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30 anos do Dia da Paixão Palmeirense

Data celebra conquista decisiva para história do Palmeiras e explica sentimento do torcedor pelo clube

18 de agosto de 1976. Esse foi o último dia em que o torcedor palmeirense pôde gritar “é campeão” por quase 17 anos. Diferentemente dos anos de fila dos rivais, nem o título da Copa do Mundo com a seleção brasileira os palmeirenses puderam comemorar. Após vencer o XV de Piracicaba por 1 a 0 com gol de Jorge Mendonça e conquistar o Campeonato Paulista daquele ano, o Palmeiras ficou sem conquistar um título até o dia 12 de junho de 1993, no que ficou conhecido como o Dia da Paixão Palmeirense.

Torcedor palmeirense, Paulo Wagner Bomfim, 59, cita que “o Palmeiras era um time como o de hoje no início dos anos 70: invejável, organizado e que ganhava títulos todos os anos”. Com poucas lembranças da campanha do título paulista de 76, pois era muito pequeno, comenta que se recorda do gol de cabeça de Jorge Mendonça que deu o título contra a equipe piracicabana. A comemoração foi grande. Mal sabia Paulo que aquele seria o último título que o torcedor do Palmeiras comemoraria pelos conturbados 17 anos que viriam pela frente.

Os anos de fila e as “parmeradas”

Diante da situação próspera que o time vivia nos anos 1970, fica o questionamento: como uma equipe que vinha empilhando taças poderia passar por uma seca de conquistas tão longeva? O torcedor alviverde poderia imaginar essa possibilidade em 1976? Segundo Paulo, a resposta é que não. “Pela gestão, até 1976 não se imaginava esse loop de não conseguir sair da fila, mas a partir de 1979 começaram a aparecer rombos financeiros, desorganização e uma richa acirrada entre o pessoal do basquete e o pessoal do futebol. Tirando a ação do Márcio Papa, que montou alguns bons times, o Palmeiras conviveu com times medíocres nesse período”, lembra. 

Durante o período sem conquistas, o Verdão amargou três vice-campeonatos: para a Inter de Limeira e para o São Paulo, nos Campeonatos Paulistas de 1986 e de 1992, respectivamente, e para o Guarani, no Campeonato Brasileiro de 1978. Nas duas derrotas sofridas para os times do interior paulista, o torcedor Paulo, que estava presente no estádio do Morumbi no primeiro jogo da final do Paulista de 1986, conta que não acreditava no título em ambas as ocasiões: “mesmo com o time desorganizado, o Palmeiras chegou nas finais com a camisa pesada, mas não era mais time que o Guarani e que a Inter [de Limeira]”.

Inter de Limeira campeã paulista sobre o Palmeiras em 1986 (Foto: Reprodução/Rede Record)

Apesar da descrença de Paulo, boa parte da mídia e da torcida alviverde já pintava o Verdão como campeão paulista de 1986 e decretava o fim do jejum após a equipe eliminar o maior rival, Corinthians, na semifinal com um sonoro 3 a 0. Situações como essa seriam recorrentes durante os anos de fila, quando o Palmeiras sofreu com eliminações amargas para times considerados menores.

Ao longo desses 17 anos, tudo dava tão errado para o Palmeiras, que alguns torcedores projetavam uma fila até maior do que a do Corinthians, que ficou 23 anos sem nenhum título entre 1954 e 1977. A realidade do torcedor nos anos 1980 e no início dos anos 1990 era de inúmeros tropeços, que o palmeirense costumava chamar de “parmeradas” — jogos em que o time só precisava de uma simples vitória e empatava, ou que precisava de um empate e perdia.

Logo no ano seguinte ao título paulista de 1976, o Palmeiras foi eliminado na terceira fase do estadual e sequer se classificou para as fases finais do Brasileirão. Como se isso não fosse o suficiente, ainda viu seu maior rival sair da fila após 23 anos. Em 1979, com Telê Santana de treinador, mesmo depois de eliminar o brilhante Flamengo de Zico com um grandioso 4 a 1 no Maracanã e ter aplicado goleadas nos rivais Santos e Corinthians, o Palmeiras acabou eliminado na semifinal para o Internacional, que viria a ser o campeão. 

O jornalista e palmeirense Mauro Beting conta, em conversa ao Arquibancada a respeito de várias derrotas dolorosas sofridas no período da fila e cita nove eliminações frustrantes como torcedor. A primeira delas, foi o caso de doping de Mário Sérgio em 1984 (que teria sido dopado pelo médico do São Paulo, Marco Aurélio Cunha) que fez o Palmeiras perder pontos que custaram a eliminação do Campeonato Paulista. No Paulistão de 1985, o Palmeiras sequer avançou para as semifinais devido a uma virada sofrida para o XV de Jaú por 3 a 2. O resultado, que Mauro diz que não deveria ter acontecido, causou a eliminação precoce do campeonato estadual. O revés fez com que o alviverde amargasse a sétima colocação geral e deu a vaga à próxima fase à Ferroviária — naquela oportunidade, a vitória deixaria o alviverde na quarta colocação.

