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Os 50 anos de Chorão, o Grande

Entre “dias de luta e dias de glória”, Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como Chorão, ficou famoso por consolidar uma das maiores bandas de rock nacional, Charlie Brown Jr. (CBJr). Chorão, que completaria 50 anos em 2020, foi um homem de forte personalidade, e muito mais que uma figura icônica no cenário do rock brasileiro.  …

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Entre “dias de luta e dias de glória”, Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como Chorão, ficou famoso por consolidar uma das maiores bandas de rock nacional, Charlie Brown Jr. (CBJr). Chorão, que completaria 50 anos em 2020, foi um homem de forte personalidade, e muito mais que uma figura icônica no cenário do rock brasileiro. 

Um dos compositores da música Zóio de Lula, Chorão ainda está presente de diversas maneiras na vida de seus fãs: Até a metade de 2020, eles já pediram para inserir o ídolo como o novo personagem de um jogo, receberam o anúncio de uma turnê em comemoração ao seu aniversário e também a notícia da estreia de um documentário sobre a vida do rockstar. Esses acontecimentos provam que o Chorão continua sendo assunto pelos vários motivos que o tornam especial.


Apresentação da Charlie Brown Jr. no Planeta Atlântida 2012 [Youtube: Charlie Brown Jr.]

 

Quem foi Chorão?

Alexandre nasceu em 9 de abril de 1970, em São Paulo, porém, ainda criança, passou a morar em Santos, onde conheceu suas primeiras paixões: o skate e a música. Sobre o skate, Felipe Novaes, diretor do documentário Chorão: Marginal Alado (2019), esclarece o título e um pouco da personalidade do cantor, conforme suas pesquisas: “Chorão fez uma tatuagem no braço escrito ‘Marginal Alado’, ele se autointitulava assim porque se sentia à margem da sociedade, foi um garoto bem rebelde”. Felipe aponta que o skate era mal visto pela sociedade em 1980, quando Chorão era adolescente. Para o diretor, a rebeldia foi a principal razão para o destaque de Chorão. “É como se essa marginalidade tivesse criado asas, como se ele fosse um alado que alcançaria outros lugares”.

Banda Charlie Brown Jr. e Chorão com as tatuagens “Marginal Alado” e “Skate Por Toda Vida” [Imagem: Divulgação/Charlie Brown Jr.]
Banda Charlie Brown Jr. e Chorão com as tatuagens “Marginal Alado” e “Skate Por Toda Vida” [Imagem: Divulgação/Charlie Brown Jr.]
Chegou a outros lugares não só pela sua atitude ousada, mas também pela sua visão de mundo. Além da área musical, o ex-vocalista se expandiu para outros campos: escreveu o roteiro do filme O Magnata (2007) e lançou uma grife de roupas voltada para os skatistas, intitulada DO.CE (“dose certa”). André Pinguim, ex-baterista da banda Charlie Brown Jr., detalha mais o lado empreendedor de Chorão: “Ele era um workaholic, sempre pensava em novidades para que a banda estivesse na ativa. Todo dia a gente fazia alguma coisa”.

Chorão era uma pessoa complexa. Por um lado era benevolente, fazia várias ações solidárias, como o show na Fundação Casa em 2009, e ajudava muitas pessoas, visto suas contribuições à ONG Social Skate e ao Hospital do Câncer de Barretos. Já por outro lado, era polêmico. Chegou a ser preso e brigou muitas vezes, como no conflito em um aeroporto com Marcelo Camelo, vocalista da banda Los Hermanos. 

Heitor Gomes, ex-baixista da CBJr., conta que Chorão “era um cara de bom coração, tinha muita sensibilidade, inteligência e visão; mas não levava desaforo para casa e era bom de briga”.

Chorão com a camisa da marca DO.CE [Imagem: Rafael França/TV Globo]
Chorão com a camisa da marca DO.CE
[Imagem: Rafael França/TV Globo]

 

Charlie Brown Jr.: estilo único e representatividade

O nome de uma das maiores bandas do Brasil nasceu a partir de um episódio inusitado: Chorão atropelou com seu carro uma barraca de coco com o desenho do personagem Charlie Brown. A parte do “Júnior” significa “filhos do rock”, segundo o cantor. 

Uma pesquisa de 2019 da plataforma Deezer relata que a CBJr é uma das cinco bandas de rock mais tocadas no Brasil, o que mostra que a “família 013” se perpetua por várias gerações. É difícil encontrar um brasileiro que não reconheça a banda de origem santista que depois dominou o Brasil e o mundo, chegando a ganhar até o Grammy Latino em 2005 e em 2010.

