escritores que ultrapassa os objetivos do mercado editorial hegemônico, falando de pontos de vista que foram pouco ouvidos na nossa história branca, masculina e herdeira”.

Entretanto, como típicos poetas e também, típicos adolescentes, há aqueles que partem para o lado mais melancólico da poesia. Vitor Risso, de 19 anos, é estudante de Relações Públicas da Cásper Líbero e também escreve poemas. “Gosto de dizer que escrevo sobre tudo que sinto, vejo, ouço e imagino. Pode acabar sendo sobre mim ou não, não tenho um direcionamento em quanto ao meu processo de escrita”, explica.

Assim como Helena, o estudante publicou um livro de poesias no ano passado. “Beijo Póstumo” é carregado de assuntos variados: desilusões amorosas, suicídio, religiosidade, ironias, entre outros. Na contracapa da obra, lê-se: “Lhe apresento, caro leitor, o meu legado para essa pifa e desgastada humanidade”. A frase se assemelha a um trecho de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, em que Brás diz: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”. A relação também pode ser feita entre os títulos das duas obras. Ao ser questionado sobre isso, Vitor responde: “Você não foi a primeira a pensar isso. Eu mesmo fiz esta relação depois que publiquei a obra. Machado me influenciou e influencia muito, sou fã assumido dele, não só como escritor, a história dele é admirável. É um daqueles personagens que nos faz sentir orgulho de ser brasileiro”.

O estudante acredita que os jovens devem usar não apenas a poesia, mas a arte como um todo, como ferramenta de contestação do mundo em que vivem: “Creio que a função da poesia, não só atualmente, seja despertar sensação, qualquer que seja. Ela conseguindo tocar a consciência de alguém, levando a uma reflexão, já terá cumprido seu papel. Acredito que os jovens, e não através somente da poesia, e sim da arte e outros ofícios da vida, devem aproveitar estes meios para contestar a ordem social vigente, para tentar identificar e reparar os erros do mundo, trabalhando sempre para construir uma sociedade mais justa e fraterna. Na verdade, diria que esta é uma missão de todos, mas como um professor de física me disse uma vez, a revolução de verdade quase sempre nasce no seio da juventude”.

E não são só os jovens que sabem da sua importância para a literatura brasileira. A Chiado editora lançou, em maio deste ano, o livro “Além da Terra, Além do Céu – Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea”, que contou com poemas de muitos jovens escritores. Em resposta ao Sala33, a editora comentou essa participação: “É evidente que os jovens autores têm um papel preponderante na modelação da escrita na contemporaneidade e é sempre muito gratificante para nós comprovar a existência de um número tão grande de talentos jovens e emergentes que estão escrevendo na nossa língua, nos nossos dias”.

Uma dessas participações foi a de Lucas Menezes de 20 anos, estudante de Publicidade e Propaganda da Cásper Líbero. “Foi bem inesperado, eu vi que tava rolando um concurso selecionando as melhores poesias pra fazer parte dessa antologia e acabei mandando a primeira que escrevi. É maravilhoso saber que fui escolhido, é um reconhecimento necessário”, conta ele.

Além dessa participação, Lucas também publicou, esse ano, o seu próprio livro. “Versos e Versões” foi o nome escolhido para a obra, e ele explica o porquê: “O livro tem esse nome porque depois de algumas poesias eu dei uma breve explicação das metáforas que eu usei, das referências, ou até mesmo do contexto histórico que eu tava quando escrevi aqueles versos. E essa é a minha versão do meu verso, sabe? Eu quero que as pessoas ressignifiquem o que eu escrevi de acordo com a vivência ou experiência delas, pra criarem a versão delas também. Não existe menos de dois pontos de vista na arte, e eu coloquei os meus no livro”.

O estudante, que tomou gosto pela poesia nas aulas de literatura no ensino médio, diz escrever muito sobre o amor e a sociedade. “Acho que é reflexo dessa antítese brasileira de paixão e revolta… paixão com os encontros e desencontros, e revolta com o sistema, com tudo que ele nos limita”, explica Lucas. E ele até pretende lançar outros livros, mas só futuramente. Isso porque seu foco agora é outro: “No momento ou num futuro próximo, o meu objetivo é escrever um samba enredo, colocar minha poesia na avenida”. Além disso, também conta que seus poetas favoritos são Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Cazuza, e que eles o influenciam muito em seus poemas: “Já fiz alguns poemas-resposta para as obras deles, e eles são referências constantes nas minhas rimas.”

Ao falar sobre a poesia em si, Lucas comenta: “Eu acho que o principal papel da poesia é despertar. Despertar o interesse, a curiosidade, o amor. Quem nunca teve vontade de se apaixonar ouvindo Cazuza? Quem nunca ficou puto com o governo ouvindo rap? Quem nunca foi buscar uma referência antiga do samba ouvindo Marcelo D2? É esse amor, esse interesse e essa curiosidade que só a poesia é capaz de proporcionar. E é importante que a poesia continue acessível pra gerar esse interesse na grande massa”.

“Os jovens se encaixam na disseminação daquela antítese que eu falei, tem que espalhar o amor sim (porque tá em falta) e tem que escancarar e denunciar as corrupções do sistema sim (porque tá sobrando). A juventude é a fase em que a gente tem menos medo de dar a cara à tapa e tem mais vontade de mudar o mundo”

De poema em poema, a juventude conquista o seu lugar na literatura brasileira.

Por Jade Rezende
jaderezender@gmail.com

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