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Os Gaviões também protestam

Por Camilla Freitas O fim de tarde da última sexta feira em São Paulo se comportava como um fim de tarde qualquer comparado aos outros dias: quente e inseguro. A temperatura acima dos 30 graus estava tanto nos termômetros de rua quanto no ânimo de quem discute os trâmites da política nacional. E foi exatamente …

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Por Camilla Freitas

Inspirados pela Democracia Corinthiana, torcedores protestaram pela democracia do país (Foto: Luis Eduardo Nogueira)
Inspirados pela Democracia Corinthiana, torcedores protestaram pela democracia do país (Foto: Luis Eduardo Nogueira)

O fim de tarde da última sexta feira em São Paulo se comportava como um fim de tarde qualquer comparado aos outros dias: quente e inseguro. A temperatura acima dos 30 graus estava tanto nos termômetros de rua quanto no ânimo de quem discute os trâmites da política nacional. E foi exatamente nesse cenário turbulento que Chileno foi para o Vale do Anhangabaú protestar contra atos da política, mas não aqueles relacionados à discussão polarizada referente ao Impeachment ou não da presidenta Dilma Rousseff; sua reivindicação era outra.

Chileno e outros mil corintianos se juntaram em frente à Prefeitura de São Paulo para protestar contra os abusos nos preços dos ingressos dos jogos de futebol, contra o que eles chamam de “futebol moderno” – em outras palavras, a modernização dos clubes que trouxe altas ao preço dos ingressos, contra a corrupção na Federação Paulista de Futebol (FPF) e na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), contra os horários dos jogos, contra a repressão sofrida por eles pela Polícia Militar, e, para a surpresa de alguns, contra o “escândalo das merendas”. “Querendo ou não, nossas crianças são carentes, o Brasil é carente de estudo, então você chega numa escola e não tem merenda pra se alimentar… fica um caso complicado” disse o próprio Chileno a respeito desse assunto, no qual ele se mostrou muito comovido.

A gestão da Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians e articuladora desse protesto, confirma o lado social dessa pauta, mas traz a ela novos contornos. O principal investigado (e possível culpado) pelo escândalo da falta de merenda, devido a seu furto em algumas escolas da rede pública do estado de São Paulo é o mesmo cidadão que elaborou um projeto de lei que criminaliza todas as torcidas organizadas: Fernando Capez, do PSDB. Logo, torna-se entendível o porquê de tal reivindicação em meio a tantas ligadas apenas ao futebol. “Nós fomos muito criminalizados pelo senhor Capez, quando ele taxou todo torcedor organizado de bandido, e de repente ele está envolvido [em corrupção]”, disse com entusiasmo Luíz Mezher, o Magrão, ex-presidente da organizada alvinegra.

O protesto, marcado para ter início às 17h, começou a ganhar corpo logo às 18h quando líderes dos Gaviões como o atual presidente Rodrigo de Azevedo Lopes, o Diguinho, e o fundador, Chico Malfitani subiram no carro elétrico, que antes tocara hinos da torcida, além de uma música do grupo de rap Facção Central que dizia “Aí, promotor, o pesadelo voltou”. Ambos os líderes discursaram para inúmeros torcedores eufóricos, ao som da bateria que uma vez ou outra puxava canções com os dizeres “Eu não roubo merenda, eu não sou deputado, trabalho todo dia, não roubo meu estado” e “contra todo ditador que no futebol quiser mandar, os gaviões nasceram pra poder reivindicar”. Além disso, fogos de artifício, bandeirões e sinalizadores estiverem presentes em todo o ato – lembrando que, atualmente, todos esses objetos estão proibidos nos estádios de futebol.

Diversos torcedores  lotaram o Vale do Anhangabaú para protestar (Foto: Luis Eduardo Nogueira)
Diversos torcedores lotaram o Vale do Anhangabaú para protestar (Foto: Luis Eduardo Nogueira)

“Aonde vocês acham que tem mais marginal, na Gaviões ou na CBF, na Federação Paulista de Futebol? Aonde tem mais gente que avança no dinheiro público, no meio da Gaviões ou no gabinete dos deputados e nos gabinetes dos governos do estado? Aonde tem mais criminosos, no meio da Gaviões ou, infelizmente, naqueles setores da Polícia Militar que fazem chacinas na periferia de São Paulo? Então, isso tem que ficar muito claro, aqui não é lugar de bandido!” declarou Malfitani, o fundador, em um tom agitado, sendo interrompido inúmeras vezes pelas manifestações dos torcedores e pelos batuques da bateria. Além dessa, foram muitas as falas que exemplificavam o motivo de todos estarem ali, de toda aquela movimentação. E dentre muitas alfinetadas ao governo do estado, estavam críticas também aos que o próprio Chico chamou de “coxinhas da numerada”, fazendo clara referência aos torcedores de classe mais abastadas que, segundo ele, estão tomando o lugar do povo no estádio graças ao preço abusivo dos ingressos.

Por estar nos Gaviões a mais de uma década, Chileno também entende que as arquibancadas andam mudando e se posiciona contra isso: “O fiel torcedor é vantajoso pro clube, sim, mas ele não é vantajoso pro povo corinthiano, o povo corinthiano acaba ficando de fora do estádio através desse fenômeno. O corinthiano comum não tem acesso, o corinthiano comum, que é povão, que é a torcida do Corinthians que sempre foi, não tem acesso a uma internet. Hoje nós não temos mais bilheteria, antigamente ainda tinha a bilheteria, e a gente via mais o povo corinthiano dentro do estádio”. Depois de me dizer algumas dessas palavras, alegou que voltaria para seu vinho, e foi embora para se camuflar em meio a um “bando de loucos” conscientizados com a precariedade do futebol e da sociedade atual. Diferente de André Fernando, torcedor comum (não vinculado a nenhuma organizada) que estava ali para lutar contra a propina da merenda e contra a decisão da justiça de manter torcida única nos clássicos (pauta também abordada no protesto) – ele disse achar difícil uma manifestação como aquela mudar algo de imediato. A esperança de Chileno e da maioria dos presentes era maior, mas só com o tempo veremos quais as consequências de todas essas reivindicações.

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