O Paramount+ (leia-se “Paramount Plus”) é um serviço de streaming lançado em 2014 sob a alcunha de CBS All Access e que mudou de nome em 2021. Na tarde desta terça-feira (7), ocorreu uma coletiva de imprensa para a apresentação de um novo projeto do conglomerado de mídia e entretenimento: a transmissão de partidas da Conmebol Libertadores e da Conmebol Sul-Americana, principais competições de futebol da América do Sul. Embora a exibição de jogos via streaming pela Paramount já fosse feita nos Estados Unidos e na América Central, pela primeira vez esse produto chega ao Brasil e a toda a América Latina. Os direitos adquiridos valem até 2026. A Jornalismo Júnior acompanhou a coletiva e traz as principais novidades.
Os nomes escolhidos
Para desenvolver o projeto, o Paramount+ apresentou quatro nomes ao público que já têm experiência em transmissões esportivas. Nivaldo Prieto e João Guilherme, narradores, saíram dos Canais Disney, onde estavam há vários anos. Paulo Vinícius Coelho, o PVC, por sua vez, deixou o Grupo Globo para ser comentarista da plataforma e colunista do UOL, após passagens por vários jornais e emissoras de rádio e de televisão. Já Alê Xavier, que passou a ter ampla audiência por seu trabalho no Desimpedidos e que tem seu próprio canal de futebol, o Passa a Bola (apresentado com Luana Maluf), vinha fazendo transmissões como repórter no canal do Paulistão no YouTube e agora deve atuar como comentarista no que definiu como “o maior desafio de sua carreira”.
Nivaldo Prieto, João Guilherme, apresentador do evento, Alê Xavier e PVC (da esquerda para a direita), vão compor o time do Paramount+ para a transmissão da Libertadores, com o lema “futebol do nosso jeito”. [Foto: Reprodução/Coletiva Paramount+]
A importância da mescla
Os jornalistas comentaram sobre a troca de experiências entre si, já que têm trajetórias de carreira diferentes. Alê, que é a mais nova, espera aprender com a experiência dos outros três, que já transmitiram várias edições de Libertadores. “Eu estou muito animada. Estou muito feliz e trabalhar ao lado desse time fica fácil”, disse. Embora tenha menos tempo de carreira, ela é a mais adaptada à linguagem e às demandas da internet. PVC, por sua vez, crê que precisa evoluir sua forma de comunicação. Apesar de trabalhar em múltiplas plataformas, ele ainda não atingiu o potencial midiático que espera de si.
Em constante atualização. “Como contador de histórias, eu preciso melhorar em mídia digital para poder contar histórias diferentes em mídia digital também”, explica PVC. [Foto: Reprodução/Coletiva Paramount+]
Os narradores veem potencial na interatividade com a audiência: “Em várias transmissões você tem um público que estuda o jogo tanto quanto nós e ele se prepara para assistir ao jogo como se fosse narrar ou comentar. Isso agrega”, lembra Nivaldo Prieto, que também teve passagens por várias emissoras de TV aberta antes de migrar para o Fox Sports — posteriormente ESPN —, em 2015. João Guilherme, que trabalhou na Rádio Carioca, na Rádio Gazeta e no Grupo Globo antes de seguir o mesmo caminho de Prieto, enfatizou o momento de “quebra de barreiras” vivido pela comunicação, que muito se deve a essa interatividade e à inclusão das mulheres, por exemplo.
O valor da troca. Nivaldo Prieto enalteceu a mescla de idades como um objetivo do Paramount+ no que diz respeito à captação de audiência: “É claro que a Alê vai ensinar muita coisa para nós”. A seguir, ele citou expressões utilizadas pela mais nova companheira de transmissão. [Foto: Reprodução/Coletiva Paramount+]
Alê Xavier complementou o comentário do narrador e afirmou que não pretende mudar seu estilo: “Isso [expressões] é muito meu. Seria até injusto eu me moldar de outra maneira para conversar de outro jeito com o público. O PVC vai falar do jeito dele, e isso é o legal, misturar e complementar”.
Sobre o formato de transmissão, PVC comparou a experiência de se assistir a um jogo via streaming àquela de escutar o rádio, quando no trânsito, destacando o fato de que o rádio não funciona em túneis, por exemplo, mas a internet, sim. Ele também lembrou de nomes como Ary Barroso e Armando Nogueira, que décadas atrás já desenvolviam formas irreverentes e revolucionárias de comunicação, assim como Casimiro Miguel, o Cazé — streamer e jornalista que transmitiu a Copa do Catar, jogos do Campeonato Brasileiro e está transmitindo o Mundial de Clubes — faz nos dias atuais.
A representatividade no jornalismo esportivo
Diante da presença de Alê Xavier, a representatividade da mulher no futebol e no esporte como um todo foi um tema discutido e valorizado por todos os presentes, que citaram exemplos da normalização da presença feminina em outras áreas do jornalismo, como na política, e da prática do esporte de forma mista. O caminho no jornalismo esportivo seria, portanto, algo natural e igualmente merecido.
Alvo de muitas críticas desde que ganhou mais espaço, ainda no Desimpedidos, Alê contou que havia poucas mulheres na redação da Globo, onde trabalhou antes. Ela é, definitivamente, alguém que desafiou o caminho traçado para uma mulher no jornalismo esportivo. Na lembrança dos nomes de Ana Thaís Matos e Renata Silveira (Globo), Alê ressaltou como a mudança vem ocorrendo: “Fico muito feliz em fazer parte dessa história”.
