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Entenda os títulos polêmicos do futebol brasileiro

Lugar de origem dos melhores jogadores da história, campeonatos competitivos e, é claro, muito entretenimento. Talvez essas tenham sido as principais características que fizeram do futebol brasileiro um fenômeno esportivo. Podemos não ter os maiores do mundo jogando aqui por muito tempo, mas se tem algo que não nos falta é história para contar. As …

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Lugar de origem dos melhores jogadores da história, campeonatos competitivos e, é claro, muito entretenimento. Talvez essas tenham sido as principais características que fizeram do futebol brasileiro um fenômeno esportivo. Podemos não ter os maiores do mundo jogando aqui por muito tempo, mas se tem algo que não nos falta é história para contar. As polêmicas, sem dúvida, contribuíram para isso. Motivo de muitas discussões entre torcedores, os títulos contestados sempre estiveram na raiz do nosso futebol. Aqui no Arquibancada você entende o motivo de tanta polêmica.

 

O Corinthians foi campeão mundial em 2000?

Time do Corinthians com a taça do Mundial de 2000
Elenco corinthiano com a taça do Mundial Fifa, janeiro de 2000 [Imagem: Reprodução/Twitter/Fifa]

Até 2012, a clássica rivalidade paulista entre Palmeiras e Corinthians tinha um gosto especial. Os alviverdes usavam o argumento de que o Corinthians era a única equipe, entre os grandes do estado, a não possuir uma conquista de Libertadores da América. Porém, a provocação não ia muito além disso. Isso porque os dois possuíam títulos mundiais contestados até aquele momento.

“Como é possível ter dois Mundiais com uma Libertadores?”. Junto a outros bordões do esporte, esse é um dos grandes questionamentos que os torcedores adversários, acostumados com o atual modelo de campeonatos mundiais, usam para acirrar rivalidades.

Na época, ainda eram poucas as equipes brasileiras consideradas campeãs mundiais. São Paulo e Santos saíam na frente com duas conquistas, seguidos de Flamengo e Grêmio com uma cada. O Palmeiras entra como um caso a ser visto mais para frente. Porém, o detalhe é que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) sempre se mostrou indecisa em relação a reconhecer ou não tais títulos.

Tudo isso por um simples motivo: aos olhos da Fifa, o que Santos, São Paulo, Flamengo e Grêmio conquistaram não foi bem um mundial.

“A Fifa não reconhecia até 2017 os Intercontinentais, porque eles não eram organizados por ela. Desde o primeiro em 1960 até o último em 2004, eles eram organizados pela Uefa e Conmebol. A Fifa passou a reconhecer de 2017 para cá o que era óbvio, não com a mesma importância que dá ao mundial de 2000 nem para a unificação de 2005” pontuou Mauro Beting, do Esporte Interativo, em entrevista ao Arquibancada.

O formato do Intercontinental era praticamente o mesmo: a cada temporada, os campeões de cada continente se encontravam para disputar o título mundial.

Usando uma ideia semelhante, foi criado, em 2000, o Mundial de Clubes Fifa. No torneio inaugural, a confederação de cada continente teria direito a indicar uma equipe para representá-la. Por ser país-sede, o Brasil convidou o Corinthians, bicampeão brasileiro em 1998 e 1999, e o Vasco, campeão da Libertadores de 1998.

“Para se vender um mundial no Brasil, você tinha que ter Rio de Janeiro e Maracanã” lembrou Celso Unzelte, da ESPN, em entrevista ao Arquibancada, se referindo à participação do Vasco ao invés do Palmeiras, campeão da Libertadores em 1999.

Também foi permitida uma indicação extra para a Uefa, que levou além do Manchester United, então campeão mundial, o Real Madrid. Isso porque o clube espanhol havia conquistado a Copa Intercontinental em 1998.

Na competição, participaram oito times divididos em dois grupos. O campeão de cada um iria disputar a grande final. A equipe paulista garantiu o primeiro lugar do grupo com duas vitórias, contra Raja Casablanca e Al Nassr, e um empate por 2 a 2 contra o Real Madrid. Vasco, por sua vez, ganhou os três confrontos contra o South Melbourne, Necaxa e Manchester United.

Disputada no Maracanã, quase dois meses depois da última Copa Intercontinental, a grande final terminou o tempo regulamentar em 0 a 0. Nas penalidades, o Corinthians de Marcelinho Carioca e Edílson Capetinha se sagrou o campeão do primeiro Mundial organizado pela Fifa em cima do Vasco de Romário e Edmundo.

