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26ª STBio: Os impactos das mudanças climáticas

O microcurso ‘Mudanças Climáticas e seus impactos sobre a biodiversidade no mundo e no Brasil’ aconteceu no segundo dia do evento de forma online
Por Julia Estanislau (julia.estanislau@usp.br)

Os efeitos das mudanças climáticas estão sendo sentidos por todos. O Brasil registrou um dos invernos mais quentes desde 1961, o que ocasionou eventos climáticos extremos como as ondas de calor que ainda afetam todo o país e as fortes chuvas no Sul. As medidas para a mudança desse cenário, porém, ainda são paliativas.

Essa crise sistêmica desencadeada pela ação antrópica tende a piorar com os anos, atingindo níveis insustentáveis de desertificação e inseguranças alimentar e hídrica. Agora, as questões são sobre como mitigar e se adaptar às mudanças climáticas.

O microcurso “Mudanças Climáticas e seus impactos sobre a biodiversidade no mundo e no Brasil”, que aconteceu no segundo dia da 26° Semana Temática de Biologia da USP, discutiu exatamente isso. Quem ministrou foi a bióloga Luara Tourinho, pós-doutoranda em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Logo no início, ela apresentou um dado alarmante: o mundo vive um momento de extinção em massa acima das taxas normais. Com as taxas atuais de aquecimento global e mudanças climáticas, 617 espécies podem ser extintas. Se essa taxa seguisse os padrões da última extinção em massa, seriam apenas 15 espécies. “A atividade humana se tornou uma força global”, diz Luara.

A saída do Holoceno – período que se estende de cerca de 10 mil anos após o degelo até a contemporaneidade – para o Antropoceno – o período que estamos vivendo, marcado por mudanças climáticas causadas por ações humanas – , porém, não é um consenso. De acordo com a pós-doutoranda, há estudiosos que acreditam que, para isso, a temperatura do globo tem de aumentar em 2ºC, mudando o regime climático.

Passos em direção à mudança

Na década de 70, a pressão dos ambientalistas pela mudança e desenvolvimento sustentável começou. A partir daí, iniciativas internacionais foram surgindo. A Conferência do Clima, que acontece todos os anos, é um dos exemplos.

Durante a Conferência das Partes (COP) 27 ocorrida no ano passado, houve a criação de um mecanismo financeiro para perdas e danos, um apoio para nações em desenvolvimento que sofrem com os eventos climáticos extremos. Simplificando, os países que mais contribuírem para o aquecimento global ficariam responsáveis por indenizar os países que sofrem com ele.

Porém, Luara salienta que as decisões e negociações feitas durante as conferências não solucionaram ou irão solucionar o problema se não forem mais duras. Até o momento, as medidas são apenas paliativas. Ela afirma que, mesmo as metas do Acordo de Paris, não vão ser suficientes para conter o aumento da temperatura.

Mas, há algumas saídas: mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A mitigação visa as causas, enquanto a adaptação mira nas consequências do aumento da concentração de gases contribuintes ao efeito estufa e os impactos nos sistemas naturais e humanos.

Objeto no centro da imagem em meio a um solo seco causado pelas mudanças climáticas, com árvores verdes no fundo
Secas intensas são um dos impactos das mudanças climáticas. [Imagem: Reprodução/Mídia Ninja]

Métodos Paliativos

Como explica Luara, essa solução tem como objetivo a redução ou a remissão dos gases do efeito estufa. Atualmente, a agricultura, silvicultura ou outras atividades que mudam o uso do solo são as mais poluentes.

Dentre as medidas citadas, estão a mudança das matrizes energéticas para as renováveis; as soluções baseadas na natureza, como a captura de gás carbônico e incorporação na biomassa por meio da fotossíntese; a extração de CO2 e posterior armazenamento no solo, no oceano ou como lixo espacial, e a geoengenharia, com a reflexão da luz do sol para o espaço.

Por outro lado, a adaptação climática é o processo de ajuste ao clima atual ou esperado, para moderar ou evitar danos climáticos. Um exemplo são as construções artificiais, como barreiras físicas para conter o nível do mar.

Essas estratégias, porém, não estão isentas de trade-offs: usinas eólicas são menos poluentes, mas podem alterar as correntes de ar e influenciar o percurso de aves migratórias. O barulho emitido também incomoda as populações locais.

A captação de carbono não é 100% eficiente e pode gastar mais energia do que ajudar o meio ambiente. “Temos de entender as estratégias para saber quais delas adotar”, diz Luara.

Como o ecossistema reage às mudanças

O risco às mudanças climáticas é diferente para cada ecossistema e para cada espécie. As mudanças climáticas podem favorecer ou desfavorecer espécies. Um exemplo, é o mosquito vetor da dengue, que tem sua reprodução favorecida pelo aumento da temperatura e a mudança no regime das chuvas.

Da mesma forma, Luara explica que o risco também é diferente para os sistemas humanos. Alguns lugares são mais vulneráveis, o que representa uma maior ameaça para essas populações: o aumento do nível do mar vai ser mais perigoso para ilhas e residentes de áreas litorâneas.

A sobrevivência de uma espécie em meio ao aumento da temperatura do planeta depende do seu nicho; das condições favoráveis para a espécie ocorrer e dos recursos disponíveis; dos aspectos abióticos, bióticos, e da capacidade de dispersão e aclimatação.

Reunião climática da Cúpula da ONU: uma simulação

Ao final do microcurso, Luara propôs uma atividade: uma simulação de uma reunião climática da Cúpula da ONU. Para isso, separou os participantes em três grupos, cada um representando um bloco de países, sendo eles países em vias de desenvolvimento, em desenvolvimento econômico rápido e os desenvolvidos.

A ideia era que cada grupo encontrasse soluções para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e redução da emissão de gases. A partir da análise de documentos e dados oficiais da ONU, os participantes pensaram em novas metas.

Os 30 minutos separados pela bióloga para a atividade não foram suficientes para que todos os grupos pensassem em como diminuir as emissões frente à situação socioeconômica de cada bloco. Isso demonstra a dificuldade de pensar em como prosseguir com a mitigação desses problemas. As metas necessárias muitas vezes não condizem com o quanto os países estão dispostos a mudar.

Luara, porém, não termina o microcurso de forma desesperançosa. Lembra que existem formas de mudar a situação se todos cooperarem. “Nós não entramos na biologia para ficarmos ricos. A gente tem o sonho de mudar o mundo”, finaliza.

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*Imagem de capa: Reprodução/Flickr

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