“Onze Homens e um Segredo” (1960 – 2001), “A Lagoa Azul” (1949 – 1980), “Bravura Indômita” (1969 – 2010), “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (1971 – 2005), “It: a Coisa” (1990 – 2017) são alguns exemplos. Refilmagens não são, no entanto, cópias perfeitas de seus originais – nem pretendem ser. Não só os atores, a trilha sonora e a ambientação são diferentes, como o roteiro pode trazer diversos elementos novos. Mas todos os remakes trazem consigo a mesma essência dos filmes que os inspiraram.
O Grande Amor de Nossas Vidas (1961) – Operação Cupido (1998)
Nasceu em 1961 pelas mãos do diretor David Swift nos estúdios Walt Disney. Baseado no livro “Lottie and Lisa”, de Erich Kästner, The Parent Trap traz a história de duas irmãs gêmeas (interpretadas por Hayley Mills) que foram separadas quando pequenas por causa do divórcio dos pais. A mãe (Maureen O’Hara) foi morar em Boston, o pai (Brian Keith) na Califórnia. Nunca sabendo da existência uma da outra, elas ficam surpresas quando se encontram em um acampamento de verão e notam suas semelhanças. Surge então a ideia: se elas trocassem de lugar, teriam a chance de conhecer melhor seus pais e fazê-los ficar juntos novamente.
Esse remake é um exemplo de um roteiro que se manteve muito parecido ao seu original, não só pela sequência dos acontecimentos e pela construção de vários dos personagens, mas até mesmo pelas falas. Desde as primeiras cenas, a semelhança é notável: está no cenário do acampamento, em uma das meninas chegando em um carro com o mordomo, nas conversas que se tem entre cada um dos personagens. O início, o desenvolvimento e o desfecho se constroem para serem muito parecidos aos originais.
Com trilhas sonoras igualmente lindas, ambos os filmes deixaram sua marca dentro do universo da Disney. As ligeiras mudanças entre os dois (que estão na atuação, na qualidade da imagem, na música, nos personagens), no entanto, trouxeram uma luz maior à refilmagem – que se tornou um clássico infantil.
Dança Comigo? (1996) – Dança Comigo? (2004)
Em 1996, um filme chamado “Shall we ダンス?” foi lançado no Japão, dirigido por Masayuki Suo e produzido por Yasuyoshi Tokuma, Yasushi Urushido, Shigeru Ono, e Kazuhiro Igarashi. É feito como um retrato da sociedade japonesa, seus valores e censuras. Um homem viaja de metrô de seu trabalho à sua casa todos os dias. Bem-sucedido, ele não gosta do emprego e não tem uma relação próxima com a mulher (Hideko Hara) nem com a filha (Ayano Nakamura). Um dia, olhando pelo vidro do metrô, enxerga uma escola de dança em que há uma mulher (Tamiyo Kusakari) olhando triste pela janela. Volta os olhos para ela todas as vezes que passa lá a partir de então. Com uma ponta de coragem, certa vez, decide ir até a escola para entrar em contato com aquela visão. É assim que esse homem comum descobre os prazeres da dança e da vida e tenta escondê-lo daqueles que conhece – por medo do julgamento e da censura deles.
Com cenas parecidas, ambos os filmes fizeram sucesso – trazendo questões diferentes.
Perfume de Mulher (1974) – Perfume de Mulher (1992)
O nome é Fausto, seus modos brutais e impulsivos. Sofre de uma cegueira causada no tempo em que fora capitão do exército italiano – cegueira que o afastara de seu posto militar e o obrigara a sentar em casa amargurado. O jovem Giovanni (Alessandro Momo), cadete do exército, é enviado então para acompanhá-lo em uma viagem de Turim até Nápoles, onde encontraria um tenente cego e uma mulher que o amava desde muitos anos atrás. Apaixonado por mulheres, reconhece perfumes femininos por todo o lado durante o percurso, motivo que leva o filme a ter esse nome. O filme italiano, “Profumo di Donna”, lançado em 1974 e dirigido por Dino Risi, foi indicado ao Oscar pelas categorias de Filme Estrangeiro e de Roteiro Adaptado, e foi ganhador do Festival de Cannes pela atuação de Vittorio Gassman como Fausto.
Na segunda versão, Frank quer ir a Nova Iorque para ter seus últimos momentos de vida cheios de seus prazeres favoritos, também planejando se matar depois disso. Não vê saída à desilusão que tem sobre a vida. Charles, com toda a sua inexperiência, mostra a ele alguma luz. Diferente do filme italiano, a interação entre os dois é muito forte: sabe-se muito mais sobre a vida de Charles, sobre suas angústias e seu passado. Ambos se ajudam durante o percurso. Além disso, não há nenhuma mulher especial do passado de Frank que o leve a fazer a viagem.
Cheios de reflexões, os dois filmes são poesias diferentes. Embora ambos tenham ficado famosos, a versão estadunidense é mais reconhecida do que a italiana (talvez pelo Oscar que Al Pacino ganhou na categoria Melhor Ator, talvez simplesmente por ser americana). Com tantas diferenças, cada um traz seu próprio encanto.
Scarface (1931) – Scarface (1983)
Baseado no livro “Scarface”, de Armitage Trail, um filme de mesmo nome foi lançado pela primeira vez em 1931. Produzido por Howard Hughes e Howard Hawks, e dirigido por Hawks, a história é uma referência à vida do mafioso Al Capone, cujo apelido era Scarface. Com nomes alterados, o filme narra a ascensão de Antonio Camonte (Paul Muni) dentro da máfia americana. Começa trabalhando para o chefão Johnny Lovo (Osgood Perkins) e rapidamente torna-se ele mesmo um nome importante dentre os mafiosos. Conquista tanto poder quanto inimigos, parecendo cada vez mais perto de dominar seu império, e cada vez mais perto da própria morte.
A diferença dessa violência é que o segundo reflete mais sobre ela enquanto o primeiro apenas a usa como plano de fundo. Antonio Camonte mata muitas pessoas durante a primeira versão, para no final estar tão cheio de inimigos que sua morte é inevitável – mas, durante o desenvolvimento do filme, o personagem se mostra satisfeito com suas condições no meio da máfia (com raras exceções). Tony Montana, ao contrário, fica tão rico quanto vazio ao longo do tempo. A consciência de que o seu envolvimento com as armas e as drogas não lhe trouxe felicidade é muito explorada, sendo que em vários momentos Tony chega a se perguntar de que valeu tudo aquilo. É como se o primeiro filme, de certa forma, glorificasse um mafioso, e o outro refletisse sobre o quanto uma vida levada assim pode ser vazia ou mesmo angustiante.
Ambos estadunidenses, eles falam sobre o mesmo assunto, mas o abordam de maneiras muito diferentes.
por Lígia de Castro
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