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O realismo quase mágico de Ron Mueck

Desde novembro, a Exposição Ron Mueck na Pinacoteca do Estado vem atraindo milhares de pessoas. Uma fila de quase uma hora e meia circunda o prédio, todos ansiosos para ver as esculturas ultra-realistas do australiano. A primeira obra a que se é encaminhado entrando no museu é o rosto do escultor em uma escala bem maior …

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Desde novembro, a Exposição Ron Mueck na Pinacoteca do Estado vem atraindo milhares de pessoas. Uma fila de quase uma hora e meia circunda o prédio, todos ansiosos para ver as esculturas ultra-realistas do australiano.

A primeira obra a que se é encaminhado entrando no museu é o rosto do escultor em uma escala bem maior que a real. Este é um dos aspectos pitorescos do artista: suas obras poderiam ser confundidas com seres humanos de verdade, não fosse o fato delas sempre serem maiores ou menores que uma pessoa real. Essa primeira escultura mostra seu rosto dormindo, deitado sobre a plataforma. Ao tentar circundar o objeto, você acaba percebendo que o rosto parece mais uma máscara com seu fundo oco. Segundo Mueck, ele escolheu retrata-lo dessa forma porque a máscara é um objeto inteiro em si mesmo. Ele diz que não conseguiria fazer uma cabeça decapitada ou um meio corpo, por isso uma máscara faz mais sentido em sua concepção.

As obras do artista muitas vezes fazem referência a cenas clássicas da arte ocidental. Na exposição, uma de suas esculturas é uma referência à representação comum de uma mãe com seu bebê. Porém, diferente dos outros artistas da história, a forma como Ron Mueck traduz essa cena é bem menos idealista. Na obra, entitulada “Mulher com as Compras” (2013), a mãe apresenta uma figura cansada e desgastada, totalemente inidiferente ao filho que a olha.

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“Mulher com compras” (2013). Foto: Júlio Viana.

Outra peça extremamente impressionante e que faz analogia a outra prática comum na história da arte do Ocidente, é a obra “Natureza Morta” (2009). A escultura é uma reprodução em escala maior de um frango morto depenado, com o corte no pescoço que o matou. Aqui percebemos o perfeccionismo de Mueck ao ver como a pele e músuculos do animal parecem flácidos e sem vida. O tamanho da escultura traz ainda mais carga dramática para a figura.

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“Natureza morta” (2009). Foto: Júlio Viana.

As esculturas do artista são geralmente feitas de resina, fibra de vidro, silicone e argila. Pelos e cabelos são colocados um a um e todas as obras são produzidas manualmente pelo escultor, recebendo ajuda de assistentes só quando as peças são muito grandes. Para transporta-los para cá, cada objeto foi desmontado e todos foram divididos em 20 caixas, trazidas em um avião cargueiro. O peso ao todo é de 7 toneladas, com avaliação de valor em R$ 77 milhões.

Não são todas, porém, que trazem a carga dramática em seus tamanhos, mas sim no jeito e na posição em que foram colocadas. As obras de Mueck têm uma qualidade engraçada capaz de fazer o observador inventar histórias para os personagens ali vistos, na tentativa de explicar a cena que é retratada para ele. A peça “Jovem Casal” (2013), por exemplo, quando vista de frente pode estar nos apresentando apenas mais um casal de namorados, mas ao dar a volta e vê-los por trás, imaginamos uma história completamente nova para a situação.

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“Jovem Casal” (2013). Foto: Júlio Viana.

Outra obra presente na exposição que provoca a imaginação dos observadores é a “Mulher com Galhos” (2009). Nela vê-se uma figura feminina, mais uma vez, representada com perfeição, carregando uma pilha enorme de galhos. Em uma mistura de ficção com realidade, esta imagem nos faz perguntar o que exatamente essa senhora poderia estar fazendo, qual o objetivo dela ao carregar tais galhos, por que estaria nua, entre outras questões que surgem na nossa tentativa de formar uma história para ela. Outro ponto curioso é que, diferente das outras esculturas dessa exposição, sentimos que o olhar dela nos acompanha e nos vigia dependendo do ângulo em que a visualizamos.

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“Mulher com galhos” (2009). Foto: Júlio Viana.

Outras peças também nos fazem refletir como “Homem em um Barco” (2002), escultura de uma homem nu em um barco de tamanho real. Um fato curioso sobre esta obra, é que o personagem é baseado no pai de Mueck. Ela nos traz a impressão de perdição, de estar sem rumo, nos remetendo, talvez, ao próprio fato de não podermos controlar nossa vida e apenas estarmos em um barco, esperando pelos momentos certos.

A escultura “Juventude” (2009) traz a figura de um jovem negro com um corte nas costelas. Podemos ver claramente uma história sobre violência por trás da imagem. Ainda mais quando observamos a expressão, não de dor ou raiva, mas de susto do personagem. Talvez ele tenha sido ferido acidentalmente, talvez nem tenha visto como fez o ferimento, ou não achou que algumas de suas ações reusltariam naquilo. Muitas são as histórias possíveis.

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“Juventude” (2009). Foto: Júlio Viana.

A exposição apresenta ao todo nove obras do escultor. Entre elas também se encontra “Casal debaixo do guarda-sol” (2013) que é a reprodução em maior escala de um casal de idosos na praia e a “À deriva” (2009), representação de um homem visto de cima em uma bóia.

Apesar de apresentar poucas esculturas, podemos aproveitar bastante as figuras de Ron Mueck ao observarmos os detalhes realistas de cada uma, assim como as histórias e reflexões que elas trazem. É importante ressaltar que, por ser um programa bastante popular na cidade no momento, os funcionários da Pinacoteca deixam bem claro na entrada que precismos manter uma ordem, sem poder voltar salas durante a exposição, então observe bem cada obra antes de passar para a próxima. Ao final, nos oferecem a possibilidade de assistir ao filme “Natureza Morta: Ron Mueck trabalhando” (2013) de Gautier Deblonde. Nele, podemos assistir ao artista trabalhando meticulosamente em seu atêlie.

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“Casal debaixo do guarda-sol” (2013). Foto: Júlio Viana.

 

Por Júlio Viana
julio.soaresv@gmail.com

1 comentário em “O realismo quase mágico de Ron Mueck”

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