Mais um passo. Agora, após muito tempo como repórter, Alê Xavier vai ganhar a oportunidade de ser comentarista. [Foto: Reprodução/Coletiva Paramount+]
Expectativas para a Libertadores
O torneio em si também foi pauta da discussão. Questionado a respeito da força da torcida do Fortaleza, que figura pela segunda vez consecutiva na Libertadores, João Guilherme se disse animado para transmitir partidas do Leão do Pici e trazer visibilidade a uma equipe do Nordeste. Prieto destacou a reação de Marcelo Gallardo, então treinador do River Plate, ao se deparar com a massa tricolor no Castelão, em 2022.
Quanto às possíveis surpresas para o ano — aquelas que podem quebrar a hegemonia de Palmeiras e Flamengo —, foram várias as equipes citadas: Alê aposta no Fortaleza, enquanto Prieto vê no Red Bull Bragantino uma equipe que pode, finalmente, ascender. João Guilherme vê potencial no Fluminense de Fernando Diniz e no Athletico Paranaense, agora comandado por Paulo Turra. PVC preferiu não eleger um candidato enquanto a fase de grupos não é definida, citando o Atlético Mineiro como um forte time brasileiro que ainda não tem presença carimbada nessa fase.
Foi dado um destaque, também, às equipes equatorianas, que vêm fazendo boas campanhas nas competições sul-americanas. O Independiente Del Valle, atual campeão da Sul-Americana, já havia conquistado esse título em 2019 e fez boas campanhas na Libertadores, incluindo um vice-campeonato, em 2016. Já o Barcelona de Guayaquil foi semifinalista da Libertadores em 2017, quando eliminou Palmeiras e Santos, e em 2021, quando caiu para o Flamengo.
Por fim, perguntados sobre o quanto a dominância dos brasileiros pode desvalorizar a competição, João Guilherme e PVC deram suas opiniões. Para João, isso é positivo para os brasileiros, mas não para a competição. “Seria interessante termos de novo os argentinos e uruguaios voltando a competir, os colombianos… agora, os brasileiros não estão assim à toa. Além da questão econômica, estão sendo premiados os dois times que se estruturaram e se tornaram bons exemplos”. PVC, por sua vez, comparou o sucesso dos brasileiros na Libertadores à repetição de protagonistas na Champions League.
Sem tirar nem pôr. João Guilherme valorizou o trabalho que Palmeiras e Flamengo, campeões das últimas quatro edições da Libertadores (Palmeiras em 2020 e 2021, Flamengo em 2019 e 2022). [Foto: Reprodução/Coletiva Paramount+]
Como devem funcionar as transmissões
Antes da chegada dos jornalistas contratados pelo serviço de streaming, o vice-presidente de Esportes da Paramount, Diego Reck, explicou como será a divisão dos jogos, que serão transmitidos graças a um acordo com a LiveMode, empresa que também tem parceria com a Fifa e com a Federação Paulista de Futebol. Haverá um hub de transmissão da empresa, além de um estúdio montado na capital paulista. Em outros países da América Latina, a Libertadores e a Sul-Americana passarão nos canais abertos da Paramount, a Telefe e a Chilevisión, além da Pluto TV, serviço gratuito de streaming de TV.
Segundo Reck, haverá três categorias de transmissão: Tier 1 (narração in loco, equipe no estúdio e dois repórteres no estádio; pré-jogo, intervalo e pós jogo e disponibilidade on demand na plataforma assim que a partida acabar), para jogos de maior relevância; Tier 2 (narração do estúdio, repórteres no estádio; pré-jogo, intervalo e pós-jogo e disponibilidade on demand na plataforma assim que a partida acabar), para partidas de relevância média e Tier 3 (narração com a sobreposição de voz direto do estúdio; pré-jogo, intervalo e pós-jogo reproduzidos diretamente da Conmebol e disponibilidade on demand na plataforma apenas para algumas partidas) , para jogos de relevância menor para a audiência local no Brasil. Além dos quatro profissionais já apresentados, Reck disse que outros 13 nomes devem ser adicionados ao elenco das transmissões do serviço.
De acordo com a demanda. Paramount+ deve priorizar eventos de maior audiência no Brasil. [Foto: Reprodução/Coletiva Paramount+]
Quando começam?
A Libertadores começou nesta terça, em partida de ida disputada entre Sport Huancayo (PER) e Nacional (PAR), e terminou com vitória da equipe peruana por 2 a 1. A primeira transmissão do Paramount+ ocorre na quinta-feira (9), às 21h, em duelo envolvendo Boston River (URU) e Zamora (VEN), pela primeira fase da Libertadores. O primeiro time brasileiro a aparecer será o Fortaleza, que também busca a vaga na fase de grupos e enfrenta o Deportivo Maldonado (URU) nos dias 23 de fevereiro e 2 de março, às 21h, pela segunda fase. Serão 54 partidas exibidas ao todo. O serviço se junta, agora, à TV Globo (TV aberta) e ao Grupo Disney (ESPN, na TV fechada, e Star+, no streaming) na transmissão de partidas ao vivo da Libertadores, e ao SBT, na exibição dos jogos da Sul-Americana. A exceção se dá na Recopa Sul-Americana (que será disputada entre Flamengo e Independiente del Valle nos dias 21 e 28 de fevereiro), que terá transmissão exclusiva do Grupo Disney — assim como a final da Libertadores. Até a semifinal, o Paramount+ pode selecionar os jogos que deseja transmitir, enquanto a finalíssima só poderá ser exibida em videotape.
*Imagem de capa – Divulgação: Paramount+