Assim, estava criada uma das grandes polêmicas do futebol brasileiro: podemos considerar o Corinthians campeão mundial de 2000 mesmo que ele não tenha vencido uma Libertadores naquele ano?

Fato é que o formato desse torneio variou muito ao longo do tempo. Mudou tanto que a própria Fifa em alguns momentos já reconheceu aqueles não organizados por ela. É preciso entender, portanto, que o campeonato vencido pelo Corinthians tinha uma configuração diferente daquele conquistado pelo Santos de Pelé, que também se distinguia do que foi parar nas mãos de Rogério Ceni pelo São Paulo.

“Embora América do Sul e Europa sejam considerados os continentes mais fortes, o torneio entre eles não pode ser reconhecido como mundial. Ela [a Fifa] é uma mãe de seis filhos [entidades esportivas continentais]. Isso explica o fato da Fifa legitimar o mundial de 2000 e os posteriores, pois esses sim contavam com todos os continentes e eram organizados por ela” expõe Celso Unzelte, da ESPN.

A dúvida surge aqui, pois, no contexto atual, seria no mínimo improvável termos não só times convidados para um torneio mundial, como também duas equipes de um mesmo país. Mais do que isso, é difícil imaginar que um time participaria de uma competição como essa sem ter ganhado um campeonato continental vigente. Tanto que em novembro de 2010, o então presidente da Fifa, Joseph Blatter, admitiu um erro na formulação do certame.

“Reconheço o mundial de 2000 como título mundial e de expressão. É uma coisa que eu tive orgulho e que alterou o jeito que eu torço. Não é algo irrelevante. Mas o título de 2012 tem uma importância maior, pelo menos para mim” afirma Gabriel Kalman, torcedor do Corinthians.

A Fifa reconhece, até hoje, o Corinthians como o primeiro campeão mundial. Assim como Santos, São Paulo, Grêmio e Flamengo, o Corinthians enfrentou e ganhou, de um jeito ou de outro, campeões continentais naquele ano de 2000. Por isso, é impossível desqualificar uma conquista como essa.

 

O Brasileiro de 1987 é do Flamengo ou Sport?

Zico e Renato Gaúcho comemoram título da Copa da União, em 1987
Zico (à direita) e Renato Gaúcho (à esquerda) comemoram o título da Copa da União, dezembro de 1987 [Imagem: Celso Meira/Agência O Globo]

Dentre os casos aqui analisados, esse talvez seja o que provoque maior rivalidade. Se hoje, pernambucanos e cariocas desconhecem algum motivo para ter atrito, antigamente eles sobravam.

A origem do problema mais uma vez encontra-se na confusa organização de torneios. Diante dos problemas financeiros enfrentados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), os 13 principais times do Brasil (Atlético Mineiro, Cruzeiro, Bahia, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Botafogo, Vasco, Fluminense e Flamengo), o Clube dos 13, decidiram disputar um campeonato separadamente.

Foi criada, assim, a Copa da União (Módulo Verde) que agora também tinha a participação de Santa Cruz, Goiás e Coritiba. Enquanto isso, os times restantes realizaram um outro torneio (Módulo Amarelo) junto à CBF, uma segunda divisão.

No fim das contas, o Flamengo de Bebeto, Zico e Renato Gaúcho venceu o Internacional de Taffarel, Brites e do artilheiro Amarildo por 2 a 1 no placar agregado da final. Do outro lado, Sport e Guarani disputaram uma decisão bastante inusitada. Os pernambucanos e paulistas terminaram a disputa de pênaltis empatados em 11 a 11. Assim, ambos concordaram em “dividir” o título do Módulo Amarelo.

As coisas estavam praticamente decididas com o Flamengo campeão da Copa da União e Sport e Guarani dividindo o título do Módulo Amarelo da CBF. Algo atípico, mas relativamente compreensível se não fosse a diplomacia da Confederação.

Empenhada em encontrar somente um campeão nacional do ano de 1987, a CBF propôs para o Clube dos 13 um entrecruzamento de Módulos. Os campeões e vice-campeões de cada um dos grupos iriam se enfrentar para que fosse declarado um único campeão brasileiro.

Porém, questões administrativas complicaram ainda mais a situação. Enquanto Eurico Miranda, representante do Clube dos 13 na CBF, votou a favor do cruzamento de Módulos, outras lideranças foram veementemente contrários à decisão. Assim, Flamengo e Internacional se ausentaram das decisões contra Sport e Guarani, respectivamente.

