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2004: o ano das zebras no futebol

Há quinze anos, o futebol viveu um ano peculiar. Não foi um ano com mudanças nas regras do esporte, em seu calendário ou em seus conceitos táticos – 2004 foi diferente das demais temporadas por conta de seus resultados. Desde títulos nacionais até epopeias continentais, aquela temporada do futebol masculino foi marcada por muitas “zebras”. …

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Há quinze anos, o futebol viveu um ano peculiar. Não foi um ano com mudanças nas regras do esporte, em seu calendário ou em seus conceitos táticos – 2004 foi diferente das demais temporadas por conta de seus resultados.

Desde títulos nacionais até epopeias continentais, aquela temporada do futebol masculino foi marcada por muitas “zebras”. Algumas competições tiveram campeões inéditos, ou altamente improváveis, que terão suas trajetórias relembradas pelo Arquibancada quinze anos depois.

O Santo André que calou o Maracanã

Élvis comemora o segundo gol do Santo André no Maracanã. [Imagem: Trivela]

No início dos anos 2000, o Santo André viu o rival São Caetano realizar campanhas de destaque. Os vice-campeonatos brasileiros de 2000 e 2001, o segundo lugar na Libertadores de 2002 e o título paulista de 2004 colocaram o Azulão em evidência. Dessa maneira, o Santo André precisava de uma campanha de destaque para não permitir que o rival se distanciasse.

Em 2003, o Santo André, além de vencer a Copa São Paulo de Futebol Júnior diante do Palmeiras, foi vice-campeão da Série C do Campeonato Brasileiro. Isso permitiu que o clube conquistasse o direito de disputar a segunda divisão do futebol nacional, e também a Copa do Brasil.

Mas a histórica temporada de 2004 não começou animadora como poderia para o clube. Eliminado na primeira fase do Campeonato Paulista, o time passou a voltar seus esforços para a Copa do Brasil. Na competição nacional, o Ramalhão – apelido pelo qual a equipe é conhecida – apresentou um futebol que o permitia sonhar alto.

O Santo André estreou no torneio batendo o Novo Horizonte, em Goiás, por 5 a 0, eliminando a necessidade de um segundo jogo. Na próxima fase, o time do ABC Paulista enfrentou o Atlético-MG e não deixou a grandeza do adversário intimidá-lo. Em casa, os paulistas venceram por 3 a 0, resultado suficiente para a classificação, mesmo com a derrota por 2 a 0 no Mineirão. Já nas oitavas de final, o confronto diante do Guarani foi definido no gol fora de casa. O empate em 1 a 1 na cidade de Campinas, somado ao 0 a 0 no ABC, deu a classificação para a fase seguinte.

Nas quartas de final, Santo André e Palmeiras protagonizaram dois jogaços. No ABC Paulista, o duelo foi um emocionante 3 a 3. E o segundo jogo do mata-mata foi ainda mais eletrizante. O Palmeiras estava vencendo por 4 a 2 a onze minutos do fim, mas o Santo André não desistiu e empatou a partida. O jogo se encerrou em 4 a 4 e os azarões seguiram para a semifinal, novamente pelo gol fora de casa.

Antes de chegar à final, o Santo André enfrentaria uma zebra ainda maior: o 15 de Novembro. A equipe gaúcha, comandada por Mano Menezes, estava invicta, com cinco vitórias e três empates. E eles vieram a São Paulo dispostos a vencer novamente, chegando a abrir vantagem de 4 a 1. Mas o Santo André fez dois gols, diminuindo a desvantagem. E o Ramalhão reverteu a situação, venceu a equipe rio-grandense por 3 a 1 e seguiu vivo na luta pelo título.

Na final, o adversário era o Flamengo de Júlio César, Felipe e de milhões de torcedores. Na primeira partida, parecia que finalmente a lógica entraria em campo e a zebra sucumbiria ao rubro-negro, que saiu na frente. O Ramalhão chegou a virar, mas levou o empate no fim. O placar de 2 a 2 favorecia o Flamengo, beneficiado pela vantagem de decidir em casa, no Maracanã.

A vitória da equipe carioca era dada como certa até a bola rolar. O que se viu em campo foi um jogo equilibrado, sem muitas chances no primeiro tempo. Até que, aos sete minutos da segunda etapa, Sandro Goiano marcou de cabeça. 1 a 0 para o Santo André. E aos 23, a equipe do ABC ampliou com Élvis. 2 a 0 diante do Flamengo, concretizando a maior zebra da história da Copa do Brasil até então.

