Karen vive o passado, Lucy, o futuro e Elizabeth, o presente. Porém as três mulheres têm algo em comum. Suas vidas serão para sempre marcadas por um mesmo ato determinante e inesperado. Essa é a história – ou histórias – de “Destinos Ligados” (Mother and Child), do diretor Rodrigo García.
Karen (Annette Bening), profissional da saúde, dedica os dias a cuidar de idosos, inclusive de sua mãe já enferma, com quem vive. Engravidou aos 14 anos e deu a filha para a adoção. Anos se passam, e a decisão tomada no passado pueril e inconseqüente condiciona uma vida de dúvidas, incertezas e rancor. Uma vida inteira revivendo o passado.
A gravidez inesperada para a adolescente nos anos 70, é o desejo de Lucy (Kerry Washington) nos dias atuais. Impossibilitada de ter filhos, inesperadamente estéril, a doceira decide adotar uma criança, enfrentando um longo e seletivo processo preparado pela jovem mãe biológica, ainda grávida e decidida a encontrar os melhores pais para o bebê.
Já a bem sucedida advogada Elizabeth (Naomi Watts) acaba de retornar para sua cidade natal. Apagou seu passado, superou a dolorosa infância nas mãos de pais adotivos e constituiu-se uma mulher independente e determinada. Vive o presente de forma indiferente e impassível, mantendo um controle impecável de sua carreira profissional, de sua vida pessoal e dos homens ao redor a quem encanta.
Mas o inesperado atinge até mesmo a vida tão planejada e promissora de Elizabeth. A despeito da cirurgia para não engravidar, realizada ilegalmente quando menor de idade, descobre que espera um filho do chefe, com quem mantinha um caso.
E assim, de surpresas, dramas familiares, traumas, romances perdidos e descobertos, as tramas das vidas das três mulheres se desenvolvem e cruzam em um ponto crucial: a adoção. O passado, perturbador para Karen, amargurado para Elizabeth, vem à tona, torna-se o presente incontrolável, o futuro incerto.
O inesperado que permeia a vida das três mulheres, talvez não seja tanta surpresa para o espectador, conforme o (longo) desenrolar do filme. A abordagem sem moralismos e julgamento de valores, porém, revela a delicadeza do tema, a fragilidade de todos os personagens envolvidos. Não desta história, mas de todos os destinos ligados pela adoção.
Por Beatriz Montesanti