“Um título que para mim deveria ser, em termos futebolísticos e históricos, ‘rachado’. É uma conquista discutível no campo esportivo e mais ainda no campo jurídico. Deploro os motivos elitistas do Clube dos 13 e deploro ainda mais a organização da CBF” analisou Mauro Beting.

Jornal do Brasil com machete que declara o Flamengo campeão do Módulo Verde
Capa de “Jornal do Brasil” indicando a conquista do Módulo Verde por parte do Flamengo, dezembro de 1987 [Imagem: Jornal do Brasil]

Por W.O. as equipes do Módulo Amarelo, Sport e Guarani, disputaram, entre elas, os últimos confrontos daquela competição. Depois de dois bons jogos, os pernambucanos comemoraram seu primeiro título de Campeonato Brasileiro.

Em 1994, a Justiça de Pernambuco reconheceu o Sport como único campeão de 1987. Em 2011, a CBF voltou ao jogo declarando, por incrível que pareça, o Flamengo como vencedor da competição. Depois de tramitar em tribunais da justiça por mais alguns anos, o processo chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que, em 2018, fez do Sport o único campeão de 87.

“O Sport é, do ponto de vista legal, campeão brasileiro de 1987. Porém, ninguém que acompanhou aqueles jogos discute que o verdadeiro Campeonato Brasileiro em termos de competitividade foi a Copa União, não o tal quadrangular da CBF nem o Módulo Amarelo” afirma Celso Unzelte.

Apesar de ora ser reconhecido ora não, o sentimento do torcedor perante um título não muda com tanta facilidade. O que aconteceu naquele ano foi que, por problemas estruturais da CBF, tivemos um sistema de campeonato nacional bastante confuso. Assim, não só flamenguistas, como colorados, atleticanos, santistas e outros naturalmente escolheram um campeonato nacional “verdadeiro” para valer como oficial. E por ter os melhores clubes do país, o escolhido foi o Módulo Verde. Mas é claro que decisões oficiais de entidades também têm seu peso na decisão final.

 

O Palmeiras tem mundial?

Elenco do Palmeiras em 1951
Elenco palmeirense campeão do torneio Rio Internacional, julho 1951 [Imagem: Divulgação]

Entre as grandes controvérsias da história do futebol brasileiro, o suposto mundial alviverde de 1951 ocupa uma posição especial. Caso ele seja de fato considerado, temos aqui o primeiro campeão mundial do Brasil; caso contrário, o Palmeiras se torna uma das maiores potências do futebol nacional sem nunca ter conquistado o mundo. É uma questão delicada que envolve, assim como as outras aqui discutidas, a história, mas que não desconsidera uma certa subjetividade.

Na virada da década de 40 para 50, o secretário geral da Fifa, Stanley Rous, e alguns membros da imprensa esportiva sugeriram à Confederação Brasileira de Desportos (CBD e futura CBF) a realização de um “torneio de campeões de todos os países filiados à Fifa”. Batizado de Copa Rio Internacional, ele ficou conhecido como a primeira competição de futebol a abranger clubes em escala mundial, tendo surgido antes da Libertadores, Liga dos Campeões da Europa e da famosa Copa Intercontinental.

O torneio seria disputado por oito equipes. Para escolhê-las, teríamos os campeões dos dois principais estados do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) – já que ainda não tínhamos uma competição nacional – de Portugal e dos países mais bem colocados na Copa do Mundo de 1950.

Vale lembrar que, na prática, a Fifa não organizou a Copa Rio Internacional, apesar de influenciar na idealização, pois não se tratavam de seleções, e sim de clubes. Era um torneio da CBD.

Deslumbrados pela ideia de ter uma competição interclubes mundial, integrantes de Palmeiras (BRA), Vasco (BRA), Áustria Viena (AUS), Nacional (URU), Sporting (POR), Nice (FRA), Estrela Vermelha (SER) e Juventus (ITA) tinham presença marcada para o campeonato de 1951, disputado no Brasil logo após o país ter sediado a Copa do Mundo de 1950.

“A primeira Copa Rio, sim, teve participação da Fifa. Considerar como mundial é outra coisa. O que não se pode jamais é desprezar a conquista, que é a primeira intercontinental do futebol brasileiro, em nível de clube e seleção. Nenhum mundial da Fifa teve tantas equipes boas como a Copa Rio de 51” afirma Mauro Beting.

