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O Tempo Desconjuntado: Entre a ficção e a distopia histórica

Imagem: Audiovisual / Jornalismo Júnior Por Amanda Capuano (amandacapuano@hotmail.com) “Você já questionou a natureza da sua realidade?”: a frase em questão é base da série futurista Westworld, sucesso do canal HBO, mas poderia muito bem figurar nas linhas de Tempo Desconjuntado (Companhia das Letras, 2018), thriller de ficção científica de Philip K. Dick. Conhecido pelo sucesso literário …

O Tempo Desconjuntado: Entre a ficção e a distopia histórica Leia mais »

Imagem: Audiovisual / Jornalismo Júnior

Por Amanda Capuano (amandacapuano@hotmail.com)

“Você já questionou a natureza da sua realidade?”: a frase em questão é base da série futurista Westworld, sucesso do canal HBO, mas poderia muito bem figurar nas linhas de Tempo Desconjuntado (Companhia das Letras, 2018), thriller de ficção científica de Philip K. Dick. Conhecido pelo sucesso literário e cinematográfico Blade Runner, Dick é responsável por uma escrita questionadora, que mistura política e ficção, característica também presente em Tempo Desconjuntado, um de seus livros mais subestimados.

Escrita em 1959, a obra traz como protagonista Ragle Gumm, um homem de meia idade que mora com a irmã, o cunhado e o sobrinho. O personagem vive uma rotina diária baseada em um concurso de jornal cujo objetivo é encontrar a localização de um homenzinho verde. Gumm é famoso na região por sempre acertar o resultado, o que em um dado momento leva o leitor a questionar como atinge tal proeza.

Ao perceber a importância do concurso do qual participa, Ragle nota que existe mais ali do que os seus olhos conseguem ver. O medo demonstrado pelos donos do jornal frente à possibilidade dele deixar de enviar as respostas  e a insistência deles em manter sua rotina inalterada acende um sinal de alerta em Gumm, que passa a acreditar fazer parte de algo maior e ter um papel importante na sua sociedade. O que realmente depende do seu estranho talento e por que todos parecem se importar com isso?

Conforme o livro segue, coisas estranhas passam a acontecer com os personagens. Lembranças de situações improváveis de terem sido vividas, registros de pessoas e localizações inexistentes e dejavus constantes levam Ragle e sua família a uma jornada de descobertas que guarda segredos obscuros, intrigando quem o lê.

Produzido no contexto da guerra-fria, as páginas traduzem os receios de uma sociedade que vive um clima de tensão política constante. O medo de uma guerra nuclear, com foco para a bomba de hidrogênio, é retratado de maneira fiel por K. Dick, que viveu pessoalmente o período e compartilha dos medos de seus personagens.

A ficção do autor não pode ser considerada como um livro de ação, ao menos não na maior parte do tempo. O clima é de mistério e conspiração, e teorias surgem automaticamente conforme se dá a leitura de suas páginas. Boa parte delas frustradas, diga-se de passagem.

K. Dick aborda, ainda, o papel do estado na sociedade. Considerando a guerra ideológica travada entre EUA e URSS no contexto da época, o assunto tem relevância ao amarrar a obra literária e dar um tom crítico à narrativa. Outra questão levantada por ele é a famosa corrida espacial, competição travada entre os dois países para o pioneirismo da conquista da Lua, que até então não havia acontecido.

Por tratar-se de uma obra antiga e que retrata um período importante da história, é curioso ver como a sociedade americana visualizava os possíveis efeitos da guerra, e o que o futuro guardava para a humanidade. Um cenário bem diferente do atual, mas com semelhanças interessantes. O livro flerta com a distopia, e dança com a ficção científica, mostrando toda a versatilidade e genialidade de K. Dick.

 Os mistérios que rodam Ragle e sua família ficam para o final, sendo revelada uma trama surpreendente nas últimas páginas da obra. Mas o caminho até lá vale a pena. Mais do que uma obra de ficção, Tempo Desconjuntado é o retrato do quão longe a mente humana pode chegar quando colocada sob pressão e dúvidas. Mais do que explorar a própria imaginação, K.Dick retrata o seu meio de forma magistral, oferecendo ao público uma obra contemporânea ao seu próprio tempo.

 

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