Já com uma sensação um pouco diferente, na segunda metade da década de 1980, Mauro também cita a boa campanha de 1986, mas que acabou com o já mencionado vice-campeonato para a Inter de Limeira. Outra derrota dolorida, porém esperada, segundo o jornalista, foi a do Paulista de 1987, na qual “o Palmeiras nunca ia ser campeão contra aquele baita time dos menudos do São Paulo” que tirou o Palmeiras na semi com um 3 a 1 no agregado. Um dos anos mais tristes, para Mauro, foi o de 1989, quando o Palmeiras caiu para o Bragantino no Campeonato Paulista e foi eliminado com apenas uma derrota depois de ter ganhado o primeiro e o segundo turno e recebido a Taça dos Invictos, por ter ficado 23 partidas sem perder.

Quanto aos anos iniciais da década de 1990, Mauro Beting lembra com pesar de “não conseguir ganhar da Ferroviária lanterna do grupo e não ir nem para a final o paulista de 1990”, quando bastava mais um ponto para a classificação. A não classificação do Verdão foi o que permitiu a “final caipira” entre Bragantino x GE Novorizontino. Nos dois anos seguintes, ele cita a dor tanto do regulamento, que tirou o Palmeiras da final de 1991, quanto de perder para o São Paulo campeão do mundo e da América em 1992.

Escalação do Palmeiras para a final do Paulistão de 1993 (Foto: Divulgação/Palmeiras) 

Expectativa para o clássico decisivo

Foi com todo esse histórico, todo o peso e toda a motivação para fazer história que o Palestra chegou para enfrentar o Corinthians no dia 12 de junho de 1993. Mauro Beting conta que, no final do quadrangular semifinal, a torcida palmeirense já cantava “não é mole não, chegou a hora de gritar “é campeão”. 

Antes mesmo do jogo de ida da final, que terminou em derrota por 1 a 0 com o “gol-porco” de Viola, a torcida palestrina já se encontrava muito animada e ansiosa, não por soberba ou certeza da vitória, mas porque acreditava muito que poderia sair do estádio do Morumbi campeão em cima do seu maior rival. Até mesmo a torcida do Corinthians reconhecia a superioridade do time do Palmeiras, que teve uma noite muito infeliz em 6 de junho, quando saiu derrotado.

Com todos os ingredientes para uma final quente, o Palmeiras fez 3 a 0 no tempo normal. Como o regulamento previa prorrogação com vantagem para a melhor campanha em caso de empate nos pontos das duas partidas, o Verdão confirmou o futebol apresentado nos 90 minutos e fez um 4 a 0 que virou até canção da torcida, posteriormente. Com dois gols de Zinho, um de Evair e um de Edílson, o Palmeiras encerrou a fila da melhor maneira possível e marcou o primeiro de muitos títulos da “Era Parmalat”, que seria uma das mais vitoriosas de sua história.

Como jornalista esportivo, Mauro Beting também exerceu seu papel pela “Sociedade Esportiva Jornalismo”, como ele gosta de dizer, nesse dia, e teve que esperar das 18h31 até às 21h55 para poder gritar “é campeão”. “Na hora que estava saindo das tribunas e passando pelas [cadeiras] cativas do Morumbi, eu lembrei que não gritava ‘é campeão’ desde 18 de agosto de 1976.  E eu não pude estar no Palestra Itália [em 1976] porque meu pai apresentava o Jornal Bandeirantes e não dava para ir ao jogo. A última vez que eu havia gritado ‘é campeão’ no estádio tinha sido em 20 de fevereiro de 1974, lá mesmo no Morumbi, com o meu pai, minha mãe, meus tios e meus primos, quando a Segunda Academia foi bicampeã brasileira”. 

O sentimento pela conquista

Mesmo um torcedor nascido nos anos 2000, que ainda que tenha passado por rebaixamento em 2012, eliminações doloridas para Goiás, Guarani, Ituano e Tijuana, por goleadas vexatórias para Mirassol, Coritiba e Goiás e que hoje vive uma fase maravilhosa, empilhando taças, vencendo rivais, goleando, jogando bonito e hipnotizando todas as gerações de torcedores, talvez não tenha a menor ideia da dureza que foi torcer para o Palmeiras entre 18 de agosto de 1976 e 12 de junho de 1993. Foram, simplesmente, 6142 dias sem ver o clube ser campeão. 

Para se ter uma ideia, para superar numericamente esse feito negativo, o Palmeiras teria que voltar a vencer um título somente em 2 de fevereiro de 2040. Mesmo assim,dificilmente haverá outro dia como o  12 de junho de 1993: o dia em que o Palmeiras saiu da fila, goleando seu maior rival, com mais de cem mil pessoas no Morumbi e em pleno Dia dos Namorados, ou melhor, Dia da Paixão Palmeirense.

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