O Once Caldas que barrou gigantes

A Libertadores de 2004: uma conquista histórica para o Once Caldas e para a Colômbia. [Imagem: Trivela]

O Once Caldas é um clube que possui determinada tradição, mas não figura entre os gigantes do futebol colombiano. Em 2004, o time disputaria sua terceira edição de Copa Libertadores na história, buscando avançar além da fase de grupos, feito nunca antes conquistado. Mesmo que a equipe fosse a atual campeã colombiana pela primeira vez desde 1950, ela não figurava entre as favoritas para o título da competição.

Na fase de grupos, os colombianos sobraram diante de Unión Maracaibo-VEN, Vélez Sarsfield-ARG e Fénix-URU, conquistando o primeiro lugar com quatro vitórias, um empate e apenas uma derrota contra os argentinos. Nas oitavas de final, o adversário foi o Barcelona de Guayaquil, que fez jogo duro e, após empates em 0 a 0 e 1 a 1, foi eliminado na disputa de pênaltis pelo Once Caldas.

Nas quartas de final, o oponente era o Santos de Diego e Robinho, então vice-campeão nacional e continental. Mas o Once Caldas se defendeu bravamente e arrancou o empate por 1 a 1 na Vila Belmiro, levando a decisão para a Colômbia. Em casa, eles bateram os brasileiros por 1 a 0 e chegaram à semifinal.

A semifinal colocou o Once Caldas frente a frente com o São Paulo de Rogério Ceni e Luís Fabiano. Novamente, o primeiro jogo foi no Brasil e terminou empatado, dessa vez, por 0 a 0. Após igualdade em 1 a 1 no primeiro tempo, tudo se encaminhava para a disputa por pênaltis. Até que, aos 45 minutos do segundo tempo, Agudelo marcou para o Once Caldas. Um 2 a 1 que eliminou mais um gigante.

Na final, os colombianos enfrentariam o maior de todos os desafios: o Boca Juniors de Tévez. Campeão de três das últimas quatro edições da Libertadores, o clube argentino era amplo favorito para mais uma conquista.

A experiência dos argentinos, porém, não lhes deu o título. O Once Caldas manteve a sua receita do sucesso, conquistando um empate fora de casa e levando a decisão para a Colômbia. Em Manizales, Viáfara colocou o Once Caldas na frente, mas Burdisso empatou para o Boca, levando a disputa mais uma vez para os pênaltis. Os xeneizes erraram todas as cobranças, e o Once Caldas consagrou-se como o campeão mais improvável da história da Libertadores.

O Werder Bremen que encerrou a mesmice na Alemanha

Jogadores do Werder Bremen comemoram o inesperado título alemão. [Imagem: Andreas Rentz / Bongarts / Getty Images]

É comum nas ligas nacionais europeias que os títulos sejam exclusividade de poucas equipes, e a Alemanha corroborava esse tipo de domínio em 2004. O Bayern de Munique havia vencido quatro das últimas cinco edições do campeonato alemão. Com a mesma base vencedora, e com os reforços de Roy Makaay e Demichelis, o clube era amplo favorito a conquistar novamente a liga na temporada 2003-04.

O Bayern, no entanto, teria uma surpresa. O Werder Bremen, que havia conquistado a liga pela última vez em 1992, apresentou um grande futebol – apesar de ser um azarão. O time do treinador Thomas Schaaf contratou nomes como Davala, Ismaël e Reinke com o intuito de ir além do sexto lugar alcançado na última temporada, e dar boa companhia a jogadores já consolidados como Borowski, Micoud e Aílton.

E as apostas do Werder Bremen trouxeram resultados. Assim como o Bayern de Munique, eles venceram três, empataram um e perderam um dos cinco primeiros jogos. Nesse momento, somando dez pontos, as duas equipes estavam atrás de Bayer Leverkusen, Stuttgart e Borussia Dortmund. Com o tempo, esses adversários foram perdendo força, e a disputa se concentrou entre o alviverde e os bávaros.

Até a 17ª rodada, que simboliza o fim do primeiro turno, o Werder Bremen teve um aproveitamento excelente. Nos últimos doze jogos dessa fase, tiveram apenas uma derrota, dois empates e nove vitórias, resultados que o colocou na liderança. Enquanto isso, o Bayern de Munique empatou mais que os alviverdes, ficando a quatro pontos do primeiro colocado, assim como Bayer Leverkusen e Stuttgart.

Os ótimos resultados alcançados pelo Werder Bremen no primeiro turno se repetiram na segunda metade do campeonato alemão. Com nove vitórias e cinco empates em 14 partidas, o alviverde se desgarrou de praticamente todos os adversários até a 31ª rodada. Somente o Bayern de Munique ainda sonhava em tirar o título do Werder Bremen, seis pontos atrás – com nove ainda em disputa. Era fundamental para os bávaros vencer o confronto direto que haveria na rodada seguinte.

