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‘Uma casa no fim do mundo’ reflete o lar de todos nós

Existem livros que combinam perfeitamente com algumas fases de nossas vidas. Outros livros podem ser lidos várias vezes, em diferentes fases, e ainda assim têm muito a nos ensinar sobre o mundo e sobre nós mesmos, a depender da nossa posição na trilha de crescer e amadurecer. Uma casa no fim do mundo (Companhia das …

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Existem livros que combinam perfeitamente com algumas fases de nossas vidas. Outros livros podem ser lidos várias vezes, em diferentes fases, e ainda assim têm muito a nos ensinar sobre o mundo e sobre nós mesmos, a depender da nossa posição na trilha de crescer e amadurecer. Uma casa no fim do mundo (Companhia das Letras, 2019, 2ª Edição), do escritor Michael Cunningham, definitivamente se enquadra no segundo grupo. 

Publicado pela primeira vez há 30 anos, o livro conta a história de Jonathan e Bobby, um casal de amigos que se conhecem no início da adolescência, quando ambos moravam em uma cidade do Meio-Oeste estadunidense e enfrentavam suas próprias tragédias familiares. Os dois desenvolvem uma relação complexa que vai além da amizade, abalada quando Jonathan se muda para fazer faculdade em Nova York. 

Alguns anos depois, um rearranjo familiar leva Bobby a morar com Jonathan e sua companheira de apartamento, Clare. As intrincadas relações dos três resultam na compra de uma casa nas proximidades de onde ocorreu o festival Woodstock, um simpático “fim de mundo” no qual as personagens buscam construir uma família não convencional.  

Anfiteatro Natural localizado em Bethel, Nova York, onde foi realizado o Festival Woodstock em 1969. [Imagem: Tom Hansen/Flickr]
Anfiteatro Natural localizado em Bethel, Nova York, onde foi realizado o Festival Woodstock em 1969. [Imagem: Tom Hansen/Flickr]
O livro se destaca por questionar o conceito de família e abordar uma relação de poliamor, ainda pouco comum em obras literárias de amplo alcance. Mas sua força vai além disso. É um livro sobre as incertezas que guiam nossas escolhas de vida, sempre marcadas por alegrias, decepções e, às vezes, por uma impressionante inércia. Em um dado momento da narrativa, Alice, mãe de Jonathan, resume com sabedoria esse ponto central ao dizer que “somos criaturas adaptáveis. Essa é a fonte do nosso consolo terreno e, suponho, da nossa ira silenciosa” (p. 214). 

A história também é um reflexo delicado de como os caminhos que seguimos são amarrados à complexa teia das relações humanas. Os relacionamentos são descritos com profundidade e mostram que cada conjunto de amantes, família ou amigos tem seu arranjo particular, que não pode ser replicado e cujos efeitos sobre os envolvidos nem sempre são simples de entender. Essa característica do livro é favorecida pela estrutura narrativa a quatro vozes: cada capítulo apresenta a visão de uma personagem, o que diversifica as perspectivas sobre desafios e situações vividas por pessoas imperfeitas como qualquer ser humano.

Cena do filme A home at the end of the world (2004), adaptado a partir do livro homônimo de Michael Cunningham. [Imagem: Reprodução/ Página do filme no Facebook]
Cena do filme A home at the end of the world (2004), adaptado a partir do livro homônimo de Michael Cunningham. [Imagem: Reprodução/ Página do filme no Facebook]
Para quem aprecia a explosão cultural do período entre os anos 1960 e 1980, a obra tem uma vantagem a mais. Com várias referências musicais e cinematográficas, é possível montar uma playlist completa com canções de Bob Dylan, Jimi Hendrix, The Doors, Van Morrison, John Coltrane e muitos outros artistas ilustres que embalam momentos marcantes da história. A narrativa também retrata o crescimento da AIDS na comunidade homossexual na década de 80. A preocupação com a infecção define muitos comportamentos de Jonathan e é fundamental para o amadurecimento dos personagens no desfecho do livro. 

Instigante e bem escrita, a obra perpassa dilemas juvenis, dúvidas da vida adulta e o inexorável processo de envelhecimento. É uma leitura reveladora para os adultos que estão sempre em busca de significado e se esquecem de viver o presente. Por tudo isso, a casa no fim do mundo poderia ser a minha casa. Aposto que em vários aspectos poderia ser a sua também. 

 

[Imagem capa: Reprodução/Pikist]

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