Toda criança tem sonhos, muita energia e criatividade. A imaginação é o combustível da infância, e é ela que dá brilho ao filme O Parque dos Sonhos (Wonder Park, 2019), da Paramount Pictures. A animação consegue, por um instante, fazer mesmo os mais velhos voltarem a ser crianças.
O longa conta a história de June (Brianna Denski), uma garotinha que, junto com sua mãe, imaginou um parque de diversões cheio de maravilhas. Entre elas, um carrossel de peixes voadores, um escorregador gigante feito de canudinhos dobráveis e um espaço onde a gravidade é zero. No Parque dos Sonhos, tudo era possível para June. Bastava sussurrar a ideia no ouvido de Peanut, seu macaco de pelúcia e engenheiro do parque, e ela se concretizava.
As coisas começam a mudar quando a mãe da menina fica doente e vai para longe fazer um tratamento. A protagonista, então, se desanima e para de brincar com o Parque dos Sonhos. Assim, tudo é deixado de lado: o projeto do parque, as atrações em miniatura que ocupavam toda a casa e até a sua enorme imaginação.
Um dia, June se vê magicamente dentro do parque que imaginou com sua mãe durante anos. Todas as atrações e seus amigos de pelúcia haviam ganhado vida, e tudo era igual ou melhor do que ela havia pensado. Porém, o Parque dos Sonhos enfrentava um grande problema. A Escuridão pairava sobre ele, transformando-o em ruínas, aos poucos. Mesmo tendo de lidar com suas próprias dificuldades, a menina encontra forças para ajudar a salvar o parque da Escuridão, junto com seus amigos. Nessa jornada, ela recupera também sua esperança e sua magia infantis.
Tratar da infância é sempre muito delicado. Para a maioria das pessoas, essa fase da vida traz muitas memórias boas, porque é marcada por várias brincadeiras e nenhuma preocupação. A abordagem extremamente sensível desse tema, feita no filme, é quase perfeita e consegue trazer todas essas memórias à tona.
Algo que contribui muito para essa sensibilidade presente em todo o longa, é a combinação de cenas muito bem compostas e bonitas, com uma trilha sonora marcante. O som e a imagem se complementam, se encaixam perfeitamente e emocionam, podendo até fazer com que rolem algumas lágrimas. Um exemplo é o momento em que June está construindo a maquete do parque e sua mãe coloca uma florzinha em seu nariz. São pequenos detalhes como esse que conferem uma beleza única ao filme.
A relação da menina com sua família, seu crescimento, a evolução de sua imaginação e brincadeiras, enfim, todos os aspectos da vida da protagonista são mostrados de forma bastante aprofundada e verossímil. Isso contribui para que o filme se torne ainda mais cativante e faz com que a identificação com a história se torne ainda mais fácil. Os adultos se lembrarão de suas infâncias ou das de seus filhos, e as crianças verão em June uma verdadeira inspiração, principalmente no quesito criatividade.
A personagem principal já é em si muito cativante. June é uma menina sapeca, esperta e cheia de energia, que adora brincar. Para ela, não existe tempo ruim, está sempre pronta para inventar algo novo. A maneira como a doença de sua mãe rouba isso dela assusta um pouco, mas mostra que a garota é humana como nós, o que também contribui para a verossimilhança da história. June também sente medo, tristeza, e se desanima quando as coisas ficam difíceis.
Em algumas cenas do filme, porém, existia certa raiva e angústia, além de um pouco de agressividade, talvez em exagero para uma animação infantil. Isso pode ser percebido principalmente quando a protagonista está aprendendo a lidar com a ausência da mãe, mas em outros momentos do longa essas sensações também se fazem presentes. Apesar de um pouco complexas para crianças, todas as emoções retratadas no longa são reais, e os espectadores mais sensíveis com certeza serão capazes de senti-las na pele.
Algumas quebras de ritmo podem ser percebidas ao longo da história, como na cena em que June visita a Terra da Gravidade Zero, e temos a impressão de ter perdido alguma parte do filme. Fora isso, o enredo é bem estruturado, e a história nos prende do início ao fim.
Os personagens são, no geral, bem interessantes e originais, com destaque para o macaco Peanut. Ele tem feições mais expressivas que os outros, e uma voz mais madura. Não é exatamente um personagem infantil, mas impressiona pelas emoções que deixa transparecer apenas por seu olhar, o que o torna bastante memorável.
Apesar de alguns elementos serem melhor assimilados por adultos, o longa não economiza na cor, na magia e na criatividade, construindo um filme bem divertido para as crianças a todo tempo. Com certeza a Paramount conseguiu entregar uma animação capaz de entreter toda a família. O Parque dos Sonhos agrada aos olhos, ouvidos e coração, e com certeza encantará muito a todos. Será que ele não é mesmo real? Abra sua imaginação para essa produção espetacular, ou como diria June: espetaculíssima!
O filme estreia no dia 14 de março. Veja o trailer:
por Marina Caiado
marinafcaiado@usp.br