Mas quem aproveitou o duelo foi o Werder Bremen. Mesmo jogando em Munique, o alviverde se impôs e teve atuação histórica no primeiro tempo: 3 a 0, com gols do meia Micoud e dos atacantes Klasnic e Aílton. Na segunda etapa, os bávaros reagiram com Roy Makaay, mas não conseguiram ir além. O 3 a 1 categórico para o Werder Bremen sacramentou o título na casa do vice.

Após 23 jogos, o Werder Bremen finalmente perdeu. Nas últimas duas rodadas da competição, foi derrotado pelo Bayer Leverkusen e Hansa Rostock. Mas os dois reveses não mancharam o improvável e incontestável título alviverde. A solidez defensiva, a imposição do meio-campo e a eficiência do ataque foram marcas daquele time que bateu o sempre hegemônico Bayern de Munique.

O Porto que venceu a Liga dos Campeões das zebras

Elenco do Porto levantando a sonhada “orelhuda”. [Imagem: Christof Koepsel / Bongarts]

A Liga dos Campeões da Europa, ao longo de todo o século XXI, teve um número mais restrito de países vencedores do que no século passado. Em somente uma edição no novo milênio, o torneio não foi conquistado por clubes de Espanha, Alemanha, Inglaterra ou Itália. E essa temporada foi 2003-04.

No começo da temporada, alguns clubes eram favoritos a levantar a “orelhuda”, e eles pertenciam aos países já consagrados nos anos anteriores. Arsenal, Milan, Real Madrid, Manchester United, Bayern de Munique e Juventus eram fortes candidatos por conta de seus elencos estrelados e de suas conquistas recentes. Mas, ao final da temporada, a zebra tomou conta e o vencedor foi outro: o Porto.

A equipe portuguesa havia conquistado três títulos na temporada anterior – o Campeonato Português, a Taça de Portugal e a Copa da UEFA (atual Liga Europa). Entretanto, o elenco comandado pelo inexperiente José Mourinho não possuía jogadores consagrados à época, e as conquistas não eram consideradas o suficiente para credenciar os dragões ao triunfo continental.

Na fase de grupos da Liga dos Campeões, o Porto não enfrentou grandes dificuldades para se classificar, vencendo duas vezes o Olympique de Marseille e uma o Partizan, que arrancou um empate na Sérvia. Porém, o primeiro lugar não foi alcançado. Os portugueses cruzaram o caminho de um dos favoritos: o Real Madrid. Diante dos merengues, os dragões empataram um jogo e perderam outro.

Nas oitavas de final, o sorteio colocou o Porto frente a frente com o Manchester United. Os red devils, que contavam com estrelas como Giggs, Scholes, Van Nistelrooy e um jovem Cristiano Ronaldo, eram os atuais campeões ingleses e candidatos a repetir a conquista europeia de 1999.

Mas o favoritismo inglês ficou apenas no papel. No primeiro confronto, disputado no Estádio do Dragão, o Manchester United saiu na frente. Mas o sul-africano Benny McCarthy fez dois gols e virou o placar para 2 a 1. Na volta, os red devils saíram novamente na frente. E de novo a equipe de José Mourinho mostrou espírito copeiro, empatando a partida, aos 45 do segundo tempo, com Costinha. Gol que garantiu a classificação às quartas de final.

Na fase seguinte, o confronto diante do Lyon de Juninho Pernambucano foi mais tranquilo. A vitória por 2 a 0 em casa, com gols de Deco e Ricardo Carvalho, e o empate por 2 a 2 na França, com dois gols de Maniche, colocaram o Porto na semifinal. Uma classificação impensável para a opinião pública no início da temporada, assim como a de todos os outros semifinalistas.

Um dos finalistas sairia do confronto entre Chelsea e Monaco. O clube inglês se classificou para esta fase de maneira improvável, após eliminar o Arsenal dos Invictos. Já o escrete monegasco havia eliminado o Real Madrid. O Monaco bateu os londrinos por 3 a 1, e avançou à final após empatar por 2 a 2 na Inglaterra.

O Porto, por sua vez, enfrentou o Deportivo La Coruña, que eliminou o Milan em virada histórica em que reverteu uma desvantagem de 4 a 1. Em um jogo tenso, realizado no Estádio do Dragão, as duas equipes empataram por 0 a 0. Mas os comandados de José Mourinho mostraram que empatar em casa não era um problema, vencendo por 1 a 0 na Espanha, com gol de Derlei. O gol do brasileiro colocou a equipe na final.

