Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Marina Abramovic: a avó da performance

Imagem: Bruno Carbinatto/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior “Demorou muito tempo para mostrar que a performance é arte, e, quando aconteceu, a sociedade e a mídia me levaram para o lugar que estou agora”*, disse Marina Abramovic em entrevista para CNN. Em uma fusão de teatro, dança, audiovisual, poesia e artes plásticas, as performances são a …

Marina Abramovic: a avó da performance Leia mais »

Imagem: Bruno Carbinatto/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior

“Demorou muito tempo para mostrar que a performance é arte, e, quando aconteceu, a sociedade e a mídia me levaram para o lugar que estou agora”*, disse Marina Abramovic em entrevista para CNN. Em uma fusão de teatro, dança, audiovisual, poesia e artes plásticas, as performances são a representação do sincretismo que é a arte moderna: nada mais é puro, todos os recursos são utilizados na construção de obras.

A vencedora do Leão de Ouro de 1997 como Melhor Artista pelo vídeo da perfomance Balkan Baroque, Abramovic  é um ícone da performance art e impactou o mundo com suas diversas obras que, para levar o espectador à reflexão que deseja, atinge seus  limites físicos e o psicológicos.

Nascida em Belgrado (capital antiga Iugoslávia, atual Sérvia) e filha de militantes do Partido Comunista Iugoslavo, a resistência à dor que a performer possui é atribuída à intolerância dos pais a fraqueza e reclamações, uma vez que desde cedo a artista viveu em um ambiente autoritário e com pouco afeto.

 

Rest Energy (1980)

Imagem: Desconhecido

Marina Abramovic teve um relacionamento que durou 12 anos com o performer Ulay (apelido de Frank Uwe Laysiepen). Os dois construíram uma carreira juntos, criando várias obras que falavam sobre o amor e a ligação que as pessoas estabelecem umas com as outras, mostrando o quanto isso pode ser danoso e criar dependência.

Nessa performance, Marina segurava um arco enquanto Ulay puxava, apontando uma flecha diretamente para seu coração, ao mesmo tempo que os dois se tombavam para trás com a intenção de ir aumentando gradativamente a tensão da arma. Enquanto faziam isso, um microfone permitia aos espectadores ouvir os batimentos cardíacos dos dois artistas. Quanto mais eles aumentavam a tensão da flecha, mais perigoso ficava.

Embora tenha durado apenas quatro minutos e dez segundos, eu estou lhe dizendo, para mim foi para sempre. Foi uma performance sobre a confiança total”*, disse a artista sobre a obra. O significado de tudo isso pode ser interpretado como a entrega que os casais se permitem e como  pode ser perigoso para ambos, porque sempre estarão com uma flecha apontada para o peito, ameaçada pelas atitudes de seu amor.

 

Rhythm 0 (1975)

Imagem: Marina Abramovic Institute

Essa deve ser a performance mais conhecida de Abramovic , por ter causado um impacto gigante no mundo da arte, chocando todos que a assistiram e foram alcançados por sua repercussão.

Durante seis horas, a artista se apresentou como um fantoche para o público e deixou disponível mais de 72 objetos de todos os tipos para fazerem o que quisessem com eles e com ela. Ao fazer isso, Marina estava exposta a qualquer tipo de coisa que seus espectadores quisessem fazer, mas mais uma vez ignorou seu lado físico e se focou na entrega total à arte. “Uma vez que você entra no estado de performance, você pode impelir seu corpo a fazer coisas que jamais você normalmente faria”*, palavras da performer.

No começo, os participantes estavam agindo com delicadeza e respeito, fazendo carinho, beijando, mexendo em seus braços. Porém, depois de um tempo, a performance tomou um caminho muito violento e chegou ao ponto de participantes beberem sangue de um corte do seu pescoço e a fazerem segurar uma arma apontada para sua cabeça. Abramovic estava disposta a passar por qualquer coisa pela performance e continuou imóvel.

Ao final do tempo, o público foi avisado do final da obra e a artista andou pela galeria, encarando os participantes. Nenhum deles conseguia olhá-la nos olhos por conta do que tinham feito a ela, por tê-la objetificado e passado dos limites da interação entre artista e público. Tudo isso foi feito para explicitar a brutalidade do ser humano quando não tem regras, limites e não vai ser punido pelo que fizer.

 

The Lovers – The Great Wall Walk

Imagem: Desconhecido

12 anos depois, o intenso relacionamento de Marina com Ulay chegou ao fim. Mas é claro que os dois performers não terminariam em uma simples discussão de relacionamento. O rompimento do casal se tornou um grande evento e uma das maiores obras da carreira dos dois.

Para deixar marcado na história da arte e da vida, eles se propuseram a andar toda a extensão do Muralha da China e se encontraram no meio dela, como despedida. Originalmente, o projeto era fazer o casamento dos dois artistas, mas, como o governo chinês demorou nove anos para autorizar a caminhada, a obra se encerrou com o rompimento do relacionamento.

Abramovic começou sua jornada na cabeça do Dragão (como é chamada a Muralha), que fica no mar Amarelo, representando a água, e Ulay saiu do final do dragão, no deserto de Gobi, representando o fogo. Após se encontrarem, cada um seguiu seu caminho como artista independente e sem os laços daquele relacionamento.

“Foi um fim muito dramático e muito doloroso”*, disse Abramovic  para a descrição da obra no MoMA.

The Artist is Present

Imagem: Desconhecido

Nome da performance mais célebre da artista até hoje, da exposição feita no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e do seu documentário de 2012, presença é algo que define bem a carreira de Abramovic  no mundo da arte.

Nessa obra, que durou 512 horas durante três meses, seis dias por semana e sete horas e meia por dia, era possível que o espectador sentasse de frente para a performer e a encarasse, sem dizer nada, apenas mantendo o contato visual e aproveitando-se da energia que aquele momento possuía. A artista estava realmente presente e dedicou horas de sua vida para se conectar com mais de 1000 pessoas durante o tempo em que a exposição sobre suas obras durou.

A experiência levou muitos às lágrimas e rendeu um vídeo que ficou famoso na internet, quando Ulay foi visitar o MoMA e se sentou na frente de Marina.

71 anos com a bola toda

Ultimamente, Abramovic  tem dado cursos para performers que estão iniciando no mundo da arte, ensinando exercícios físicos que levam o corpo aos extremos que está acostumada. Para participar de sua mega exposição no MoMA, os artistas deviam ficar dias isolados em um sítio onde não podiam falar ou comer e enfrentavam situações com temperaturas extremas.

Para eternizar sua marca no mundo da arte, tem publicado livros com a história de suas obras e em 2012 lançou um documentário que resume um pouco sua trajetória pessoal e artística, além de mostrar os bastidores da organização da exposição que reuniu suas maiores peças.

Uma coisa é certa: Marina Abramovic não vai ficar parada.

Por Giovana Christ
giovanachrist@usp.br

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima