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Um sonho em 110 metros

Gabriel Constantino ultrapassa barreiras e compete em Tóquio 2020

Em tempos de Olimpíadas, a curiosidade aumenta: quem são os brasileiros que nos representarão em Tóquio? Em entrevista ao Arquibancada, Gabriel Constantino, diretamente de Portugal, não colocou barreiras para contar detalhes da sua trajetória até os Jogos Olímpicos de 2020, disputados em 2021 devido à  pandemia do coronavírus.

Com um fuso horário de 4 horas, pontualmente às 13h15 pelo horário de Brasília, o atleta reservou parte de sua agenda entre treinos e competições para conversarmos em uma quinta-feira.

Gabriel Oliveira Constantino, revelação do atletismo no cenário internacional, é natural da cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Recordista brasileiro e sul-americano na prova de 110m com barreiras, deixou registrada a marca de 13s18 em 2019, no Centro Atlético de Bregyó, na cidade de Székesfehérvár, na Hungria. Do Morro do Juramento (RJ) rumo à Tóquio, o atleta é referência na modalidade e tem mostrado ótimos resultados.

Gabriel Constantino
Gabriel Constantino. [Imagem: Wagner Carmo/CBAt]


“Às suas marcas”: O início

A história de Gabriel Constantino no esporte começa na Vila Olímpica da Mangueira. O carioca praticou futebol, natação, futsal, karatê e capoeira. Em meio a tantas opções, o atletismo conquistou seu coração. “Eu comecei aos 12 anos de idade, num projeto social”, diz.

A mãe, Guaraciara, fez a inscrição do menino para as atividades e passou a incentivá-lo como pôde. Na época, ela completava seus estudos para se profissionalizar como técnica de enfermagem. “Com 12 anos, eu já estava me virando, sabe?… pegando ônibus, saindo de casa para a Vila da Mangueira sozinho. Às vezes, ia até a Zona Oeste para competir”, comenta Gabriel

Um importante fator motivacional foi o primo, também praticante de atletismo. Gabriel conta que as oportunidades de viagens internacionais e bolsas em colégios particulares chamavam sua atenção. “Vendo tudo isso acontecendo, eu desejava o mesmo para mim também”, relata.

“Pronto”: As Primeiras Competições

Constantino passou a integrar o mundo das competições logo em seu primeiro ano de treinamento. Foi campeão dos 60m com barreiras e do salto em altura, ambos na categoria Pré-mirim.

“Com 13 anos, fiz a minha primeira viagem nacional e já tinha ganhado bolsa para colégio particular”, conta. O sucesso veio cedo e o atleta começou a competir em torneios estudantis. Durante as Olimpíadas Escolares, foi campeão em 2009 e esteve no pódio entre 2010 e 2012.

Em outubro de 2012, no campeonato sul-americano, em Mendoza, na Argentina, conquistou o título no salto em distância aos 17 anos, na categoria Menor. No mesmo ano, sagrou-se campeão do octatlo, prova combinada de atletismo (lançamento de dardo, 100m rasos, arremesso de peso, 400m, salto em distância, 110m com barreiras, salto em altura e 1000m) nas Olimpíadas Escolares.

Gabriel Constantino venceu as Olimpíadas Escolares aos 17 anos. [Imagem: Fernando Soutello/COB]
Na sequência, mudou para a categoria Juvenil, que integra a faixa etária de 18 e 19 anos. “A transição é um pouquinho complicada, os jovens estão passando por uma fase de conhecimento geral, maior em questão de mundo e próprio também”, relata.

Constantino também afirma que esse período é difícil, pois envolve muitas decisões importantes. O corredor afirma que  os atletas tendem a abdicar dos estudos para seguir a carreira esportiva ou abandoná-la para realizar cursos profissionalizantes, por exemplo. “Eu optei por conciliar o estudo junto com o esporte para concluir o ensino médio e ter boas marcas, bons resultados para bolsas de universidades”.

“Tiro de Largada”: Rumo ao Sucesso

Em 2018, na cidade peruana de Trujillo, Gabriel foi campeão ibero americano com 13s61, o que mostrou uma evolução significativa em seus resultados e um pódio inédito na competição.

“Quando você toma uma dimensão, você acaba desbloqueando um medo. Começa a pensar muito em como fazer e como ser e não é como ser. É só ser, é só fazer”. Assim, o carioca relembra a importância dos campeonatos em sua trajetória.

Na primeira rodada da etapa da Diamond League de 2018, em Birmingham, na Inglaterra, ele alcançou o 3° lugar e se  classificou para a final, mas terminou em .  No mesmo ano,  foi recordista brasileiro e sul-americano em 2018, na França, com 13s23 (0,5 m/s).

