O filme Mark Felt: O Homem que Derrubou a Casa Branca” (2017) apresenta um nome que até sete anos atrás era desconhecido. Mark Felt era vice-presidente do FBI em 1972 quando o caso Watergate estourou. O prédio Watergate, ocupado pelos democratas, foi invadido por um grupo de cinco pessoas, que fotografaram e tentaram colocar escutas e grampos nas salas. Dois jornalistas do Washington Post decidiram investigar o caso e uma fonte secreta, o “Garganta Profunda”, vazou informações secretas do FBI para esses repórteres. A fonte ficou conhecida por ajudar a desmascarar Nixon, até então presidente dos EUA, que estava envolvido no caso Watergate, o maior escândalo de corrupção da história. O caso de Watergate tem importância histórica, política e jornalística. A cobertura e investigação do Washington Post é discutida até hoje nas faculdades de jornalismo. Grande parte dessa importância se dá à intensa apuração realizada.
Apenas em 2005 a identidade dessa fonte foi revelada. Mark Felt revelou que era o Garganta Profunda e a ação de Mark no caso dá nome ao filme: o homem que derrubou a Casa Branca. A trama se desenrola em torno dessa personagem e mostra o agente atuando como fonte secreta durante a investigação do escândalo. A cena final do filme acontece com Felt (Liam Neeson) sendo interrogado: “você era?” se referindo a Mark Felt ser o famoso Garganta Profunda. O vice-presidente não responde, a imagem da tela congela no rosto do ator, a pergunta fica no ar, assim como ficou durante anos na vida real.
O longa consegue passar a tensão do caso, consegue mostrar o estremecimento que o episódio causou na estrutura do FBI e mostra as incansáveis tentativas dos representantes de não deixarem com que a reputação da agência fosse manchada. Mark tenta se manter neutro enquanto age às escondidas. É possível perceber o quanto Mark Felt representava a proposta do FBI de encontrar a verdade e se manter como um órgão independente. Felt luta para escancarar a verdade e torná-la de conhecimento público e, aqui, sua moralidade fala mais alto do que seu instinto de autoproteção.
Para quem não conhece a fundo o caso de Watergate, há certa dificuldade no entendimento do filme, pois ele envolve muitas personagens que são peças centrais no escândalo e também contém muitas informações diferentes nas mesmas cenas. É preciso se manter atento para entender o desenrolar da trama e a solução do caso.
Um filtro azulado cobre a película, dando uma sensação mais séria e misteriosa à história. A trilha musical também acompanha a tensão e cria ansiedade no telespectador. Ao ver fotos de Mark Felt é possível perceber que o ator foi cuidadosamente escolhido a fim de se assemelhar e gerar mais vivacidade na atuação. A presença de imagens reais de Richard Nixon também aproxima quem assiste à história.
Apesar do enfoque nesse episódio específico da vida de Felt, sua vida pessoal também é retratada como o problema de relacionamento entre sua esposa e sua filha, a admiração doentia da mulher por ele e sua rotina ao se esconder dentro de carros em estacionamentos subsolos para revelar informações aos jornalistas.
Atrás de todo fato histórico existem pessoas e é isso que o filme mostra. O homem por trás da renúncia do presidente dos Estados Unidos, o homem que colaborou com o jornalismo investigativo como nunca antes, o homem que arriscou sua vida pela verdade. O longa dá um rosto a um fato, faz com que a história se torne mais tangível e entendível. O fato deixa de ser isolado e pontual, e a proximidade cativa o telespectador a entender esse importante ponto da política americana.
Mark Felt: O Homem que Derrubou a Casa Branca chega aos cinemas no dia 26 de outubro. Confira o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=D77uJR53Apc
por Júlia Vieira
juliavcamargo@live.com