Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Após sair de um bar paulistano, Isabel (Marina Ruy Barbosa), é feita refém em seu carro por Matheus (Sidney Santiago) e Japonês (Daniel Rocha). A intenção dos dois inicialmente é apenas roubar o dinheiro da garota e depois deixá-la, mas os planos mudam quando ao chegar ao caixa eletrônico eles não podem sacar, pois já estão fechados. Assim, começa uma noite de terror de um crime recorrente na capital de São Paulo.
Apenas entre os meses de janeiro e abril de 2017, São Paulo registrou 129 casos de sequestros-relâmpago, de acordo com dados levantados pela GloboNews. O enredo de Sequestro Relâmpago (2018) é baseado em um caso real acontecido em São Paulo. No entanto, a forma como foi interpretado e construído deixa a desejar.
Primeiramente, os dois sequestradores são inexperientes no mundo do crime. Eles mal sabem o que estão fazendo, brigam entre si por motivos bobos e demonstram inseguranças em boa parte do longa, o que é percebido por Isabel que usa falhas dos dois ao seu favor.
Um bom exemplo disso é quando descobrem que não conseguirão sacar o dinheiro. Nessa brecha, a personagem de Marina consegue sair e pedir ajuda para um guarda que estava de plantão. No entanto, Matheus chega e fala que ela é a noiva dele e que apenas bebeu o suficiente para estar agindo assim. O guarda (que no filme interpretou muito bem um papel machista ainda presente na sociedade brasileira) acreditou no papo do bandido e nem tentou checar a situação.
Aliás, o filme é preenchido por vários momentos de sorte dos bandidos. Eles passam por uma blitz sem que o carro seja parado, estão em uma lanchonete com policiais e nada acontece e escapam de uma casa de tráfico de carro ilesos, apesar de o dono inicialmente querer matá-los.
Isabel, se mostra muito inteligente e consegue manipular a inexperiência dos dois ao seu favor, e chega a fugir para pedir ajuda algumas vezes, mas é sempre mal compreendida ou não a levam a sério.
Por outro lado, é difícil imaginar que aquelas cenas são de fato reais – mesmo sendo baseadas em um sequestro que realmente ocorreu. Isabel não parece estar realmente tensa e sob a mira de dois caras armados o tempo todo. No início, ela se mostra preocupada, chega a chorar e tentar negociar com os dois, mas ao longo dos acontecimentos às vezes parece que ela só esqueceu qual é a real situação e chega a se divertir com os dois.
O cenário usado como fundo são bairros de São Paulo, o que nem impressiona nem decepciona. Eles só passam pelos locais na maior parte do tempo, e aqueles em que passam um período maior podem fazer parte de qualquer lugar da cidade, sem nada de especial ou marcante.
Mesmo tendo todo o espaço e possibilidade para isso, o filme acaba não surpreendendo. Talvez até decepcione quem espera ver algo mais próximo do real, daquilo que se passa com pessoas que são sequestradas e vivem horas de tensão.
Para essa humilde pessoa que vos fala, algo essencial em um filme nacional desse tipo é, além de ser baseado em algo que realmente ocorre, representar as pessoas que sofrem sequestros relâmpagos, o que não ocorre no longa.
Sequestro Relâmpago estreia dia 22 de novembro nos cinemas nacionais, veja o trailer:
por Thaislane Xavier
thaislanexavier@usp.br