Em 2019, realizou o feito novamente na Hungria com 13s18 (0,8 m/s). Três dias depois, em Nápoles, na Itália, o atleta conquistou a medalha de ouro no maior evento esportivo universitário do mundo, a Universíade. Em uma prova emocionante, Gabriel fez uma de suas melhores marcas com 13s22.

 

Prova de 110m com barreiras na Universíade (2019). [Vídeo: FISU – Federação Internacional do Esporte Universitário]

Na Diamond League de 2020 em Doha, no Catar, Constantino foi finalista e correu em 13s60, terminando em . “Na final do campeonato mundial, eu quase consegui a medalha. Eu não lembro de ter ficado me cobrando, tudo aconteceu com muita leveza. É o necessário para uma prova que exige concentração”.

Desafios

Gabriel Constantino
Gabriel nos Jogos Pan-Americanos. [Imagem: Alexandre Loureiro/Reprodução Time Brasil]
Na edição de 2019, em Lima, Gabriel era favorito ao ouro nos Jogos Pan-Americanos. A prova de 110m com barreiras contava com oito finalistas e o brasileiro possuía a melhor marca da temporada: 13s18.

Na ocasião, o atleta tropeçou em um dos obstáculos e caiu, terminando na última colocação. Ele não pôde continuar disputando a prova, pois havia torcido o pé e lesionado o ligamento de Lisfranc. A recuperação foi difícil, durou cerca de um ano e incluiu o uso de bota ortopédica, além da realização de diversas sessões de fisioterapia intensiva e acompanhamento psicológico.

“Foram duas frustrações: uma de não ter ganhado o campeonato onde eu era o favorito, estava liderando a prova e outra por perder um ano de competições importantes. Tive que desmarcar vários campeonatos que já tinha confirmado presença”, conta.

Ele sempre teve muita fé e diz que tudo é recompensado. “Por mais que seja difícil, o maior vencedor é aquele que nunca desiste. Deus nunca te dá uma cruz que você não consegue carregar”.

 

Linha de chegada: Tóquio 2020

Gabriel Constantino comemorando vitória [Imagem: Thiago Parmalat/CBDU]
Em 2016, Constantino não conseguiu a tão sonhada vaga para as Olimpíadas no Rio de Janeiro por apenas 3 centésimos de segundo. O índice necessário era 13s47 e ele correu 13s50 no campeonato classificatório.

Apesar das dificuldades, o atleta voltou a treinar com o objetivo de competir nas próximas Olimpíadas e buscou a superação pessoal. Com o apoio e incentivo do Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), das Forças Armadas, e da Caixa, ele conseguiu aprimorar sua rotina e infraestrutura para a continuidade de seus treinamentos.

A pandemia da Covid-19 trouxe diversas mudanças no universo esportivo. Gabriel afirma que cada dia é diferente, pois é necessário fazer adaptações frequentes no cotidiano — testes PCR e novas medidas de distanciamento social variadas que dificultam o processo. Atualmente, a rotina envolve treinos diários e acompanhamentos com fisioterapeutas, massoterapeutas e psicólogos.

Segundo ele, as expectativas para as Olimpíadas de 2020 são as melhores. “O resultado que eu desejo ainda não saiu. Agora é ter paciência e ter cabeça no lugar, porque tenho certeza que o resultado vai acontecer antes, durante e depois dos Jogos”, afirma.

O Legado: A conquista do Reconhecimento

Gabriel visitou a Escola Municipal Adlai Esteveson (RJ) e conheceu alguns fãs. [Imagem: Reprodução/Instagram]
Quando ingressou no esporte, Constantino se inspirou em grandes nomes do atletismo, tais como os barreiristas David Oliver e Matheus Inocêncio, o velocista Usain Bolt e o atleta Michael Johnson.

“Não gosto de ser considerado talentoso, porque o talento vai até certo ponto”, diz Constantino. Com determinação, dedicação e esforço, Gabriel passou a ser considerado referência. “Quando eu chego no meu bairro, a criançada fala comigo, me vê na rua, me chama, isso é muito bom. Quando você inspira a pessoa a ser destaque, é muito legal. Eu fico orgulhoso de inspirar jovens e crianças, muita coisa acontece e ser influenciado nesse período é muito fácil”.

O atleta conta que a única coisa melhor que o reconhecimento é a medalha olímpica, o maior objetivo do alto rendimento. Com objetivos bem determinados, ele ultrapassa barreiras e descobre que não há limites para sonhar.

Constantino e seu técnico, Renan Valdiero. [Imagem: Reprodução/Instagram]

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