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23º Festival É Tudo Verdade – Filmmakers Unite: Uma Resposta Coletiva ao Governo dos Estados Unidos

Este filme faz parte do 23º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Para mais resenhas do festival, clique aqui. O principal problema de filmes compostos por curtas de vários autores é que normalmente uns ficarão melhores que outros. E, consequentemente, alguns bem piores que a média. Filmmakers Unite: Uma Resposta Coletiva ao Governo dos Estados …

23º Festival É Tudo Verdade – Filmmakers Unite: Uma Resposta Coletiva ao Governo dos Estados Unidos Leia mais »

Este filme faz parte do 23º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

O principal problema de filmes compostos por curtas de vários autores é que normalmente uns ficarão melhores que outros. E, consequentemente, alguns bem piores que a média. Filmmakers Unite: Uma Resposta Coletiva ao Governo dos Estados Unidos (Filmmakers Unite, 2017) é um compilado de curtas que, satirizando ou argumentando, ataca tudo que Donald Trump defende. De modo geral, os filmes se concentram contra o discurso de ódio a minorias, mas as críticas se estendem ao posicionamento que o presidente tem quanto ao aquecimento global, o sistema público de saúde e o porte de armas nos EUA. Infelizmente, nosso desejo durante o filme é que alguns curtas durem mais e outros, menos.

(Imagem: Reprodução)

Curiosamente, talvez o melhor deles seja justamente o de abertura. Entitulado La Línea, o filme se passa na fronteira que divide as estradas dos EUA e do México. Sem ninguém interagindo diretamente com a câmera, apreendemos pequenos recortes desse espaço-tempo: a apreensão dos olhares, o barulho dos vendedores ambulantes, os faróis de freio dos carros, e as armas em riste dos policiais. Embalando tudo isso, ouvimos pequenos trechos dos rádios dos motoristas anunciando a posse do presidente, a política de imigração e os discursos preconceituosos. Em outras palavras, o estado de conflito só existe porque todos esses recortes acontecem concomitantemente. Assim, La Línea consegue, como nenhum outro curta, se aproximar do medo que um mexicano supostamente estaria sentindo.

Já quando a proposta é a sátira, Little Donnie é o mais bem resolvido do gênero. Reproduzindo o universo dos filmes de Chuck, de O Brinquedo Assassino (Child’s Play, 1988), o boneco da vez é um mini-Trump. A diferença é que toda vez que desfere uma facada, ele também solta algumas de suas polêmicas e emblemáticas frases. E que o final do curta traga a protagonista infectada, reproduzindo as mesmas ideias do presidente, é não só cômico como sintomático. Afinal, qualquer mentira reproduzida muitas vezes acaba se tornando verdade. Principalmente uma altamente “marketável” como a do discurso vazio, mas “salvador” apresentado durante a campanha de Trump.

(Imagem: Reprodução)

Alguns dos curtas investem também num certo experimentalismo muito positivo. Um dos melhores acontece em This Is My Country. Nele, além de não vermos nenhum rosto, todas as crianças imigrantes aparecem borradas ou com contornos fantasmas. Nada mais justo para um país que não as considera cidadãos e talvez sequer pessoas. Em The Muslim Meme, a câmera permanece o tempo todo dentro de um carro, mas quase que sempre mirando o sol se pondo no horizonte. Daí, conforme ouvimos as atrocidades de rádios de extrema-direita dos EUA, a luz do sol parece pulsar de forma meio psicodélica, como se representasse a própria revolta que cresce dentro de nós.

Infelizmente, para cada curta instigante, temos dois outros medianos ou péssimos. Alguns têm temas interessantes, mas uma estética muito convencional. É o caso de The Tool, em que acompanhamos o trabalho crítico e bem-humorado do cartunista Mr. Fish. Aqui, o personagem até tem propriedade no que diz; o problema é que o curta aposta em frases de efeito e numa trilha melodramática que mais incomodam do que ajudam a compor o tom. Outros têm estéticas interessantes, mas temas mal-explorados. Who Matters? pauta sua crítica numa colagem de memes que, pela veloz montagem, parece às vezes até endossar a visão de Trump. Mas os piores são os que têm tanto temas quanto estéticas pífias. Em The United States, visitamos junto com duas senhoras as antigas instalações de um grupo secreto de americanos que, na década de 30, simpatizava com os nazistas. Se a ideia fosse relacioná-los com os atuais apoiadores de Trump, a tentativa vai pela culatra. O que fica do bom humor das senhoras e do guia que nos conduz é a sensação de que fizemos apenas um tour despretensioso pelo local.

Apesar disso tudo, uma reflexão do cartunista de The Tool se destaca: antes de qualquer governo, são os artistas os primeiros a expor e criticar as injustiças. Pena que depois de altos e baixos dos 12 curtas exibidos, a impressão que persista seja a de uma experimentação que poderia ter sido muito mais criticamente contundente. Como consolação, pelo menos, já é louvável ver a união de cineastas num meio tão individualista como o audiovisual.

Confira o trailer. 

(Imagem: Reprodução)

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

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