Mas como a banda conseguiu tanto sucesso? Segundo Heitor Gomes, “era uma banda com vários estilos, uma musicalidade única na cena do rock nacional, o que fez com que o grupo estourasse”.


Apresentação de Charlie Brown Jr. & RZO – A Banca (Ratatá É Bicho Solto) [Youtube: RZO]

A banda de rock tem influências de outros estilos, como o reggae, o hardcore, o punk e, principalmente, o rap. Destaca-se o último, visto que a banda trouxe mais popularidade ao gênero, considerado periférico. Para o doutorando em etnomusicologia Felipe Maia, isso foi inovador. “Charlie Brown trouxe músicas de periferia como rap para o palco principal. É fascinante um grupo de rock, gênero de música considerado branco, trazer artistas pretos para seu CD.” Nos anos 1990, nenhuma banda de rock fazia isso. Havia muitas bandas de rock famosas, como Ira! e Ultraje a Rigor, mas grupos de rap, como os Racionais MC’s, demoraram muito para chegar no mainstream. Para Felipe, mostrar que a música preta também tem valor, que o rap diz respeito à juventude, englobando suas angústias e frustrações, possui um fator simbólico muito importante. “Muitos rappers hoje tem influência da Charlie Brown Jr. em suas músicas, a banda foi uma ponte entre o rock e o rap, algo que não tinha sido feito antes”, completa.

Além do estilo único, outro diferencial das músicas eram as letras. Ao mesmo tempo que as canções retratam o cotidiano de Chorão, a maioria contém temas atemporais e universais, como o amor, os sonhos, a família, os amigos e a política. André Pinguim destaca que há músicas reflexivas e atentas às questões sociais e políticas. “São canções fortes e verdadeiras, representam muita gente até hoje. Parece que algumas foram feitas ontem, mas foram escritas dez anos atrás”.

A “família” Charlie Brown Jr. não apenas representa a juventude da década de 90, mas também várias classes sociais e tribos diferentes. A banda santista se apresentou em vários lugares e para todos os públicos, inclusive em muitas periferias, como na Rocinha. 

Chorão durante show do Racionais MC's no Planeta Atlântida 2013 [Foto: Jefferson Bernardes/Preview.com]
Chorão durante show do Racionais MC’s no Planeta Atlântida 2013
[Foto: Jefferson Bernardes/Preview.com]

 

Popularidade do Skate

Vice-campeão paulista de skate na modalidade free-style, Chorão conhecia vários skatistas famosos, como Bob Burnquist e Sandro Dias (o Mineirinho). A paixão pelo skate fez com que o cantor levantasse a bandeira do esporte e o retratasse em suas letras, por exemplo na música Somos Extremes no Esporte e na Música

Skate não é crime, manobra de ação

Esporte é um mercado aí você revolucionário

Quem anda de skate não é embalo.

Chorão colocava o skate em evidência de várias maneiras, como uma prática esportiva e um estilo de vida. A conexão entre a música e o esporte era tão intensa que a banda chegou a gravar o DVD chamado “Skate Vibration”. Na gravação, tocavam na pista de skate enquanto, ao fundo, muitos skatistas famosos (alguns vieram até dos Estados Unidos) realizavam suas manobras.

Assim, o ex-vocalista e skatista tornou o skate uma febre entre os jovens. Chorão inaugurou a pista Skate Park em Santos, hoje demolida. Entretanto, em outra parte da cidade, no Quebra Mar, há uma pista em sua homenagem.

Chorão no Skate Park, em Santos [Imagem: Reprodução/Flickr]
Chorão no Skate Park, em Santos [Imagem: Reprodução/Flickr]

 

Charlie Brown Jr. sem Chorão?

Em 6 de março de 2013, o Chorão foi encontrado morto, em São Paulo, em decorrência de uma overdose. Foi um momento de luto para o rock nacional, a tristeza atingiu não apenas sua família e amigos, mas também uma legião de fãs. Logo após o acontecimento, a banda decretou seu fim, já que não havia mais sentido Charlie Brown Jr. sem o seu líder.