A final das zebras, entre Porto e Monaco, não foi equilibrada como se imaginava. Carlos Alberto, Deco e Alenichev marcaram para o Porto, concretizando o título com uma vitória por 3 a 0. Pela segunda vez na história, o Porto foi o campeão da maior competição do continente, empatando em “orelhudas” com o rival Benfica.

Apesar da conquista do Intercontinental de 2004 diante de outra zebra, o Once Caldas, o Porto não teve mais o mesmo brilho da temporada de conquista continental. Sem José Mourinho, que se transferiu para o novo rico Chelsea, e sem jogadores como Deco, Ricardo Carvalho e Pedro Mendes, a equipe não conquistou mais títulos na temporada 2004-05.

A odisseia grega na Eurocopa

O artilheiro Charisteas comemora o gol do título europeu. [Imagem: Laurence Griffiths / Getty Images]

O futebol grego não figura entre os mais tradicionais no cenário europeu. Até 2004, o país havia disputado somente uma Copa do Mundo, em 1994. Em competições continentais, também tinha somente uma participação, na Eurocopa de 1980.

Isso, aliado à falta de jogadores consagrados mundialmente, colocava a seleção grega como candidata a outra campanha esquecível na Eurocopa de 2004. Em um grupo com Portugal (o país-sede da competição), Espanha e Rússia, a equipe comandada por Otto Rehhagel tinha como missão não passar vergonha. Mas os gregos não se contentaram com esse papel.

A estreia foi contra os donos da casa, e a Grécia demonstrou eficiência. Karagounis e Basinas marcaram para os gregos, e o gol de Cristiano Ronaldo, ao fim da partida, foi insuficiente para os portugueses, que perderam por 2 a 1. Mesmo empatando em 1 a 1 com a Espanha e perdendo por 2 a 1 para a Rússia, a Grécia se classificou em segundo lugar no grupo, com quatro pontos.

Nas quartas de final, o adversário foi a França. Liderados por Zidane, os bleus eram amplos favoritos no confronto. Mas em campo, os gregos quebraram prognósticos, resistiram à pressão francesa e, após boa jogada de Zagorakis, o artilheiro Charisteas marcou de cabeça. 1 a 0 e uma impensável classificação.

A semifinal diante da República Tcheca, novamente, colocava os gregos como zebras. Apesar de o adversário também não possuir grandes conquistas, o elenco tcheco era composto por jogadores como Cech, Rosicky e o craque Nedved, vencedor da Bola de Ouro em 2003. Com a bola rolando, o que se viu foi a partida mais difícil da competição para os gregos, que dependeram de uma atuação excepcional do goleiro Nikopolidis para segurar o empate até a prorrogação.

Na época, o tempo extra possuía uma regra inusitada: o gol de prata. Caso alguma equipe terminasse o primeiro tempo da prorrogação vencendo, a partida seria ali encerrada. Sorte da Grécia, que a dois segundos do fim da primeira etapa marcou com Dellas. Gol de prata que valeu como ouro e colocou os gregos na final.

O fim da trajetória europeia seria contra o mesmo adversário do início: Portugal. Desde a derrota para os gregos, os lusitanos não perderam mais. Os donos da casa eram favoritos a conquistar o título inédito, contando com diversos trunfos: a força de sua torcida, os jogadores campeões europeus pelo Porto, a experiência do treinador Luiz Felipe Scolari e de outros craques, como Figo e Rui Costa.

Mas a Grécia demonstrou muita maturidade e calma durante a final. Com marcação implacável e imposição no meio-campo, os gregos impediram que a seleção portuguesa controlasse o jogo. Até que, no segundo tempo, Charisteas marcou de cabeça após cobrança de escanteio. 1 a 0 aos 12 minutos do segundo tempo.

Portugal tentou pressionar, mas a pressa excessiva e a defesa grega prejudicaram o desempenho dos craques portugueses. Deco parecia nervoso, Cristiano Ronaldo perdeu oportunidade no único erro de marcação da retaguarda adversária, Rui Costa não conseguiu ser preciso como sempre e Figo não encontrou espaços, tendo sua melhor finalização desviada por Fyssas. Nikopolidis defendeu os chutes de longa distância e, assim, a Grécia garantiu o único título de sua história.

2004 foi, sem dúvidas, um ano marcado por resultados inesperados no futebol. Zebras como as citadas acima tornam esse ano inesquecível. Torcedores de grandes clubes sempre lamentarão as inesperadas derrotas, enquanto os apaixonados pelos azarões sempre irão recordar de 2004 como o grande ano na história de suas equipes. E assim era o mundo do futebol quando a Jornalismo Júnior foi fundada.

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