Os oito times foram divididos em dois grupos, sendo que as duas melhores campanhas em cada um garantiriam uma vaga nas semifinais. No primeiro grupo, o Vasco venceu todas, ganhando do Nacional por 2 a 1 e goleando Sporting e Áustria Viena. O Palmeiras se classificou em segundo lugar de seu grupo, ficando atrás somente da Juventus, depois de ser goleado por 4 a 0 pelos italianos.

Depois de passar por Vasco nas semifinais, o Palmeiras teria pela frente a Juventus do histórico Boniperti. A equipe paulista de Salvador, Túlio e Jair Rosa Pinto surpreendeu e venceu os bianconeri por 1 a 0 na ida e empatou por 2 a 2 na volta, para 116 mil pessoas. No dia 22 de julho de 1951 o Palmeiras alcançava uma conquista inegavelmente histórica.

“Na época foi tratado como um título mundial, envolvia times do mundo todo. Tanto que o Brasil tinha perdido no ano anterior a Copa na sua própria casa e no ano seguinte o Palmeiras ganhou em um Maracanã lotado. Lá tinham torcedores que foram apoiar o time brasileiro. Chame do que quiser, mas é um título mundial” pontuou Luciano Bueno, torcedor do Palmeiras.

Apesar de ser impossível desconsiderar o sentimento de um torcedor perante a história de seu clube de coração, ainda é válido consultar entidades oficiais. A Fifa contribuiu muito para a elaboração da Copa Rio de 1951, tanto que foi das mãos de Ottorino Barassi, um de seus principais dirigentes, que os jogadores alviverdes receberam a taça. Mesmo assim, Jules Rimet, então presidente da Fifa, afirmou ao jornal espanhol “El Mundo Desportivo” que a Copa Rio não foi submetida a sua entidade, e sim à CBD.

Por outro lado, não são raros os casos de jornais da época que consideravam o torneio de 1951 como um campeonato mundial.

Capa do jornal Gazeta Esportiva que declara o Palmeiras como campeão mundial de 1951
Capa do jornal “Gazeta Esportiva” de 23 de julho de 1951 [Imagem: Gazeta Esportiva]

Oficialmente, a Fifa não reconhece assim. Recentemente, o presidente da entidade, Gianni Infantino, afirmou que considerar como mundial a conquista de 1951 seria um “milagre”. Apesar disso, em 2014, Joseph Blatter reconheceu o Palmeiras como primeiro campeão mundial. Oficialmente, depois de uma solicitação da CBF à Fifa naquele ano, uma ata do Comitê Executivo da Fifa ressaltou “concordância com pedido da CBF para reconhecer o torneio entre clubes europeus e sul-americanos vencido pelo Palmeiras em 1951 como o primeiro Campeonato Mundial de Clubes”.

Na área onde se encontram listados os clubes campeões mundiais no site da Fifa, porém, não há nenhuma menção nem ao Palmeiras nem aos demais clubes brasileiros vencedores das Copas Intercontinentais. 

“Eu particularmente acredito que as coisas tem que ter os nomes que tinham nas suas épocas, até para serem valorizadas. Eu vejo uma má-intenção em toda tentativa de uniformização e de mudança de nomenclatura. A história não admite esse tipo de coisa” opina Celso.

Assim, entramos em mais uma polêmica que parece não ter fim no futebol brasileiro. Enquanto a Fifa se alterna em reconhecer ou não títulos, os torcedores ganharam munição para continuar com apaixonantes rivalidades. O Palmeiras, assim como o Corinthians, não ganhou uma Libertadores para chegar ao mundial como os outros clubes o fizeram. Mas é inegável que ambos conquistaram algo intercontinental.

“Como qualquer questão no futebol, o torcedor e principalmente o jornalista tem que saber defender sua tese. Discordo de quem não sabe a história. Você precisa saber da história para poder discutir. Não são feitos, são fatos. Times deram voltas olímpicas” dissertou Mauro.

Para complementar a relação torcedor e clube no que se refere a títulos polêmicos, Luciano afirma: “O torcedor acredita nas glórias que ele acha que tem que acreditar. Tem as brincadeiras dos rivais, mas alterar [a experiência como torcedor] não cabe”.

É assim que o flamenguista também pode comemorar torneio nacional de 1987 e o mesmo pode ser dito para o torcedor do Sport. Palmeirenses, corinthianos e qualquer outro torcedor fanático pelo Brasil também vão saber quando comemorar uma conquista. São esses tantos e outros casos controversos, mas intrigantes, que mantêm a história do nosso futebol viva e autêntica.

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