A banda e o cantor deixaram um enorme legado, com um diferencial que permite a perpetuação de suas músicas. O diretor Felipe Novaes afirma que Chorão conseguiu aumentar o alcance de sentimentos que todos sentem, ao retratar questões muito universais e da juventude. “Ele cantava e acreditava. Todos os músicos renomados que entrevistei falaram disso. A pessoa consegue fazer sucesso por tanto tempo quando acredita no que canta”.

Embora os integrantes da banda tenham decretado o fim de uma era, há diversos tributos, bandas cover e shows em homenagens ao ex-vocalista. Em 2014, o filho de Chorão, Alexandre Abrão, organizou o festival “Tamo Aí Na Atividade”, que leva o nome de um álbum da banda, com a presença de músicos e skatistas renomados. Já em 2019, ex-integrantes reviveram a banda no Rock in Rio, comovendo milhares de fãs. O ex-baixista Heitor Gomes explica de que forma o Chorão está presente nessas homenagens: “Cantamos com ele, de certa forma, porque fazemos uma apresentação e cantamos com a voz dele por meio da mesa de som. Ele aparece no telão, em imagens do último DVD. Esse é o diferencial da celebração”.

Apresentação da banda Charlie Brown Jr. no Rock in Rio 2019 [Youtube]


50 anos de história

Mesmo após o anúncio do fim da banda, há sete anos, os fãs ainda mantêm a memória da “família Charlie Brown”, sobretudo, pela internet. Em maio deste ano, foi divulgado que os jogos “Tony Hawk’s Pro Skater” 1 e 2 seriam relançados. Logo em seguida, fãs criaram uma petição, que atingiu milhares de assinaturas, para que Chorão virasse um personagem do jogo. Até o skatista Bob Burnquist, que já apareceu no jogo, sugeriu uma homenagem ao cantor. Depois da grande campanha, a família 013 pode comemorar. No dia 4 de setembro foi lançado o jogo, com uma trilha sonora oficial que contém Charlie Brown Jr., com a música Confisco do álbum Preço Curto… Prazo Longo (1999). Em comemoração, a banda lançou o novo clipe para a música que inclui materiais inéditos do Chorão.

Novo clipe da música “Confisco”, de Charlie Brown Jr. [Youtube: Charlie Brown Jr.]

 

Outro destaque para 2020 é a estreia nos cinemas do documentário Chorão: Marginal Alado, dirigido por Felipe Novaes. O diretor conta que escolheu Chorão para o longa-metragem porque as músicas da Charlie Brown fizeram parte de sua adolescência. “Cresci em Santos, então havia certo carinho e proximidade, às vezes encontrávamos o Chorão nas ruas. Quando comecei a pesquisar, vi que a história é muito boa. Chorão ficou relevante no cenário musical durante 20 anos e continua fazendo sucesso. Isso no show business é muito difícil acontecer”. O resultado de sete anos de pesquisas sucedeu no prêmio de melhor documentário brasileiro na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (2019). Ainda não há data exata para o lançamento nas telas dos cinemas, devido à pandemia da Covid-19.

Outra incerteza é a data da turnê em celebração aos 50 anos do artista, que estava prevista para acontecer nos meses de abril e maio 2020 em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. A turnê foi organizada pelos ex-integrantes da banda Marcão Brito, Heitor Gomes e André Pinguim. Este comenta que as expectativas para os shows são as melhores. “Não sei quando vai acontecer e de que forma, talvez só no ano que vem. Porém, estamos planejando fazer algumas lives para se conectar e ajudar as pessoas que estão em casa”.

Live dos 50 anos de Chorão [Youtube: Charlie Brown Jr.]

No dia 30 de maio, esses ex-integrantes realizaram a live no YouTube em homenagem aos 50 anos do Chorão. Milhares de fãs cantaram os sucessos da banda e gostaram da ideia da produção de inserir uma gravação da voz de Chorão nas músicas tocadas ao vivo.

Alexandre foi um grande homem. Chorão conquistou uma legião de fãs em diversos lugares, deixou um legado imensurável e continuará na memória do rock nacional. Talvez por mais 50 anos? “Só os loucos sabem…”

1 comentário em “Os 50 anos de Chorão, o Grande”

  1. Apenas uma observação, rap não é a única música negra que teve influência no rock, muito longe disso. Até o próprio rock teve suas origens na música negra de Chuck Berry e Little Richard, para citar apenas alguns negros. Sem falar na ingluência do blues, do reggae, do Rhythm and blues, do funk original de James Brown, etc. Por isso, falar que que o Ultraje não colocava música negra em seu repertório é, no mínimo, injusto.

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